quinta-feira, 29 de julho de 2010

Onde "Ribeirão do Tempo" erra


Com 50 capítulos alcançados há cerca de uma semana, "Ribeirão do Tempo" ainda não mostrou a que veio. Os 7, 8 e raros 10 pontos de média são suficientes apenas para uma vice-liderança apertada e que levam a uma desnecessária briga com a Band e com a reprise de "Ana Raio e Zé Trovão", novela de quase vinte anos da Manchete que o SBT reprisa.

A novela da Record é uma das mais fracas da atual fase da dramaturgia e leva consigo uma série de problemas que, mesmo com um know-how de apenas cinco anos - compensados por uma competente produção, não deveriam ocorrer.

De início, pode-se dizer que a baixa audiência de "Ribeirão do Tempo" está ligada ao fato de não haver mais polarização de dramaturgia às 22h. Apesar da baixa qualidade de imagem, do áudio e até mesmo da história, que não fez um sucesso tão grande, "Ana Raio e Zé Trovão" está no ar e cativou alguns telespectadores - os mesmos que estavam eque poderiam voltar a Record. O diretor de "Ribeirão do Tempo", Edgar Miranda, já viveu experiência similar em "Chamas da Vida", que duelava com "Pantanal". Entretanto, a forte história e os clássicos ingredientes que uma novela, ainda mais às 22h, exigia foram empregados por Cristianne Fridman e, a medida que "Pantanal" chegava ao fim, o jogo virava a favor da Record, contrariando a tendência natural de elevação da audiência com a aproximação do último capítulo.

Em "Ribeirão do Tempo", Marcílio Moraes, diferente de Cristianne Fridman, faz uma novela para si e para um pequeno grupo de telespectadores. Não faz uma novela pensando na audiência, como deveria ser, ainda mais em um horário e em uma produção tão cara na televisão brasileira. Diferente de "Vidas Opostas", onde tiroteios desnecessários eram inseridos apenas para se agregar pontos no Ibope, "Ribeirão do Tempo" não tem nada que atraia à massa. Deixar a violência de lado é uma iniciativa boa e necessária, porém, se a ação sai de cena, uma história sólida e envolvente tem que compensar, o que não ocorre pois o folhetim peca nesse quesito.

A atual novela da Record tem inúmeros bons adjetivos. A fotografia, mesmo não sendo em alta definição, é excelente e muito bem adequada. A cenografia é uma das melhores desde a implantação do RecNov. O elenco, que reúne experientes e novos nomes da dramaturgia, tem muito talento.

O problema de "Ribeirão do Tempo" está em sua história. A política é um tema interessante mas que não atrai a maior parte dos telespectadores. Os bastidores da política, menos ainda. Além disso, o telespectador da Record não está acostumado com o tema, o que de início já gera rejeição. É possível sim, tirar de "Ribeirão do Tempo" várias metáforas facilmente relacionadas com a política brasileira. Só que isso não agrada e exige todo um pensamento que a maioria dos telespectadores não tem e não quer ter.

A falta de romance e de vilões também impera em "Ribeirão do Tempo". Existem quatro protagonistas, como Liliana Castro, Angelo Paes Leme, Bianca Rinaldi e Caio Junqueira, porém, em cinquenta capítulos, nenhum deles mostrou a que veio. Os vilões também não chegaram a mostrar a força que têm e o potencial da veterana atriz Jacqueline Laurence de exercer com excelência esse papel sequer foi explorado.

Esses erros da Record são primários. Não falta nada à emissora em termos técnicos, de equipe, elenco ou produção. O que falta é apenas uma melhor seleção do que pode, do que não pode e de como pode ir ao ar determinado produto. Novela é um negócio caro e, na Record, o departamento foi entregue a ex-bancários, que, apesar do esforço, ainda não dominam o assunto e investimentos milionários não vão fazê-los compreender da noite para o dia.

Fonte: Na Telinha

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