Em um país onde se lê em média apenas quatro
livros por ano, o escritor brasileiro Marçal Aquino considera ter um atalho
para difundir sua obra.
"Tenho um jeito especial. Meus livros
são adaptados para o cinema. Isso é muito importante se você quer atingir as
pessoas", disse Aquino à Reuters na Feira do Livro de Frankfurt, na
Alemanha.
Seu romance mais recente, "Eu Receberia
as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", recebeu excelente críticas e
vendeu 25 mil exemplares desde o lançamento, um best-seller para os padrões
brasileiros, embora seja um número pequeno para os padrões internacionais.
Já a adaptação cinematográfica homônima foi
vista por milhões na TV.
É a terceira obra de Aquino adaptada para o
cinema. Seus roteiros já lhe valeram vários prêmios no Brasil e no festival de
Sundance, nos Estados Unidos. O autor também já publicou livros infantis e
romances policiais.
"Não sei quem lê meus livros",
disse ele. "Mas com a TV você pode dizer quantas pessoas assistiram e até
quem assistiu. Esse é um grande desafio. Você precisa apanhar as pessoas."
"Eu Receberia as Piores Notícias..."
se passa em Santarém, no Pará, descrevendo o relacionamento de um fotógrafo com
uma ex-prostituta casada com um pastor evangélico. As tensões entre garimpeiros
e mineradoras, a corrupção e a traição são temas subjacentes.
"Estive lá como jornalista na década de
1980 e vi a corrida do ouro, a prostituição, todas as realidades de uma cidade
pequena", disse ele. "Ao escolher aquela locação para a minha
história, eu podia falar sobre a violência de lá e como o amor pode se
desenvolver em um ambiente desses."
Quando voltou ao interior do Pará para
escolher as locações do filme, anos atrás, ele descobriu que "nada havia
mudado". Até por isso, pouca gente deve ler o romance na região.
"Dá para pensar em alguém no Norte do
Brasil lendo livros? Não dá para ler quando você precisa se preocupar com o que
comer", disse ele.
Aquino, de 55 anos, fez carreira como
jornalista, mas se lançou na literatura aos 26 anos, publicando por conta
própria um volume de poesias.
Para o autor, a falta do hábito de leitura no
país se deve a deficiências no sistema educacional. Ele mesmo nunca teve livros
na casa onde foi criado com nove irmãos, em Amparo, a 120 quilômetros de São
Paulo.
Ele disse que por muito tempo considerou que
não haveria chance de mudança nas condições de vida no país, mas que depois dos
protestos de junho surgiu um lampejo de esperança.
"Há muito mais para vir", disse
Aquino. "Não dá para prever o que vai acontecer. Essa é a beleza da coisa.
Mas pela primeira vez na minha vida espero pela grande mudança."
Fonte: UOL
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