quinta-feira, 3 de outubro de 2013

As caravanistas que lotam os auditórios da TV


Às 8h de uma terça-feira, 200 mulheres já estão reunidas nos bastidores do estúdio três do Sistema Brasileiro de Televisão, em Osasco (SP), aguardando a gravação do "Programa Silvio Santos". Em uma sala com diversas cadeiras, elas recebem lanches, broches com seus nomes, passam rapidamente pelas mãos dos cabeleireiros e maquiadores da emissora, fazem chapinha nos banheiros disponibilizados exclusivamente para elas e ouvem as dicas do diretor de auditório, o lendário Roque, que trabalha com Silvio há 52 anos, e sua equipe."Nada de gritar 'lindo', 'gostoso', 'tesão' para o Silvio. Ele não gosta dessas coisas", informa uma organizadora.

Aos 55 anos, Lívia perdeu seu único filho quando ele tinha apenas 15 anos. Nos bastidores das emissoras, ela é conhecida como a "velhinha beijoqueira" do auditório.

"Adoro beijar! Já dei selinho no Rodrigo Faro, no Celso Portiolli, no Danilo Gentili, no Gilberto Barros, no Marcos Mion, em diretor da Globo", enumera a moradora de Embu (SP).

Ver um artista de perto sem ter que gastar muito, se divertir, desfilar sua melhor roupa ou até mesmo ganhar prêmios e dinheiro são alguns dos motivos que levam homens, mulheres, idosos e adolescentes a saírem de casa para acompanhar a gravação de um programa de TV.

A rotina dos caravanistas e das pessoas que acompanham cerca de 25 programas de auditório, no ar hoje na televisão brasileira, é puxada. É preciso ter disposição para ficar pelo menos oito horas dentro de um estúdio, sem almoço, em pé ou sentado por algumas horas, sem perder animação nos aplausos.


Profissão caravanista - Maria de Lourdes Correia de Oliveira, de 62 anos, é uma das caravanistas responsáveis por alegrar programas de todas as emissoras. Há 35 anos, ela foi descoberta por Roque na plateia do SBT e, nas últimas décadas, frequenta os auditórios de programas como "O Melhor do Brasil", "Domingão do Faustão" e "Sábado Total".

"Lurdona", como é conhecida, orgulha-se ao posar com os chapéus que ganhou da dupla Chitãozinho & Xororó e ao mostrar as fotos que tem ao lado de Silvio Santos.

"Uma vez cortei meu vestido de noiva para fazer uma fantasia de baiana e ir a uma gravação do programa do Silvio. Ele me chamou no palco, dançamos, ele fez piada com a minha roupa, foi um show...", relembra a caravanista de Santo André, aos risos.

O trabalho do caravanista para captação de pessoas é diário. É preciso ir a escolas, universidades, bater perna pelo bairro e divulgar seu trabalho. Dois dias antes da gravação, eles precisam estar com a lista de participantes fechada. "É preciso estar ligado 24 horas por dia. Acaba uma gravação e você já está agendado a próxima. Sou conhecido no bairro como 'o cara da caravana'", diz o radialista, Jefferson Gomes, 26, morador do bairro de Interlagos, Zona Sul de São Paulo.

Funcionária do SBT há quatro anos, Lucia Batata, 58, trabalhou durante 15 anos como caravanista e graças ao seu jeito espontâneo e irreverente foi convidada pela equipe de auditório a integrar o time formado por 12 pessoas. "Tornei-me caravanista por causa do Roque, que me incentivou. Tirava de R$ 2.000 a R$ 3.000 por mês. E aos 54 anos, jamais imaginei arrumar um emprego no SBT". Ela é responsável por recepcionar os convidados e animá-los.


Globo e Record não dão cachê - "A rotina do organizador de plateia é comum, assim como a de outros trabalhadores brasileiros", afirmam os caravanistas ouvidos pela reportagem. São pelo menos quatro gravações semanais e o salário varia de R$ 3.000 a R$ 4.000 por mês.

Segundo apuração da reportagem, a Band paga R$ 220 aos seus 300 caravanistas cadastrados no banco de dados, cada vez que eles participam de um programa; o SBT dá R$ 250 e a RedeTV!, R$ 50. Rede Globo e Record não dão ajuda de custo.

Para complementar a renda, os caravanistas cobram de seus convidados de R$ 5 a R$ 30, dependendo da atração de cada programa. Em média, cada caravanista precisa ter grupos de 20 a 60 pessoas para cada gravação.

70% dos caravanistas são chefes de família e durante janeiro e fevereiro precisam se organizar, já que são meses em que não têm gravações. Como alternativa, a maioria organiza excursões para parques de diversões e cidades do litoral e interior de São Paulo.

Se animou e quer passar o dia acompanhando a gravação de um programa? Separe sua roupa mais bonita, prepare o make, leve pelo menos dois sapatos, já que terá que esperar por pelo menos quatro horas para o início das filmagens, e convide seus amigos.

Fonte: UOL

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