Está cada vez mais difícil escrever novela no Brasil. O talento dos autores e do elenco não está sendo o suficiente para atender às exigências dos telespectadores, que, cada vez mais, rejeitam assuntos que remetem à doença, violência e tecnologia.
Diante da necessidade de agradar o público, os escritores se veem reféns de uma fórmula onde os vilões “pastelões” ganham o público, os mocinhos bonzinhos são rejeitados, e o núcleo de humor tem mais destaque. Por isso, as novelas que estão no ar, por exemplo, têm investido nos núcleos mais humorísticos para ganhar audiência.
E não é que tem dado certo? Começando pela Rede Globo, “Cordel Encantado” é um bom exemplo de que uma trama leve e simples pode conquistar o telespectador. Com o elenco recheado de comediantes, como Débora Bloch, Heloísa Perissé, Luiz Fernando Guimarães e Zezé Polessa, o folhetim tem se tornado a grande aposta da emissora.
Apesar do destaque para o romance entre um mocinho, que está mais para herói – Jesuíno (Cauã Reymond) -, e uma mocinha, que é mais uma menina rebelde – Açucena (Bianca Bin) - , a novela das 18 horas de Thelma Guedes e Duca Rachid tem reservado sempre bons momentos para a comédia. “A novela tem que ter um núcleo de humor sempre. Todas precisam ter o que chamamos de ‘escape cômico’”, disse Thelma.
Mas a escritora ainda ressaltou que não é somente a comédia que conquista o telespectador: “É claro que o público procura mesmo novelas com boas histórias, que tenham drama e humor. O que atrai e segura o telespectador, penso eu, é mesmo uma história interessante, que ele queira acompanhar”.
A novela “Morde & Assopra” é um exemplo de trama que mudou um pouco seu perfil desde a estreia. No começo, robôs, androides e tecnologia de ponta tomavam conta do folhetim, que ainda falava sobre dinossauros. Em seguida, a aposta foi intensificar as cenas de romance e comédia de Abner (Marcos Pasquim) e Júlia (Adriana Esteves), que foram de guerra de bolo a banho de mangueira. André Gonçalves também entrou no meio da história para apimentar com o personagem Áureo, um homossexual pra lá de extravagante.
Walcyr Carrasco, escritor da trama das 19 horas, não acha que o humor seja o único ingrediente para o sucesso de uma novela, porém não o dispensa. O autor contou que tudo depende do escritor: “Acho que não existe uma fórmula. A novela é uma obra artística que depende da criatividade de quem escreve, dirige e atua. Eu, particularmente, escrevi humor em todos os meus trabalhos. Mas eu acho que o público gosta de boas histórias, sejam dramáticas ou cômicas”.
Até mesmo as novelas das 21 horas da Rede Globo estão se rendendo ao núcleo cômico. Relembrando “Passione”, a trama deixou que os personagens ligados ao humor – Berilo (Bruno Gagliasso), Olavo (Francisco Cuoco), Clô (Irene Ravache) - tivessem relação direta com o protagonista Totó, interpretado por Tony Ramos. Olavo era pai do italiano.
E não foi diferente com “Insensato Coração”. Gilberto Braga investiu nas cenas em que Bibi (Maria Clara Gueiros) e Marina (Paola Oliveira), protagonista da trama, conversavam e comentavam sobre a vida. Isso evidencia, mais uma vez, o quanto a comédia tem sido inserida em diferentes contextos.
No novo folhetim do horário nobre, "Fina Estampa", Aguinaldo Silva diz que Tereza Cristina, personagem de Christiane Torloni, é a vilã da história. Mas o que se viu na primeira semana foi uma perua bem da engraçada. É o humor arando o terreno para conquistar o público.
Apesar de alguns autores ainda acharem que o humor não é a chave do sucesso, há quem diga que momentos de diversão podem ser fundamentais para levantar o ânimo e a audiência de um folhetim. O autor de “Amor & Revolução”, Tiago Santiago, abandonou um pouco a violência da época da ditadura, e resolveu investir mais em outro núcleo já que o ibope não tem passado de cinco pontos de média na Grande São Paulo. Cada ponto equivale a 58 mil domicílios assistindo à história, que se passa na ditadura militar.
“A carga dramática é fundamental, assim como o humor também. Nós chegamos a ver várias pesquisas, e sabemos que as pessoas querem rir e se emocionar. É verdade que vendo a novela no ar, achei a realização pesada e me propus a torná-la mais leve, acrescentando cada vez mais pitadas de humor”, disse o escritor.
E essa mudança não vai demorar muito para acontecer, não. Santiago contou que o resultado já pode ser visto na telinha do SBT: “O que o povo com certeza quer mais é se divertir”.
Fonte: Famosidades
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