As críticas pipocam por todos os lados.
“Salve Jorge é lenta e confusa” “Já vimos essa novela antes!” “São muitos
personagens, não consigo decorar os nomes!” “Lá vem as dancinhas e os bordões
estrangeiros!”.
A
audiência
- A novela de Glória Perez, depois de um mês no ar, não vem despertando grande
audiência: está com 31 pontos no Ibope da Grande São Paulo – a praça que
realmente interessa ao mercado publicitário (cada ponto equivale a 60 mil
domicílios). Sabe-se que no resto do Brasil a novela tem números melhores.
Compare com as tramas anteriores no horário –
audiência média na Grande São Paulo até o capítulo 24:
Salve Jorge: 31
Avenida Brasil (2012): 35,5
Fina Estampa (2011-2012): 38,25
Insensato Coração (2011): 31,75
Passione (2010): 31,21
Viver a Vida (2009-2010): 36,5
Caminho das Índias (2009): 34,54
A Favorita (2008-2009): 35,25
É lógico que, mesmo com 31 pontos, a novela
das nove da Globo ainda é a maior audiência da TV aberta brasileira – há mais
de 40 anos é assim -, líder isolada quando comparada à audiência da segunda
emissora concorrente no horário.
Salve Jorge estreou em pleno Horário de
Verão. Seria um fator a ser considerado – já que o Horário de Verão costuma ser
o fantasma das novelas das seis e sete horas (é um dos motivos para o baixo desempenho
de Lado a Lado e Guerra dos Sexos). Mas, historicamente, o Horário de Verão
afeta pouco a novela das nove horas. Há um ano, Fina Estampa – com dois meses
no ar – registrava números bem mais expressivos.
Déjà vu
total
- Não desmerecendo o trabalho de pesquisa da autora, Salve Jorge nos dá a
impressão de que a Turquia não passa de uma mistura de Marrocos com a Índia.
Claro que cada autor tem seu estilo. Assim como os atores com quem gosta de
trabalhar (as chamadas “panelinhas”) e os personagens e tramas que já usou
várias vezes. Mas, uma coisa é estilo, outra é repetição deslavada. Salve Jorge
parece um arremedo de O Clone + América + Caminho das Índias.
Nanda Costa chegou a ser citada em algum
momento, mas a culpa não é da atriz, que, aliás, está ótima como Morena. Nanda
defende com garra e talento a típica heroína de Glória Perez: a moça passional
e batalhadora, contestadora, que luta pelos seus objetivos, mesmo abrindo mão
de seu amor (vide Clara, Dara, Jade, Sol e Maya). O elenco é ótimo, grandioso
em talento e – principalmente – em quantidade – o que, às vezes, confunde o
público, perdido entre tantas tramas paralelas e nomes. Bom para os atores:
todos empregados.
O diretor de núcleo é Marcos Schechtmann, que
já acompanhou Glória em América e Caminho das Índias, entre outros trabalhos.
Os dois têm afinidade mas, acostumados a trabalhar sempre com a mesma equipe
técnica e artística, acabam deixando as suas novelas com a mesma cara,
esteticamente falando. Somados a isso: elenco repetido, com atores que já
estiveram com Gloria ou Marcos várias vezes, personagens com perfis
psicológicos já vistos antes, exotismo de um país longínquo, diferenças
culturais apresentadas didaticamente, figurinos folclóricos, dancinhas a todo o
momento por qualquer motivo, palavras estrangeiras ditas com a tradução em
português na sequência… Já vimos essa novela antes. E mais de uma vez.
Salve
Jorge x Avenida Brasil - Na quinta-feira (feriado de 15 de Novembro), durante a
exibição do capítulo de Salve Jorge, os tuiteiros subiram a hashtag
#EssaHoraEmAvenidaBrasil (*) para bater de frente com a trama de Glória Perez,
como uma forma de criticar a autora. Sim, existe o luto pela novela anterior.
Mas, muito mais do que isso, existe o estranhamento causado pela novela
substituta de Avenida Brasil.
A trama de João Emanuel Carneiro acostumou
mal o seu público. Direção inovadora com tomadas e fotografia cinematográficas,
atores soltando cacos (texto fora do roteiro), ritmo acelerado, ganchos
impactantes, sempre envolvendo o núcleo central, elenco enxuto, linguagem de
seriado, etc. A novela se tornou um grande sucesso e repercutiu como nunca nas
redes sociais (principalmente no Twitter e Facebook).
Aí entra Salve Jorge, com a narrativa e linha
dramatúrgica tradicional de Glória Perez, com o seu universo já conhecido,
testado, aprovado e reprovado em trabalhos anteriores, e a direção linear e
certinha de Marcos Schechtmann. O realismo e o sabor de novidade de Avenida
Brasil foram substituídos pela mais conservadora das novelas, com uma trama
central que beira o dramalhão mexicano. Realmente é uma diferença gritante.
Como se diz no Twitter: tem que ver isso aí!
(*) a palavra-chave #EssaHoraEmAvenidaBrasil
ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter.
Merchandising
social - Toda
novela quando estreia leva um tempo para cativar a audiência. Caminho das
Índias, o folhetim anterior de Glória Perez, também demorou a engrenar e terminou
com ótimo Ibope – até ganhou prêmio no exterior.
Torcemos para que Salve Jorge decole. Glória
Perez deveria focar no que sua novela tem de melhor: a trama do tráfico de
mulheres, que é o grande diferencial de Salve Jorge em relação às suas outras
novelas. O tema é interessante, chama a atenção, é atual, serve como alerta,
denuncia, levanta a discussão. Merchandising social é uma marca registrada das
novelas de Glória Perez, o diferencial que fez da autora uma das mais
talentosas e competentes de nossa televisão.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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