Jornalista, por definição, não é personagem de notícia. É quem relata a notícia. Mesmo na TV, onde aparece de corpo inteiro, está sempre com um microfone na mão, ouvindo os seus entrevistados e descrevendo os fatos.
Jornalista vira notícia muito excepcionalmente, em situações trágicas ou dramáticas, quando morre no meio de uma cobertura, se é sequestrado, preso ou desaparece enquanto investiga algum caso escabroso.
O “Fantástico”, da Rede Globo, está fazendo uma experiência ousada ao colocar os seus jornalistas no duplo papel de condutores e cobaias de reportagens com características de reality show. Já foram três este ano.
Na primeira, os apresentadores Zeca Camargo e Renata Ceribelli se submeteram a um regime alimentar por três meses, num quadro intitulado “Medida Certa”. De caráter educativo e informativo, mas ao mesmo tempo apelativo, por expor a intimidade da dupla, o programa exibiu Zeca e Renata em exames médicos, fazendo exercícios e comendo, em suas casas, consultórios e academias de ginástica.
Na sequência, o programa mostrou o repórter Cleiton Conservani como personagem ativo de atividades esportivas radicais e aventuras de risco no quadro “Planeta Extremo”. Foram quatro episódios, começando por sua participação numa maratona disputada na Antártica, que terminou com um dos competidores quase cego por ter corrido parte da prova sem óculos especiais. O quadro ainda mostrou o repórter nos Andes, na Noruega e mergulhando nas Bahamas.
Por fim, neste domingo, o “Fantástico” estreou a série “Expedição Xingu”. Liderado pelo repórter Rodrigo Alvarez, um grupo de oito universitários (selecionado entre mais de 500 inscritos) vai refazer a Expedição Roncador-Xingu, liderada pelos irmãos Villas-Boas em 1943.
Um espectador desavisado, que tenha começado a ver o primeiro dos seis episódios depois da apresentação inicial, pode ter pensado que o “Fantástico” foi substituído por um programa tipo “No Limite”. Distribuindo tarefas, dando broncas e exigindo esforço e dedicação dos seus universitários, Alvarez só faltou “eliminar” um deles ao final do quadro.
Justiça seja feita, nas três séries, todas muito bem produzidas, o caráter informativo prevaleceu. Mas não deixa de ser entranho ver jornalistas no centro do palco. Talvez seja este o futuro que nos reserva o jornalismo, num mundo cada vez mais seduzido pelo entretenimento.
Fonte: Maurício Stycer, do UOL
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