quarta-feira, 10 de novembro de 2010

André de Biasi analisa seu político analfabeto


Interpretar o atrapalhado Ari Jumento de "Ribeirão do Tempo" não é uma tarefa fácil para André de Biasi. Na pele do prefeito semi-analfabeto, o ator tenta fazer um personagem naturalmente engraçado, sem ser cômico. "A comédia já está na roupagem e no jeito que ele fala. Tenho de fazer natural para não ficar caricato", explica. A principal referência para compor o personagem era o Odorico Paragaçu, interpretado por Paulo Gracindo em "O Bem Amado".

Por isso, quando recebeu o convite, André ficou receoso com o novo trabalho. "Como o Odorico fez tanto sucesso, obviamente a comparação é inevitável. Eu pensei, não sou o Gracindo, sou o André. Era impossível fazer aquela interpretação", ressalta ele, que procurou dar um ar ingênuo para o personagem.

Encontrar o visual ideal para o prefeito também foi motivo de preocupação para André. Ele deixou a barba e o cabelo crescerem e foi tirando aos poucos. "Experimentei milhares de óculos. Depois a roupa. Primeiro, fiquei muito sofisticado. Parecia o Sean Connery. Depois brega demais. Demorou até acharmos esse meio termo", lembra, entre risos. De bigode, suspensórios e chapéu de palha, André não parece em nada com o surfista Lula da série "Armação Ilimitada".

Mas o personagem, no entanto, ficou marcado na carreira do ator. E até hoje – 25 anos depois de dar vida ao papel –, ele ainda é lembrado pelo trabalho quando sai às ruas. "Isso me dá felicidade. É um orgulho. Quando eu, Kadu, Jonas e Andréa nos encontramos, comentamos que já se passou tanto tempo e as pessoas não esquecem. É impressionante!", destaca.

Ao longo de sua carreira, você interpretou tipos mais leves e bem humorados. Você se identifica mais com esse gênero?
Não gosto de fazer drama. Eu sou muito sensível, absorvo muito. Gosto de ação, de aventura. Acho que sou bom nisso. Mas se eu interpretar um matador, um assassino bem do mau, vou fazer muito bem. Antes de morrer vou fazer um desses. Vou correr atrás e pedir para interpretar um personagem assim.

O Ari Jumento é o papel mais diferente dos que você já interpretou na televisão. O que mais te chamou a atenção nele?
Ele tem muitas facetas encantadoras. E depois, é um tipo bem característico da cultura brasileira. Ele conseguiu chegar à prefeitura sendo analfabeto. Considero o personagem o mais genial e o melhor que já fiz.

Como é um personagem engraçado, de que maneira você encontrou o tom sem cair no exagero?
Eu fiquei com medo quando me deram o Ari Jumento, porque a referência que tinha era do Odorico Paraguaçu, que o Paulo Grassindo interpretou brilhantemente em "O Bem Amado". É muito difícil, porque se passar do tom um pouco, fica inverossímil, caricato, beirando o ridículo. Então, tento fazer com verdade, emprestando uma certa inocência. Se eu tentasse fazer de forma cômica não ia soar verdadeiro. Iam dizer: lá vem o palhaço.

Faz 25 anos que você interpretou o Lula de "Armação Ilimitada" e até hoje ainda é lembrado pelo personagem. Alguma vez você se preocupou em ficar marcado e isso atrapalhar a sua carreira?
Nunca! O que o ator tem de se preocupar é em escolher bons personagens e fazê-los muito bem, com amor. Acho que o Lula só vai ficar para trás quando eu morrer. Quando saio nas ruas, as pessoas dizem "olha o Juba e Lula aí". O que me impressiona é que isso não sai da mente das pessoas. Principalmente para aqueles da minha geração. Eles me veem e é uma conexão direta com os anos 80, com aquele momento da vida deles. É uma referência muito boa.

Fonte: UOL

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