quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Alexandre Nero quer fazer papel de gay


Ele é truculento, machista, estourado e bate tanto na mulher que nessa semana foi para a cadeia na novela das 21h "Fina Estampa". No entanto, o intérprete do motorista Baltazar, Alexandre Nero, diz que, no fundo, seu personagem é extremamente dependente da mulher. Também diz que a rejeição das pessoas o deixa carente e que adoraria fazer o papel de um gay. Leia, abaixo, a entrevista exclusiva com o ator para o UOL:

Embora seja violento, o Baltazar foi aprovado pelas 45 mulheres que foram ouvidas em São Paulo no 1º grupo de discussão que avaliou “Fina Estampa”. Ele perdeu na preferência das telespectadoras apenas para René (Dalton Vigh) e Crô (Marcelo Serrado). A que você atribui esse sucesso do personagem junto ao público feminino?
Eu não li nada ainda sobre esse grupo de discussão, então não posso afirmar nada. Mas acho que pode ser porque a população brasileira ainda é muito machista e acha que a educação que ele dá para a filha Solange [Carol Macedo] é certa. Essa coisa de não poder dançar funk, não poder usar roupas mais justas, muita gente concorda com aquilo. E acho também que as pessoas confundem um pouco o ator com o personagem. Eles sabem que esse homem, o Baltazar, sou eu, o Alexandre, e transferem o carisma do ator.

O Baltazar bate na mulher e é quase um monstro com a filha adolescente. Como foi o processo de criação desse personagem?
Eu fui atrás para saber o que esses homens pensam. Eu não defendo o personagem, eu fui tentar compreender o que se passa pela cabeça dessas pessoas. Se eu for fazer um assassino, eu preciso entender o que se passa na cabeça de um assassino, por que essas pessoas matam. No caso do Baltazar, eu precisava saber por que ele agride e, às vezes, tentar até matar como foi o caso em algumas cenas. Esses homens perdem a cabeça, não têm controle de si, acham que têm o direito de controle sobre as mulheres. Quando elas casam, eles não são assim, são amorosos e felizes. Mas as coisas vão acontecendo e perdem o foco. E viram íntimos ao ponto de achar que um pode controlar a vida do outro.

É verdade que o Baltazar é extremamente carinhoso com a Celeste entre quatro paredes? Você acha que o personagem terá o mesmo fim de outros agressores na novela ou, por conta dessa doçura, ele poderá mudar e até passar a ter uma relação sadia com a mulher?
Essa é uma pergunta para o Aguinaldo [Silva, autor]. Eu acho que seria muito bacana se ele se regenerasse. Como ator, gostaria de fazer um personagem que vai se regenerar, mas confio plenamente no Aguinaldo e, com certeza, o que ele escolher para o Baltazar vai ser o justo. Estou preparado para ser punido. Mas essas pessoas têm problemas psicológicos. Eles estão doentes, o homem e a mulher precisam de ajudam. Afinal eles se gostam, mas levaram para o lugar errado.

Em “A Favorita”, você interpretava o verdureiro Vanderlei, que se relacionava com Catarina (Lilia Cabral), que vivia apanhando do marido. Agora seu personagem bate na mulher. De uma forma ou de outra, a violência à mulher te persegue. Como ator, é melhor ser o que bate ou o que consola quem apanha?
O que consola quem apanha. Bater é terrível. Cansa emocionalmente, cansa fisicamente. As pessoas olham torto na rua, a gente se sente mal. Espero que demore bastante para acontecer de novo. Quando a gente faz um personagem bonzinho, as pessoas amam a gente gratuitamente, acham a gente lindo, uma gracinha. E agora não, eu sou um malvado. E isso é ruim.

Por que você acha que o Baltazar é assim com a filha e a mulher? Machismo, insegurança, ciúme?
Eu acho que é um misto de tudo. Pelos estudos que tive desses homens e, ao contrário do que tudo mundo pensa, são os homens que dependem dessas mulheres e não as mulheres que são dependentes desses homens. Eles têm pavor de perder as mulheres, têm muito ciúmes delas e chegam a morrer com a ausência delas. Por isso o desespero, por isso ele a ameaça de morte se ela resolver deixar ele. Porque eles são extremamente dependentes delas. São extremamente inseguros.

No “Domingão do Faustão” do último dia 16 de outubro, você disse que gostaria de ser abraçado nas ruas. O que você tem escutado do público? Você acha que as pessoas hoje em dia sabem separar o ator do personagem?
A maioria sabe separar. E isso talvez seja o porquê de estar no terceiro lugar. O clima é de brincadeira, mas existem pessoas que realmente falam: “Olha lá, vai apanhar” ou “Tenho vontade de bater em você”. Escuto o dia inteiro. Aonde eu vou, escuto: “Olha o cara da novela, o cara agressivo, o cara que bate em mulher. Ai, quero bater nele. Violento, malvado. Ai, que raiva tenho dele”. Eu sei que não sou eu, mas é para mim que eles estão falando. Então é por isso que eu falo: “Gente, para de falar isso e me abraça porque eu tô carente” [risos].

Depois de um dia intenso de gravação na pele do Baltazar, você se sente pesado quando vai embora para casa? O que faz para relaxar?
Não faço nada. Converso com amigos, vou ao cinema, esqueço um pouco disso. Faço outras coisas, mas saio muito pesado mesmo. É claro que divido as coisas. Eu gostaria de deixar nos estúdios, mas as pessoas me param na rua, falam e não me deixam esquecer.

Alguma mulher já te parou na rua para dizer que tinha um marido como o Baltazar? O que você escuta do público feminino?
Sim. Uma pessoa me parou na rua e falou. Eu curiosamente perguntei mais sobre o assunto e perguntei por que ela ficava com o marido; ela disse que era porque gostava muito dele, que se divertiam e que a relação, no início, era feliz e saudável. Mas ele era muito ciumento e perdia a cabeça, ameaçando-a de morte quando ela pensava em deixá-lo. Ela disse que demorou muito para se desvencilhar dele. Outra vez, um homem me disse que se identificava muito com o Baltazar.

O Baltazar apresenta traços de homofobia. Você acha que ele pode ser um bissexual enrustido? Principalmente porque existe um mistério sobre quem mantém um romance com o gay Crô (Marcelo Serrado). Será que é ele?
Acho que por ser uma novela, sim, ele pode ser homofóbico ou ter traços de bissexualidade enrustida, assim como a maioria diz. Mas eu discordo totalmente que a agressividade dele seja por conta disso; eu acho que assim como a homofobia, a intolerância religiosa ou racismo vêm da ignorância, da falta de instrução, da falta de ciência das coisas. O que falta é convivência. Quem convive com o diferente, passa a achar parecido ou respeitar as diferenças. Tudo é questão de cultura e educação.

O que você acha dos homens que usam a força física para controlar suas mulheres?
É repugnante usar a força física para qualquer coisa. Agressividade verbal ou física é repugnante. E não só do homem contra a mulher, mas o contrário também. Homens e mulheres com esse perfil precisam de ajuda.

Fora a novela, você estreou o longa “Novela das Oito”, é músico e está em cartaz com o espetáculo “Você Precisa Saber de Mim”. Como faz para conciliar as gravações da novela com a música e o teatro?
É enlouquecedor. Não tenho tempo para nada. O filme já foi feito. O CD estou lançando em novembro. Não farei show porque estarei gravando. Mas assim que acabar a novela, vou tentar fazer shows de lançamento.

Qual é a melhor parte de ser ator? E a pior?
A melhor é poder viver outras experiências, extravasar de uma maneira enlouquecedora sem ser um criminoso. O ator tem o álibi de ser o que quiser. A pior é que você nunca sabe se é um ator. Nunca sabe se é verdade ou se está atuando. É uma profissão subjetiva e a mais difícil do mundo. Um traço muito perto da loucura.

O que mudou na sua vida depois que ficou famoso?
Fama é diferente de sucesso. Sucesso é uma coisa que te dá alicerce e respeitabilidade pelo que faz. Fama é uma coisa extremamente vazia. As pessoas te conhecem não sabem de onde, te confundem com alguém, com um sobrinho. A fama não me trouxe absolutamente nada de bom. O sucesso sim. É por isso que continuo trabalhando. A fama só incomoda, as pessoas querem saber sobre a sua vida particular a qualquer custo. Na fama, as pessoas te amam ou te odeiam gratuitamente.

Você tem vontade de fazer algum personagem diferente dos que já viveu na TV? Qual?
Agora estou louco para fazer um bonzinho. Também gostaria de fazer um gay ou comédia caricata. Coisas distantes da minha realidade.

Fonte: UOL

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