Janete Clair é considerada uma das maiores
novelistas da história de nossa televisão. Ficou conhecida por sua habilidade
em prender o público por meses a fio com suas histórias melodramáticas, que se
tornaram grandes sucessos populares, principalmente durante a década de 1970.
“A Maga das Oito” era assim chamada por seu poder catalisador de massas.
Ela faleceu há 29 anos, em 16 de novembro de
1983, vítima de um câncer no intestino, que havia sido diagnosticado quatro
anos antes. Na época, Janete escrevia a novela Eu Prometo e, após sua morte,
coube a Glória Perez, sua colaboradora, finalizar os trabalhos.
Mineira da cidade de Conquista, Janete Clair
nasceu em 25 de abril de 1925. Seu nome verdadeiro era Jenete Stocco Emmer.
Iniciou sua carreira em 1943 como atriz na Rádio Tupi Difusora de São Paulo.
Começou a roteirizar radionovelas revelando-se uma exímia contadora de
histórias. Nesta época, escreveu cerca de 30 títulos, principalmente na Rádio
Nacional do Rio de Janeiro.
Janete Clair foi casada com o dramaturgo Dias
Gomes que, por influência dela, foi também parar na televisão e acabou por
escrever várias novelas de sucesso.
Regina
Duarte como Andreia em “Véu de Noiva” (1969)
A primeira telenovela de Janete foi O
Acusador, apresentada pela TV Tupi do Rio de Janeiro em 1964 – ainda não era
diária. Em 1967 estreou na TV Globo causando furor: chamada para dar um jeito
na baixa audiência da novela Anastácia, a Mulher Sem Destino, a novelista
promoveu um terremoto que dizimou a maioria dos personagens e deu início a uma
nova trama, com os poucos que restaram, cortando gastos e levantando o Ibope.
Nesta época, suas novelas eram
supervisionadas pela cubana Glória Magadan, que ditava as regras no setor de
dramaturgia da Globo e tinha pouca familiaridade e comprometimento com a
realidade brasileira. Sob o crivo de Magadan, Janete escreveu ainda Sangue e
Areia, Passo dos Ventos e Rosa Rebelde, entre 1967 e 1969, dramalhões de
capa-e-espada que se passavam em países longínquos.
Em 1969, com a saída de La Magadan da Globo,
Janete pôde enfim mostrar seu trabalho. Véu de Noiva (1969-1970) foi o primeiro
sucesso e marcou a estreia de Regina Duarte na Globo. Janete criou para esta
novela um “quem matou?” que movimentou a trama e a audiência.
Glória
Menezes e Tarcísio Meira (Diana e João) em “Irmãos Coragem” (1970)
Entre 1970 e 1971, a Globo levou ao ar uma de
suas novelas mais longas: Irmãos Coragem (de 328 capítulos), a consagração de
Janete Clair como novelista. Foi a primeira vez que a audiência masculina se
voltou para uma telenovela. Não era para menos: a trama era um faroeste caboclo
com muitos tiros e lutas corporais. E ainda abordava os bastidores do futebol
no ano em que o Brasil sagrou-se tricampeão mundial na Copa do México.
Selva de Pedra (1972) ficou famosa por registrar
no Rio de Janeiro e em São Paulo impensáveis 100% de audiência, no capítulo 152
– em que a protagonista Simone (Regina Duarte) era desmascarada na polícia pelo
ex-noivo, Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco).
Francisco
Cuoco e Regina Duarte (Cristiano e Simone) em “Selva de Pedra” (1972)
Pecado Capital (1975-1976) é considerada pela
crítica especializada a melhor novela de Janete Clair. Incentivada pela
necessidade de se reciclar, a autora passou a incluir um maior realismo às suas
tramas. Mérito também da direção de Daniel Filho, ao retratar o subúrbio do Rio
de Janeiro da época.
O Astro (1977-1978) parou o Brasil –
literalmente – no último capítulo, quando se revelou na trama a identidade do
assassino de Salomão Hayalla (Dionísio Azevedo), num dos “quem matou?” mais
emblemáticos da história de nossas novelas. Três dias depois de sair do ar,
Carlos Drummond de Andrade escreveu em sua coluna de jornal: “Agora que O Astro
acabou, vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando.” Foi nessa
coluna que Drummond apelidou Janete de “Usineira de Sonhos”.
Glória
Menezes e Tony Ramos (Ana Preta e André) em “Pai Herói” (1979)
Pai Herói (1979) foi outro sucesso
arrebatador que atingiu grande repercussão e audiência. Trabalhos impecáveis e
memoráveis de Glória Menezes, como Ana Preta, e Paulo Autran, como Bruno
Baldaracci, em sua estreia em novelas.
Além de colaborações em obras de outros
novelistas, e vários Casos Especiais escritos, Janete Clair escreveu também as
novelas O Homem Que Deve Morrer (1971-1972), O Semideus (1973-1974), Fogo Sobre
Terra (1974), Bravo! (1975-1976) – com Gilberto Braga, Duas Vidas (1976-1977),
Coração Alado (1980-1981) e Sétimo Sentido (1982).
Quatro novelas suas tiveram remakes na Globo
depois de sua morte: Selva de Pedra (em 1986), Irmãos Coragem (em 1995), Pecado
Capital (em 1998) e O Astro (em 2011). Em 1987, o novelista Wálter Negrão se
baseou em uma antiga radionovela de Janete – A Noiva das Trevas – para escrever
Direito de Amar. Em 2009, o SBT comprou os direitos sobre sua obra radiofônica
e levou ao ar Vende-se um Véu de Noiva, trama que havia originado a novela Véu
de Noiva, da Globo, em 1969.
Betty
Faria e Francisco Cuoco (Lucinha e Carlão) em “Pecado Capital” (1976)
Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som,
Janete Clair declarou:
“Eu acho que eu entendo um pouco da
psicologia do povo, eu sei o que é que ele gostaria de sentir naquele momento,
se é uma emoção de alegria, se é uma emoção de tristeza, se é uma emoção de drama…
Então, eu acho que, você sabendo dosar isso bem – eu não digo que seja uma
fórmula pra se atingir o sucesso – mas é uma maneira de se atingir o grande
público. É uma comunicação assim… de gente para gente, de emoção para emoção.
Eu acho que é isso, não pode ser outra coisa, eu não estudei para isso! É uma
intuição. É um sexto sentido.”
Francisco Cuoco como Herculano Quintanilha em “O Astro” (1978)
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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