sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Tiago Santiago fala sobre saída do SBT


Contratado pelo SBT em 2009, Tiago Santiago encerrou seu contrato com a emissora no final de agosto deste ano.

Ainda em julho, iniciamos contato para realizar uma entrevista com o novelista, o que só foi possível agora, após um período de reflexão. Uma conversa exclusiva.

Nela, Tiago Santiago faz uma análise sobre os anos em que trabalhou na emissora de Silvio Santos. Cita as novelas "Uma Rosa com Amor", a complicada "Amor & Revolução", e fala sobre os outros dois folhetins inéditos e a série que escreveu antes de deixar o SBT, cumprindo assim o contrato.

Sobre os textos que sequer há previsão de produção, Tiago crava: "três trabalhos inéditos que acho que são os melhores da minha vida, cheios de comédia e fantasia".

O novelista abre o coração e revela como encontrou motivação para criar sem existir a promessa de gravação: "Encontrei estímulo no meu amor pela arte de escrever novelas e na necessidade de cumprir o contrato que assinei com o SBT".

Na entrevista, Tiago também fala sobre os problemas que teve com as tramas produzidas pela emissora, e os desentendimentos com seus diretores na casa, Del Rangel e Reynaldo Boury.


Ele ainda comentou sobre a dificuldade na formação de elenco e direção. E avisou: "nunca houve a tal 'carta branca' que chegaram a comentar que eu teria no SBT".

Mas o autor não se arrependeu de trocar a Record pelo canal de Silvio Santos, e se diz grato: "Não guardo mágoas do SBT. Agradeço pela liberdade que tive para escrever o que quis. E torço para que invistam em segundo horário para novelas brasileiras, produzam minhas novelas mágicas e saboreiem o sucesso".

Sem contrato na TV, ele garante que não conversou com a Globo sobre uma possível volta e relembrou seus momentos no início da carreira. Mas deixou as portas abertas para a Record, a quem elogiou: "Mais para a frente, quem sabe? Tudo depende de como as coisas evoluírem, lá e na minha vida".

Confira a entrevista exclusiva na íntegra:

Tiago, você deixou o SBT após quatro anos com 4 novelas e 1 minissérie entregues. Qual análise faz deste período?
Escrevi UMA ROSA COM AMOR, que foi belo mergulho na obra do Vicente Sesso. Deu lucro e terminou com boa audiência. AMOR E REVOLUÇÃO, única novela original que tive exibida no SBT, ficou dentro da média da emissora. Ficou dentro do orçamento e se pagou. Vai dar lucro quando for reexibida. Depois disso, escrevi mais duas novelas e uma minissérie, três trabalhos inéditos que acho que são os melhores da minha vida, cheios de comédia e fantasia, mas não têm previsão ainda de produção e exibição.

Com o saldo de 4 novelas e 1 minissérie, sendo que apenas 2 foram efetivamente produzidas, praticamente mais da metade de seu trabalho na emissora não chegou até o telespectador. Há algum incômodo por escrever uma produção enquanto ela não está no ar ou não tem perspectivas de ser exibida? Os textos estão sob posse do SBT ou poderão ser usados em outras emissoras?
Encontrei estímulo para escrever duas novelas como obras fechadas e uma minissérie de 50 capitulos, sem previsão de produção e/ou exibição, no meu amor pela arte de escrever novelas e na necessidade de cumprir o contrato que assinei com o SBT. Ainda estou terminando, na verdade, os últimos capítulos da segunda novela inédita que deixo no SBT. Esses trabalhos inéditos são de propriedade do SBT pelos próximos anos. Nada impede que eu venha a usar as mesmas temáticas em outras novelas ou livros, principalmente se não forem produzidas.

 
"Amor e Revolução" foi uma novela bastante conturbada. Em matéria recente, a produção foi classificada como um "revés", termo o qual você discordou. Conte-nos sobre como classifica todo o contexto da trama.
AMOR E REVOLUÇÃO foi minha única novela adulta, uma novela que entrou para a história da teledramaturgia. Marcou por ser a primeira novela brasileira sobre a ditadura. Fui muito atacado pela direita e uma associação de militares da reserva quis censurar a novela.  Os depoimentos reais pararam de ser exibidos na semana em que o ex-marido da Dilma estava falando. Reunimos uma coleção de depoimentos sobre esta época que espero que seja preservada. Depois tentei levar a novela também para o lado da liberação sexual da época. Foi a primeira novela a exibir beijo entre iguais, beijo mesmo, não bitoquinha, entre as personagens de Luciana Vendramini e Gisele Tigre. Ganhei prêmios de direitos humanos, de cidadania, das paradas LGBT do Rio e de SP. Foi minha novela de menor audiência, mas ficou dentro da média do SBT. Descobri que as pessoas não querem ver os horrores da ditadura. Quis interferir na edição para suavizar as cenas de tortura já escritas, mas não consegui. Valeu a pena, não me arrependo, mas não quero mais escrever novelas adultas. Minhas próximas novelas serão de novo para toda a família,

Na Record, você trabalhou com Herval Rossano, que veio a falecer em 2007, e todos os trabalhos seguintes com Alexandre Avancini. Já no SBT, os trabalhos foram com Del Rangel e Reynaldo Boury. Como avalia a sintonia com cada um deles?
Herval Rossano foi um grande mestre, praticamente supervisionou a primeira novela que escrevi como titular, o grande sucesso "A ESCRAVA ISAURA", da Record. Alexandre Avancini fez comigo os maiores sucessos de minha vida, PROVA DE AMOR e a trilogia dos MUTANTES. Avancini é realizador brilhante, um amigo querido e temos muita vontade de voltar a trabalhar juntos. No SBT, houve problemas de comunicação com Del Rangel, mas prefiro não entrar em detalhes para não ser deselegante. O importante é que UMA ROSA COM AMOR foi um sucesso, por conta da boa história, do bom elenco e da boa equipe com que trabalhamos. O Reynaldo Boury estava no chinelo e nos pijamas da aposentadoria, quando eu o convidei. Sabe muito de TV e é bom que esteja na ativa, no SBT. Houve um momento em que quis sim interferir na edição das cenas pesadas, sem sucesso, e isso acarretou desentendimentos, já superados. Mais uma vez, o que fica é a bela novela que fizemos juntos.



Nos tempos de "Uma Rosa com Amor", assim como em "Amor e Revolução", houve fortes rumores de desentendimentos entre você e seus diretores. Com Del Rangel, foi falado em discordância na escolha do elenco e posteriormente na fotografia e técnica. Já com Boury, foi falado que você chegou a dispensá-lo e que estaria disposto a assumir a direção. O que realmente aconteceu nas duas ocasiões?
As divergências com o Del foram mais por conta de cenários, escolha de locações, questões administrativas, não pelas razões citadas na questão. Do meio da novela em diante, não tínhamos mais dinheiro para participações, figurantes e externas, e tive que adaptar todo o final para que pudesse ser gravado no SBT. Porém, ficamos dentro do orçamento, deu lucro, fez sucesso, foi reexibida, e é isso que vale no final. O Del não saiu do SBT por minha causa, mas por algum problema que teve com a Livia Andrade, salvo engano. Com o Boury, houve momentos difíceis, mas que passaram. Voltamos a falar bem. Fechamos AMOR E REVOLUÇÃO dentro do orçamento. A novela tem muitos méritos, contou para muita gente o que aconteceu na época da ditadura. Voltaria a trabalhar tanto com o Del quanto com o Boury. São profissionais de muitas realizações. Todos merecem respeito.

Em 2009, quando acertou sua transferência para o SBT, a Record se blindou e manteve em seu casting vários nomes ligados a você, como Bianca Rinaldi, Renata Dominguez, o diretor Alexandre Avancini, entre outros. Até mesmo familiares, como sua ex-mulher Ligia Fagundes, seus sobrinhos Juliana Xavier e Rick Tavares, e sua mãe Helena Xavier ficaram na Record. A ideia inicial era contar com alguns deles na nova emissora ou já acreditava na possibilidade de ter que começar praticamente do zero?
Quando saí da Record, meus familiares estavam contratados lá. Já sabia que não poderia contar com eles. O Alexandre Avancini, eu bem tentei trazer, mas não consegui, porque na verdade nunca houve a tal "carta branca", que chegaram a comentar que eu teria no SBT.

Como vê as apostas do SBT na adaptação de textos infantis, mexicanos e de orçamento menor em vez de novelas adultas, brasileiras e de maiores investimentos?
O SBT tem força com o público infantil, e isso é ótimo para eles, é chamariz para toda a família e pode servir para cativar audiência. Torço muito para que o SBT deixe de ser a emissora das novelas mexicanas e seja também das novelas brasileiras. Espero que a inteligência brilhante de Silvio Santos o leve a tomar em breve a decisão de um segundo horário para novelas brasileiras. O SBT tem dois estúdios para gravar uma novela de cada vez. A Globo com quatro estúdios, na época da Rua Von Martius, gravava três novelas em quatro estúdios. O Roberto Marinho colocou a Globo em primeiro lugar em audiência e faturamento porque investiu em grade com três novelas brasileiras inéditas e colocou o Boni lá para cuidar.

A Record atualmente tem 10 estúdios no Rio de Janeiro. A maioria deles sequer é usado devido à falta de demanda. Após a sua saída, os patamares de audiência caíram e os destaques no setor ficaram mais escassos, acarretando assim em demissões e em mudanças de diretoria. Como avalia este momento? O que houve de errado?
O pessoal da Record pensa grande, por isso construíram dez estúdios. Estão num momento de controle de fluxo de caixa para fazer face a esses investimentos. Mais à frente, essa questão estará sanada, e eles poderão voltar a investir com capacidade multiplicada, pelas facilidades construídas. Acredito que a Record tem potencial para reverter o atual quadro de dificuldades e dar muito trabalho ao SBT na luta pela vice-liderança. A depender das decisões que forem tomadas, podem mesmo ameaçar a liderança da Globo.


Rumores circularam na imprensa no começo deste ano que houve negociação para viabilizar o seu regresso à Record por intermédio de Honorilton Gonçalves. Realmente houve esta conversa? E agora? Existe alguma negociação com a Record?
Tenho as maiores médias de novelas da Record, junto com o Alexandre Avancini. Ajudei a implantar o Núcleo de Teledramaturgia lá, com grande sucesso. A Record está com sua grade fechada para as próximas  novelas, do Carlos Lombardi e da Christianne Fridman. Mais para a frente, quem sabe? Tudo depende de como as coisas evoluírem, lá e na minha vida.

Recentes informações deram conta que você teve uma reunião com a Globo sobre um possível retorno. Procede? Como andam as conversas?
Comecei a trabalhar na Globo com 19 anos. Saí de lá com 41 anos. Fui ator, analista de textos, colaborador em novelas que viraram fenômenos de audiência (VAMP, UGA UGA, MALHAÇÃO 2001, entre outras), coordenador do Você Decide, durante anos. Visitei o Mario Lucio Vaz, que respeito muito e não via há anos, mais para agradecer pelas oportunidades que tive lá.  Foi a única reunião, por enquanto. A Globo é uma excelente empresa para se trabalhar, tem a maior audiência em novelas. Conheço muita gente lá. Avisei aos amigos que estou no mercado.

Quando você deixou a Record, alegou que não vinha sendo valorizado financeiramente e que sua novela em cartaz, "Promessas de Amor", teve orçamento reduzido. A emissora optou por não cobrir a proposta do SBT e você rescindiu seus contratos de autor e consultor. Restou alguma mágoa ou ressentimento? E em relação ao SBT?
Não tenho nenhuma mágoa da Record. Tive lá minha primeira oportunidade como autor titular de novelas. Fiz os maiores sucessos da minha carreira naquela emissora. Saí porque tive proposta financeira irrecusável do SBT. Não me arrependo de nada. Também não guardo mágoas do SBT. Agradeço pela liberdade que tive para escrever o que quis. E torço para que invistam em segundo horário para novelas brasileiras, produzam minhas novelas mágicas e saboreiem o sucesso.

No SBT, seu time de colaboradores era mais seleto e contou com nomes como Waldir Leite, que já havia trabalhado com você em outras ocasiões, Elliana Garcia e Miguel Paiva. Pretende tê-los de novo em suas próximas novelas, independentemente da emissora?
Os nomes que você citou são de excelentes profissionais e ficaria feliz de voltar a trabalhar com qualquer um deles. Há outros excelentes escritores no mercado.

O mercado de dramaturgia vem passando por severas mudanças. A Globo, que vinha apostando em contratos mais longos para evitar perda de artistas para a Record, adota estratégia contrária. A Record, por sua vez, trabalha cada vez mais com compromissos por obra. O SBT mantém a mesma filosofia, de contratos apenas por trabalho. Como avalia este atual momento? Acredita que esta seja realmente uma nova tendência de produção ou que ela só surge pelo desaquecimento do mercado?
Acho que será cada vez mais frequente contratar apenas por obra, por questões financeiras. Porém acredito também que todas as emissoras continuarão a manter grandes artistas contratados por períodos longos.

A Globo já fez vários trabalhos com parcerias de produtoras. A Record já fez novelas com produtoras e cogita estreitar os laços com elas no campo da dramaturgia. A Band, quando fez novelas, também terceirizou estúdios e produção. O que você acha disso?
Penso que essa tendência a terceirizar vai crescer, nas emissoras abertas e também nos canais fechados.

Em suas entrevistas como contratado do SBT, com certa frequência se era falado da necessidade de se manter um núcleo de dramaturgia forte e ativo em São Paulo, que é a maior cidade do Brasil. Com "Chiquititas" e com produções independentes de produtoras como a Mixer, Casablanca e outras, que têm crescido graças às leis de incentivo e as de conteúdo nacional, acredita que o objetivo foi alcançado?
São Paulo sempre vai produzir muito. Isso é inevitável, é da natureza da cidade, motor do Brasil. O sonho de ver uma fábrica de novelas brasileiras inéditas em pleno funcionamento em São Paulo ainda não foi alcançado.

Graziella Schmitt, a Maria Paixão de "Amor e Revolução", será protagonista de uma novela em Portugal. Como reagiu ao saber da notícia que uma protagonista sua agora faz parte de um importante e ousado projeto no exterior?
Fico feliz pela Graziella Schmitt, ótima e linda atriz, que tem mesmo qualidades para protagonizar.


Longe da TV, você está escrevendo seu primeiro filme, "Apaixonados", que contará no elenco com nomes como Pedro Malta, Marcela Barrozo, Ricky Tavares e Juliana Xavier. Como será o longa? Como andam os preparativos? Há previsão de lançamento?
Estou trabalhando neste projeto. Quero fazer um lindo filme, uma comédia romântica elegante e engraçada, com temática adolescente. Espero realizá-lo no ano que vem, possivelmente exibir no verão de 2014/2015. Tudo vai depender de patrocínios e distribuição.

Por fim, vários telespectadores se cativaram com suas novelas. O romancismo de "A Escrava Isaura", a simpática história do Velho Gui, Nininha, Joãozinho e Eduardo em "Prova de Amor", a saga de aventura de "Os Mutantes", o casal Serafina e Claude... O que estes telespectadores podem esperar de você para os próximos meses? Qual mensagem você deixa para todos?
Vou continuar a trabalhar, independentemente de ser contratado para escrever novelas em outras emissoras, nos próximos meses. Penso em escrever minhas histórias em forma de romances, investir na carreira literária, no cinema, em produções independentes, enquanto não se define o que vai acontecer na minha carreira de novelista. A mensagem que deixo é que busquem realizar o que amam, façam a vida se transformar numa bela história que valha a pena ser contada.

Fonte: Na Telinha

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