quarta-feira, 13 de julho de 2011

Natalie muda perfil depois de 150 capítulos


Natalie Lamour (Deborah Secco), uma das personagens principais de “Insensato Coração”, foi apresentada desde o primeiro capítulo da novela como uma ex-participante de reality show disposta a fazer qualquer coisa para aparecer e progredir na vida.

O alvo da sua cobiça, inicialmente, eram as revistas de celebridades e as de mulher pelada. Julgava que aparecendo assim conseguiria encontrar um homem rico para se casar.

Em busca da fama, roubou convite para ir numa festa, deu sonífero para uma rival, empurrou outra num evento e tirou a roupa numa entrevista, entre outros pequenos golpes. Tinha, porém, um princípio: não se prostituía.

Além da falta de caráter, os autores pintaram Natalie como uma pessoa muito ingênua e ignorante. A vontade de subir na vida a qualquer preço sempre esbarrou na sua falta de visão e cultura.

O romance com o banqueiro Horácio Cortez (Herson Capri) não modificou Natalie. No esforço para se dar bem, continuou se equilibrando, em doses iguais, entre mau-caratismo e ignorância.

Aceitou o papel de “amante”, mas fez mil e uma maldades com a mulher do banqueiro, Clarice (Ana Beatriz Nogueira), até ela pedir a separação. Ao mesmo tempo, acabou sendo responsável pela prisão de Cortez porque, deslumbrada, ficou arrumando as malas sem pressa em vez de fugir.

Expulsa da mansão por Rafa (Jonatas Faro, foto ao alto), filho do banqueiro, Natalie pediu ajuda ao advogado de Cortez em cena exibida na última quinta-feira. Wagner (Edaurdo Galvão, foto ao lado) insinuou que tinha uma informação importante para ela e sugeriu uma troca.

Na cena seguinte, vimos Natalie se vestindo, depois de ter feito sexo com o advogado. Ele a informou que o banqueiro havia transferido a propriedade da mansão para a mãe dela. Ou seja, sem maiores explicações, ela abandonou o único princípio que tinha e ofereceu o corpo em troca de uma informação.

Na sexta-feira, Natalie se vingou de Rafa. Voltou a morar na mansão e expulsou o filho do banqueiro. Subitamente, adquiriu um vocabulário rico, que não havia usado em nenhum dos 150 capítulos anteriores. “O motivo pelo qual o Horácio fez ou deixou de fazer qualquer coisa, não vem ao caso”, disse ela ao garoto.

Em outra cena, conversando com a mãe (esq.), que ficou horrorizada ao descobrir que foi usada como “laranja” pelo marido da filha, Natalie voltou a usar um vocabulário rebuscado. “Isso é uma proteção de patrimônio”. Diante do protesto de Haidê (Rosi Campos), a filha emendou: “Chega, chega! Para de romantismo. Para com essa ética de pobre”.

“Eu olho pra você e não te reconheço”, respondeu a mãe. O público diz o mesmo.

Não se espera de uma novela apego ao realismo. O melodrama na televisão vive da insensatez, dos delírios, da realização de impossibilidades. Esta é uma das chaves do sucesso do gênero. Mas, dentro da sua loucura, existe uma lógica em toda a novela. Mudar o perfil e o jeito de falar uma personagem depois de 150 capítulos pode ajudar na audiência, mas não está à altura do talento dos autores.

Por Maurício Stycer, do UOL

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