segunda-feira, 25 de julho de 2011

Emissoras dizem evitar "exaltação" ao cortar tramas gays


Depois de ter tramas elogiadas por criticar a homofobia e tratar os relacionamentos homossexuais com naturalidade, as novelas da TV aberta recuaram na abordagem de personagens gays.

"Amor e Revolução" (SBT) mostrou um beijo lésbico entre Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre). Mas a mesma cena entre Jeová (Lui Mendes) e Chico (Carlos Artur Thiré) foi vetada.

Em nota, a emissora explica ter tomado a decisão após uma pesquisa mostrar insatisfação "em relação às cenas de violência demasiada e beijo gay explícito, que incomodaram a maioria das famílias brasileiras".

A Globo não citou pesquisas para esfriar a história de "Insensato Coração", cortando cenas gravadas, como noticiado pela coluna "Outro Canal" nesta semana. "Nossa tramas registram a afetividade e o preconceito, mas não cabe exaltação", informou em nota.

As decisões das emissoras causaram surpresa e decepção entre defensores dos direitos dos homossexuais, especialmente no caso de "Insensato Coração", que foi considerada um marco pela denúncia da homofobia.

O próprio Ministério da Justiça, órgão responsável pela classificação indicativa, decidiu mantê-la como "não recomendada para menores de 12 anos" (ao invés de 14 anos).

A decisão, publicada no "Diário Oficial" nesta semana, cita que a novela tem "conteúdos de natureza educativa e relevância social, com reflexos positivos e respeito à diversidade".

Beijo proibido

A cautela na exibição de afeto entre homossexuais é antiga na Globo. Em 20 de dezembro de 1998, o cinegrafista Hugo Sá Peixoto e seu chefe, Amaury Trolize, foram demitidos após a exibição de um beijo entre homens em imagens que entraram ao vivo no "Fantástico".

A emissora explicou, em nota, que as demissões ocorreram na época porque eles desrespeitaram "uma recomendação". Ambos, porém, dizem que "foi um acidente".

"O proibido de ontem não é mais o de hoje", ressente-se Peixoto, que trabalhou por 26 anos na Globo.

Quase 13 anos após sua saída, a mesma emissora exibiu, no "Jornal Nacional", em horário nobre, um selinho entre dois homens em reportagem sobre a última Parada Gay de São Paulo.

Em 2005, novamente um beijo gay voltou a causar polêmica: foi na novela “América”, de Glória Perez, quando o beijo entre dois rapazes foi escrito, gravado e editado, mas na hora H foi vetado, causando grande reboliço na mídia.

Especialistas ouvidos pela Folha destacaram a importância de dar visibilidade a cenas de afeto entre gays.

Deixando o politicamente correto de lado, no entanto, o que parece consensual adquire contornos controversos quando o assunto é a veiculação de imagens de beijos e carinhos entre dois homens ou duas mulheres.

Para o ator Daniel Barcelos, que beijou Raí Alves na minissérie "Mãe de Santo" (1990) da extinta TV Manchete, a polêmica é um retrocesso. "Não entendo por que dar esse passo atrás."

Entenda o caso

Na terça-feira (19), a coluna "Outro Canal" do jornal Folha de S.Paulo revelou que a TV Globo resolveu acabar com a história do casal gay na novela.

De acordo com a coluna, os autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares foram chamados na semana passada para um conversa com Manoel Martins, diretor-geral de entretenimento da emissora.

O diretor teria determinado que a história que envolve o casal gay Eduardo e Hugo fosse esfriada. Muitas cenas já gravadas serão cortadas da história. Além da trama que envolve o casal, as cenas que denunciam a homofobia no Brasil, como a dos ataques homofóbicos, também serão eliminadas. O beijo gay, então, está fora de cogitação.

As únicas cenas liberadas foram do personagem Roni, papel de Leonardo Miggiorin, já que fazem parte do núcleo de humor da novela. A Globo pediu aos autores que não polemizem o assunto, para que entidades não considerem os cortes como preconceito. Procurada pela coluna, a assessoria da Globo disse que a televisão é um veículo de massa que precisa contemplar todos os seus públicos e faz parte do papel da direção zelar para que isso aconteça.

Fonte: Folha

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