quarta-feira, 30 de março de 2011

Aguinaldo Silva cogita abandonar as novelas


Sem papas na língua, Aguinaldo Silva é enfático quando diz que o Brasil não sabe fazer seriados. Mesmo sendo esse o formato escolhido para Lara com Z, espécie de continuação de Cinquentinha, minissérie produzida e exibida em 2009 pela Globo. De qualquer forma, esse parece ser o caminho que o autor quer seguir no futuro. Ainda mais porque, aos 66 anos, Aguinaldo já deixa no ar a ideia de abandonar as novelas em breve. "Vou terminar Fina Estampa e, depois, paro para pensar", entrega ele, que já escreve os primeiros capítulos da história que substituirá Insensato Coração na Globo a partir de 15 de agosto.

Às vésperas de estrear uma novela, você escreve 14 episódios de um seriado. O que o fez emendar esses dois trabalhos?
Adoro fazer seriado. Sou completamente viciado nesse produto. Há anos que estudo os que são feitos pelos americanos e acho, sinceramente, que nós ainda não fazemos seriados no Brasil. Produzimos espécies de sitcoms, programas baseados em esquetes, mas que ainda não são seriados. Um seriado que vejo e revejo sempre é Família Soprano. Se bem que, para fazer Cinquentinha e Lara com Z, pensei muito mais no Donas de Casa Desesperadas, que é uma série que fica no meio termo entre um seriado e uma novela.

Você costuma levantar a questão da renovação de autores na tevê. Os seriados podem ser uma saída para os mais experientes?
Escrever novela é um trabalho terrível. É fisicamente desgastante. Não é nem o sentar lá e ficar pensando nos personagens, mas sim o ato físico de escrever. Passar horas na frente do computador é cansativo e chega uma certa idade em que seu corpo não responde mais para isso. A gente sente essas coisas em algumas produções. Percebe-se que alguns autores não têm mais condições de dar o que eles podem e, principalmente, o que o talento deles merece.

Para isso, é preciso que uma nova geração de autores seja criada. Você enxerga possíveis sucessores?
Acho que essa geração tem de ser formada ainda, mas temos autores mais jovens, como o João Emanuel Carneiro e o Walcyr Carrasco. Isso sem falar no Ricardo Linhares, que é excelente. Não entendo por que o Ricardo não escreve suas próprias histórias e gosta de ser o segundo das suas novelas. Ele é talentosíssimo. Mas, fatalmente, um dia essas pessoas vão ter de assumir determinadas posições.

Você já planeja sua aposentadoria?
É difícil saber a hora certa para fazer isso. Temos autores de 80 anos que não querem se aposentar. Acho brilhante, uma atitude louvável, mas o povo já não encara mais assim. E o grande problema é decidir quando parar. Vou escrever Fina Estampa e, depois que a novela acabar, pensarei sobre isso.

Muitos autores apostam em remakes atualmente. Você tem vontade de adaptar alguma trama sua do passado?
Ainda tenho muitas histórias para contar e não vou perder tempo recorrendo àquelas que já contei. Além disso, acho essa coisa de remake um tanto preguiçosa. Todos nós somos ficcionistas e temos nossas histórias inéditas. E são essas que devemos explorar. Mas há, sim, uma novela que eu gostaria de reescrever. Só que seria um texto novo: Suave Veneno. Reconheço que, quando comecei, ainda não sabia como encaminhar a história. E isso é fatal para qualquer autor. A primeira coisa que eu faria seria mudar esse título horroroso que, obviamente, não era o meu. Mas não seria mesmo um remake, seria uma outra novela. Ainda inspirada no Rei Lear

Fonte: Portal Terra

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