Já vi shows bons e ruins, mas não me lembro de ter visto um tão amador quanto o de Amy Winehouse.
Eu simpatizo com Amy. Prefiro mil vezes a bagaceira dela às celebridades que posam para revistas mostrando os órfãos que adotaram em algum país miserável.
Acho que astros “polêmicos” como ela são necessários, embora desconfie que muito daquilo seja marketing (alguém soube de um escândalo sequer protagonizado pela moça SEM um fotógrafo por perto?).
Gosto dos discos também. Não sou grande conhecedor de soul music e não passo semanas ouvindo “Frank” ou “Back to Black”, mas achei os discos divertidos e bem produzidos.
Mas nunca tinha visto um show dela, nem em DVD.
Por isso, o espanto: pelo menos sábado, Amy cantou como uma amadora. Desafinou pacas, errou a letra de várias músicas e atropelou a métrica de outras tantas.
Foi de uma antipatia que raras vezes vi em cima de um palco. Não custava nada ter mostrado um pingo de apreço pela platéia – 30 mil pessoas, segundo a organização. Só falava com a banda.
E a banda? Não conheço os músicos ou seu currículo, mas posso dizer que foi o pior conjunto de músicos que já vi tocando num evento desse porte. Sem vontade, sem garra, tocando o beabá mais rastaqüera. Parecia grupo de beira de piscina de cruzeiro marítimo.
Para realçar a ruindade – e para encher um pouco mais de lingüiça – Amy pediu a cada um deles que fizesse um solo. O solo de guitarra foi um daqueles momentos constrangedores em que você fica com pena do cara, e olha que nem sou músico.
O de bateria foi tão chato que nem a Amy agüentou: sentou no palco e ficou esperando aquilo passar.
Dava para ver claramente que a turnê foi organizada às pressas: não havia cenário, só uma pavorosa montagem do nome da cantora com a bandeira do Brasil, que parecia banner de agência de turismo. Um amigo jura que viu Amy lendo o nome dos músicos em um papel colado no chão do palco (eu não percebi).
Sábado, a banda de Amy esteve no palco por 72 minutos. Já a cantora, subtraindo os momentos em que saiu do palco, as duas cançõess que mandou um vocalista de apoio cantar, os solos dos músicos e o intervalo para o bis, não apareceu por mais de 50 ou 55. Foi a grana mais fácil que ela já ganhou.
Dois fatores realçaram a ruindade do show: em primeiro lugar, o próprio Anhembi, grande demais para shows desse tipo. Num teatro fechado, talvez a apresentação não fosse tão fria e desanimada.
Em segundo lugar, Janella Monáe. A cantora se apresentou antes de Amy e, mesmo exagerando na pose e em alguns truques ridículos (em certo momento ela pinta um quadro no palco), mostrou que canta muito. Janelle e banda suaram a camisa e deram tudo no palco. Não foi um show incrível, mas pelo menos mostrou consideração por quem pagou ingresso – que não era nada barato.
E Amy? Bom, ela embolsou uma fortuna para cantar que nem uma caloura do “Ídolos”. Bateu a carteira e se mandou. Será parte do marketing? Ou falta de talento mesmo?
Fonte: André Barcinski, da Folha
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