sábado, 29 de janeiro de 2011

"Vale tudo": como se constrói um sucesso


O que faz a reprise de uma novela ter mais sucesso do que novas produções? A receita é simples: basta somar uma ótima história à interpretações brilhantes e temas mais que atuais.  

Quando o canal Viva (Globosat) estreou na TV por assinatura prometendo trazer de volta ao ar produções que caíram no gosto popular, já sabíamos que era uma jogada de mestre. Ainda mais pelo fato de há anos o telespectador reclamar que as reprises da Globo, no Vale a Pena Ver de Novo, eram muito recentes. E por conta disso, não dava tempo de sentir saudade.

E se não bastasse voltar bem mais ao tempo, o Viva ainda foi além na sua ousadia e trouxe de volta à telinha não apenas novelas, como também minisséries e programas de teledramaturgia, auditório e humorísticos. Resultado: conquistou um público fiel.

Para agradar ainda mais esse público, desde outubro de 2010 o canal colocou em sua grade um dos melhores produtos já realizados pela casa. Estou falando da novela Vale Tudo, que hoje é apontada como uma das melhores atualmente no ar.

Lançada em 1988 no horário nobre da Globo, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, tinha em seu elenco principal um grupo de peso formado por Regina Duarte (Raquel), Antônio Fagundes (Ivan), Reginaldo Faria (Marco Aurélio), Glória Pires (Maria de Fátima) e Beatriz Segall. Essa última no papel da mais famosa vilã da teledramaturgia, por mais de 20 anos, a temida Odete Roitman.  

A novela dá o pé de largada em Foz do Iguaçu, onde Raquel mora com o pai Salvador e a filha Maria de Fátima. Ambiciosa, Maria de Fátima vê a chance de melhorar sua vida com a morte do avô, já que o mesmo pôs a casa, único bem da família, em seu nome.  

Sem pensar duas vezes, ela vende o imóvel e viaja para o Rio, deixando sua mãe totalmente desamparada. Chegando lá, se junta ao michê Cesar (Carlos Alberto Riccelli) e começa a traçar planos para subir na vida. O que inclui casar com Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes), grande herdeiro de Odete.

No outro lado dessa balança está Raquel, mãe de Fátima. Ela também se muda para o Rio e consegue melhorar de vida, só que trabalhando honestamente. Passa de vendedora de sanduíches na praia à dona de restaurante. Mas sem nunca esquecer uma promessa, a de que um dia sua filha iria cair do pedestal. E ela seria a primeira a dar uma gargalhada

Vale Tudo tinha como foco a corrupção. Não foi a toa que levantou a pergunta: “até que ponto valia a pena ser honesto no Brasil”? Além disso, discutia questões comportamentais como alcoolismo, formação de caráter e sexualidade.

Lançada no final da década de 80, época em que muitos tabus estavam fortalecidos, trouxe à tela o primeiro casal lésbico na história da teledramaturgia. Cecília (Lala Deheinzelin), irmã de Marco Aurélio e Laís (Cristina Prochaska).

Apesar de tratar do tema com muita delicadesa, o autor optou por separar o casal matando Cecília. Polêmica ou não, segundo a atriz Cristina Prochaska a morte já estava no roteiro original.

Mas o ponto forte da novela era mesmo os vilões. E falo no plural porque, diferentemente da maioria dos folhetins, Vale Tudo tinha vários deles, porém em graus diferentes.

A começar pelo casal café com leite Maria de Fátima e Cesar, que faziam falcatruas previsíveis, mas que davam certo porque batiam de frente com pessoas ingênuas demais. Passando pelo mediano Marco Aurélio até chegar em Odete Roitman, a vilã que nunca precisou pegar em uma arma para se consagrar no posto.

Seu ponto forte era a frieza, somada a belas doses de sarcasmo e deboche. Era capaz de humilhar, sem perder a pose e o humor. O que acabava tirando, não diria gargalhadas, mas um sorriso no canto de nossos lábios. Levantando a questão do maniqueísmo, nos levando a crer que ninguém é bom, nem mau, todo o tempo.

Em alta

- A novela teve como títulos provisórios o nome Bufunfa e Pátria Amada.

- A trilha sonora trouxe grandes nomes da música brasileira como Maria Bethania, Gonzaguinha, Cazuza e Gal Costa.

-  Sua abertura foi criada pela equipe de Hans Donner. Ao som de "Brasil", música de Cazuza, Nilo Romero e George Israel, interpretada por Gal Costa, um mosaico de imagens compunha o retrato do país e ao final, surgia a bandeira brasileira.

- No capítulo 193, que foi ao ar no dia 24 de dezembro de 1988, em pleno Natal, a vilã Odete Roitman foi assassinada com três tiros.

- “Quem matou Odete Roitman?". O mistério de seu assassino durou 13 dias, o suficiente para dominar conversas e televisores de todo o país.

Melhores cenas

- Quando Raquel rasga o vestido de noiva da filha e lhe joga uma praga.

- A morte de Odete Roitman.

- A fuga de Marco Aurélio, no final da novela, brindada com uma banana que ele dá ao país.

Fonte: Tatiana Bruzzi

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