terça-feira, 26 de julho de 2011

Gays em novelas: censura ou imaturidade do público?


Dizem por aí que teledramaturgia, em geral, tem como uma de suas missões abrir a discussão sobre questões polêmicas, quebrar preconceitos e falar sobre tabus. Beijo entre um homem e uma mulher aconteceu, fez sucesso e hoje é totalmente aceito. O nu também foi uma grande etapa a ser ultrapassada, e é colocado no ar atualmente como nunca e encarado de forma normal pelos telespectadores. Mas há uma coisa que ainda não é discutida nas telinhas. Sim, voltamos para o ponto do beijo gay.

Depois de um tempo sem tocar no assunto profundamente, e evitar imagens mais íntimas entre personagens do mesmo sexo, a TV brasileira resolveu abordar a temática homossexual com mais força este ano. Atualmente, o Brasil acompanha duas novelas que abordam – ou abordavam até esta semana – o mundo gay: “Insensato Coração”, da Globo, e “Amor & Revolução”, do SBT.

Desde seu início, a novela global contou a história de três personagens gays: Eduardo (Rodrigo Andrade), Roni (Leonardo Miggiorin) e, por último, Hugo (Marcos Damigo). Nas últimas semanas, o público pôde ver uma maior aproximação entre Edu e Hugo e cenas que induzem o telespectador a pensar que os namorados passaram a noite juntos e se beijaram na boca. Mas o beijo, o abraço, o sexo não são mostrados em cena.

Em “Amor & Revolução”, a história chega a ser parecida, mas há um diferença que vale registrar. O romance de duas mulheres, Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre), já foi bem exposto e até rolou beijo na boca em horário nobre da TV brasileira. A sequência, no dia que foi exibida, ficou entre os assuntos mais falados nas redes sociais.

Porém, no início desta semana, a Rede Globo determinou que a história dos homossexuais Eduardo e Hugo “fosse completamente esfriada no folhetim”. Além disso, segundo o jornal "Folha de S.Paulo", a emissora pediu silêncio aos autores e atores, para que não levantassem nenhuma bandeira relacionada ao assunto  homossexualidade.

O mesmo jornal publicou uma matéria em que contava que o SBT também pediu para os atores “baixarem a bola” quando o assunto for o relacionamento entre as gays Marcela e Marina. Além disso, a novela “Amor & Revolução” já teve algumas cenas de uma aproximação maior entre as personagens vetadas pela emissora.

Há quem diga que a televisão é um meio de comunicação que atinge todos os públicos, independente de sua cor, sexo, classe social ou orientação sexual. Porém, vale destacar que o relacionamento homoafetivo não é necessariamente mostrado como realmente é.

Em tempos de lei de reconhecimento legal da união homoafetiva sendo aprovada no país, será que o público está preparado para encarar cenas de beijo, nudez e até sexo entre pessoas do mesmo sexo? Ou, na verdade, são as emissoras de TV que não querem arriscar seus valiosos números de audiência colocando no ar o que pode não agradar muita gente? Será uma auto-censura?

Mas parece que a homofobia e a homossexualidade não são causas a serem criticadas, apoiadas ou, simplesmente, discutidas nas novelas brasileiras. Pelo menos não ainda. Na tarde da última terça-feira (19), a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) enviou um comunicado à Rede Globo criticando a posição da emissora de censurar a novela. A Rede globo respondeu que: a obra “é da TV Globo que contrata autores para escrever as suas histórias que leva ao ar a todos os brasileiros. Logo, não se pode falar em censura porque a obra é nossa. No nosso entendimento, a causa é a diversidade e o respeito às diferenças, e não propriamente a homossexualidade ou a heterossexualidade, ou quaisquer outras formas de orientação individual.” Por fim, concluiu que: “Nossas tramas registram a afetividade e o preconceito, mas não cabe exaltação. Cabe, sim, combater a intolerância, o preconceito e a discriminação contra elas, o que temos estimulado cotidianamente inclusive por meio de campanhas.”

Na real, Gilberto Braga e Ricardo Linhares avisaram, antes mesmo da novela se iniciar, que iam narrar histórias homoafetivas ao longo do folhetim, e parece que receberam mesmo um "pedido" para dar um breque na história romântica de duas pessoas do mesmo sexo.

 “Insensato Coração” não começou a abordar um assunto apenas com a mídia e os telespectadores, não. Até os personagens tiveram uma mudança de visão sobre homossexualidade com a trama. Rodrigo Andrade, que interpreta Eduardo, conta que mudou quando começou a estudar para o personagem e percebeu o quanto ruim para a sociedade é o preconceito sexual. “Me sinto agredido também quando vejo notícias de pessoas que batem em homossexuais. Sou totalmente contra a homofobia. Levanto a bandeira e não vejo problema nisso”, disparou ele, que ressaltou que está “representando um ser humano de bem, de caráter”.

Na novela global, a censura vale somente para os personagens Hugo e Eduardo. Espevitado, cheio de humor e com cenas um tanto caricaturadas do cotidiano de um gay, Roni (vivido por Leonardo Miggiorin) terá suas cenas sem nada de censura.

Vale destacar que, nessa semana, o Ministério da Justiça decidiu manter a classificação indicativa de “Insensato Coração”, não recomendada para menores de 12 anos. O órgão público avalia que a novela tem exibido conteúdo de relevância social, principalmente para valorização e respeito aos direitos homossexuais.

Mas parece que não é isso o que está acontecendo, não é?! Em 2011, temos a impressão de que estamos vivendo sob censura, sob medo constante de "ferir" o outro com algo "fora do comum". Resta-nos saber se as emissoras brasileiras que resolveram tocar na ferida, e mostrar quem machuca e quem é machucado, estão com medo de se aprofundar ainda mais nessa experiência, ou se é o público que ainda não está preparado para aceitar o assunto.

Com informações do Yahoo

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