quarta-feira, 1 de junho de 2011

O "Cordel" que encanta


Com 40 capítulos exibidos, “Cordel Encantado” já está entre as melhores novelas que acompanhei. Em sua segunda parceria, a diretora Amora Mautner e as autoras Duca Rachid e Thelma Guedes dão um impressionante salto de qualidade em relação ao trabalho anterior (“Cama de Gato”).

“Cordel Encantado” é uma fábula sobre dois universos distintos: a realeza europeia e o sertão brasileiro. Esses mundos se encontram no romance de Açucena (Bianca Bin), uma cabocla criada no nordeste do Brasil sem saber que é a princesa de Seráfia do Norte, um fictício reino europeu, e Jesuíno (Cauã Reymond), um jovem sertanejo que desconhece ser filho legítimo de Herculano (Domingos Montagner), o cangaceiro mais temido de Brogodó.

A incursão no imaginário mítico brasileiro impressionou desde o primeiro capítulo. A arriscada união entre a realeza europeia e o sertão nacional foi feita de forma convincente. O risco de não ficar crível acabou eliminado pelo cuidado com o roteiro – não há capítulo desperdiçado, cena sem significado ou subtrama desgarrada – e pela firmeza de Amora Mautner na direção dos atores. Entre iniciantes e experientes, o elenco mostra competência e coesão na interpretação de seus personagens.

Apesar da trama de época, a novela é uma obra atemporal. Sem um tom realista, “Cordel Encantado” não foge do tom. A opção pela fantasia foi acertada. Estamos diante de um mundo de sonho, mas com personagens humanos.

A mistura de elementos do folclore brasileiro é outro destaque da novela. O universo fantástico desenvolvido tão meticulosamente pela produção é o que mais encanta e prende atenção em “Cordel Encantado”. Apesar do extremo cuidado com a fotografia, a direção de arte, a trilha sonora e o figurino, que nos remete a uma superprodução cinematográfica, a novela impressiona de forma natural e é isso que fisga o telespectador, que a cada semana aumenta os índices de audiência da trama.

O sucesso vem do respeito dos responsáveis por “Cordel Encantado” para com o telespectador. Apesar da incursão no imaginário mítico, a ficção não é necessariamente sinônimo de inverossimilhança. A audiência não é tratada como uma criança em idade pré-escolar, algo comum em outras tramas em exibição que apostam no realismo e, infelizmente, na repetição, como “Insensato Coração” e “Morde & Assopra”.

“Cordel Encantado” é a prova de que a teledramaturgia ainda tem fôlego. A novela não é um formato esgotado, como muitos críticos insistem. A trama das 18h traz os elementos básicos de qualquer novela: o casal que enfrenta dificuldades para viver a paixão, o triângulo amoroso, a tragédia, os violões incorrigíveis e os personagens cômicos. Porém, há todo um cuidado no texto e na produção que nos dá a sensação de estarmos diante de algo novo e revolucionário. No fundo, não é. É o feijão com arroz, mas muito bem feito.

Com tamanho cuidado, “Cordel Encantado” merecia um melhor destaque na programação da Globo. Novela para ser exibida às 19h ou até mesmo às 21h, certamente com mais sucesso que as atuais tramas que ocupam esses horários.

Fonte: Alê Rocha, do Yahoo

2 comentários:

  1. Disse tudo de forma perfeita, é uma obra encantadora, que seduz no primeiro olhar, é extremamente prazerosa assistir Cordel e frustrante ter que esperar até o outro dia, é um trabalho de uma sutileza que comove, nos apaixonamos pelos personagens, sofremos com eles, permitimos que esses contadores de histórias nos levem para um mundo mágico... Cordel me comove e encanta...

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  2. Tem razão. Desde a estreia também tive a mesma impressão: que a novela tinha tudo para conquistar um público fiel e apaixonado.

    Uma novela tão boa quanto "Cordel Encantado" bem que merecia ser exibida no horário das 21 horas.

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