segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Fantástico" acerta com "O que vi da Vida"


A franqueza cativa. É ela o principal capital de “O que vi da vida”, quadro que estreou há duas semanas no “Fantástico” com Zeca Pagodinho, e que teve uma segunda edição centrada em Susana Vieira. Ambas foram igualmente emocionantes, bem elaboradas e informativas. O programa parece bem simples, e a ideia é essa. Mas não é preciso esforço para notar ali uma fórmula de dosagens químicas milimetricamente precisas, um acerto total da direção inteligente e sensível de Cláudio Manoel (ex-“Casseta & planeta”).

O personagem da vez aparece num desempenho solo — as perguntas do entrevistador são suprimidas — como se estivesse brincando de um jogo da verdade. “O que vi da vida” escapa da tentação da “cartelite” que costuma dominar as atrações com intenções biográficas. Não há quase letreiros sublinhando datas ou fatos da história do retratado. O quadro se limita ao básico e é o suficiente. Esta é uma das indicações de que aquilo não é puro jornalismo e sim uma visão pessoal sobre uma figura pública. Zeca Pagodinho, apresentado como “carioca do Irajá e avô de Noah”, falou de fé e de sua paixão pela cerveja e pela boemia. “Gosto de ficar em casa em Xerém, todo mundo cozinhando, cortando legume. Lá, entra rico, pobre e malandro”. Depois de admitir ter medo de fantasma, seguiu filosofando: “Médico de pobre é pai de santo. Quanto mais rica a pessoa, mais descrente. É pena, porque a gente precisa ter uma direção na vida”.

É fácil simpatizar com Zeca Pagodinho. Mas “O que eu vi da vida” foi atrás de Susana Vieira e se deu bem de novo, provando que não busca o retrato mais popular de seus personagens, e sim o mais sincero. Todo mundo quando abre o coração enternece e este foi o efeito da entrevista da atriz. Firme, franca e corajosa, ela contou que adorava ficar de castigo quando criança, porque “desenvolvia o lado dramático”. Se iluminou ao falar da família; discorreu sobre o amor e levantou uma questão equivalente a um paroxismo do (com o perdão do termo) pensamento-Susana-Vierista: “Qual a mulher que quer ficar feia, velha e sem homem?”.

Extrair das pessoas seus mais íntimos pensamentos - sem voyeurismo nem julgamentos morais - é o principal mérito deste quadro, uma das melhores criações recentes do “Fantástico”.

Fonte: Patrícia Kogut

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