Na TV há 46 anos, Regina Duarte, de 64, sabe que não é fácil fazer novela de sucesso. Em entrevista, a atriz – que está no ar na reprise da novela “Vale Tudo”, do canal Viva, e poderá ser vista, em breve, em “Roque Santeiro”, também do canal Viva, e “O Astro”, da Globo – diz que a teledramaturgia sofreu um desgaste natural, mas, apesar disso, ainda defende o gênero. “De vez em quando vem um ‘Cordel Encantado’, uma ‘A Favorita’, mas em geral as novelas têm repetido suas fórmulas com elenco diferente”, afirma.
Para ela, faz parte do processo de evolução da teledramaturgia patinar de vez em quando e, de repente, ter um avanço criativo extraordinário. “Não dá para querer estar sempre fazendo sucesso. Nunca foi assim. Quantas novelas foram feitas e que nunca vão virar remake? É humano acertar e errar, é o que a gente faz o tempo todo”, argumenta ela, confessando, contudo, que tem se surpreendido com a audiência de “Vale Tudo”. “A repercussão é enorme. É como se eu estivesse no ar na novela das nove”, afirma, aos risos.
Em “O Astro”, que estreia dia 12 de julho, Regina vai dar vida à fútil e fofoqueira Clô Hayalla, papel que coube à atriz Tereza Rachel no folhetim homônimo exibido em 1977 na emissora. Para encarnar a perua, ela revela que perdeu três quilos e meio. “Quis emagrecer porque a Clô é uma mulher elegante. E o rosto mais fino fotografa melhor”, justifica.
Na história, adaptada da obra de Janete Clair, Clô é casada com o poderoso Salomão Hayalla (Daniel Filho), que só pensa em trabalho e não liga a mínima para ela. Além de ter de lidar com a indiferença do marido, a dondoca ainda tem problemas com o único filho, Márcio (Thiago Fragoso), que apesar de milionário, é completamente desapegado de seus bens materiais.
Para fugir dessa realidade, a personagem começa a ter um caso com o jovem e ambicioso Felipe Cerqueira (Henri Castelli). “Ela trai porque quer se vingar do abandono em que se encontra em função do descaso e da agressividade, dos maus-tratos do marido”, adianta Regina, acrescentando que, ao contrário de Clô, não se interessaria por um homem muito mais novo do que ela. “Não faz a minha cabeça. Já fui casada com uma pessoa dez anos mais nova que eu, mas sempre me senti mais nova que ele”, conta, às gargalhadas. Leia, a seguir, a entrevista completa com Regina Duarte:
Como você definiria a sua atual fase na TV?
É um momento glorioso. Tem “Vale Tudo”, agora vem “Roque Santeiro” [a reprise da novela estreia dia 18 de julho, no canal Viva], “O Astro"...
Você assiste à reprise de “Vale Tudo” no canal Viva?
Eu assisto 60% dos capítulos e a repercussão é enorme. É como se se eu estivesse no ar na novela das nove [risos]. As pessoas me reconhecem demais. Antes de “Vale Tudo”, dificilmente me reconheciam sem maquiagem, sem estar montada. Mas agora, me reconhecem de qualquer jeito. Me param, sinto um carinho enorme, é uma repercussão fantástica.
Em “O Astro”, você vai interpretar Clô Hayalla, personagem que teve bastante destaque quando foi interpretado por Tereza Rachel, em 1977. Como está sendo reviver um papel tão marcante?
Eu me sinto agradecida à TV Globo por me proporcionar mais essa grandiosa experiência como atriz.
Você assistiu à novela em 1977?
Não. Na época, eu estava viajando o norte e o nordeste com o espetáculo “O Santo Inquérito”, do Dias Gomes. A gente se apresentava no horário da novela e não havia o recurso da internet, para rever os capítulos. Vi muito pouco e não me lembro, foi um momento bastante turbulento da minha vida. Viajar com uma peça é extremamente tumultuado. Foi um ano difícil. Tem um lado bom porque estou com a minha intuição e muita liberdade, sem referência nenhuma. Por outro lado, admiro demais a Teresa Rachel. E sei que foi uma interpretação magistral.
Na história, a Clô é uma mulher que não se sente amada pelo marido e acaba se envolvendo com o Felipe [Henri Castelli], rapaz anos mais novo que ela. Como será essa relação?
Até onde eu sei, a Clô não se apaixona por esse garoto. Ela está carente e com raiva do marido. Ela faz isso como uma vingança – muitas mulheres fazem isso quando se sentem incompreendidas pelos maridos. O caso da Clô é um pouco por aí. As intenções dele [Felipe] são econômicas, mas as dela são de vingança. É uma mulher que o marido nem olha, só olha para o trabalho. Ela também está num momento de desequilíbrio porque o filho é internado num hospital psiquiátrico.
Mas ela sabe que o Felipe só está com ela por interesse?
No primeiro encontro ela já percebe que ele está interessado no dinheiro dela. Mas o que ela quer é se vingar do abandono em que se encontra em função do descaso, da agressividade e dos maus-tratos do marido.
Você acredita na relação de uma senhora com um jovem?
Claro que acredito. E dá certo! Não me impressiona. Mas eu não me envolveria numa relação assim. Não faz a minha cabeça. Já fui casada com uma pessoa dez anos mais nova que eu, mas sempre me senti mais nova que ele [risos]. Mas foi o máximo, mais que isso eu não fiz.
O que você acha da obra de Janete Clair?
Ah, eu acho o máximo! A Janete era minha fada madrinha, fiz muita coisa dela. Tenho uma identificação com as obras dela! É a autora que melhor traduz o espírito do folhetim, da telenovela. Ninguém soube fazer isso como ela. Estar novamente em uma obra adaptada, que está sendo atualizada, está me deixando encantada. E aquela fantasia, a falta de pudor e de viajar no sonho é fantástica.
Você acha que a magia das telenovelas se perdeu?
O gênero teve um desgaste natural. De vez em quando vem um “Cordel Encantado”, uma “A Favorita”, mas em geral as novelas têm repetido suas fórmulas com elenco diferente. Acho que faz parte do processo de evolução patinar de vez em quando e, de repente, ter um avanço criativo extraordinário. Não dá para querer estar sempre fazendo sucesso. Nunca foi assim. Quantas novelas foram feitas e que nunca vão virar remake? É humano acertar e errar, é o que a gente faz o tempo todo.
Mas então a que você atribui esse sucesso todo das reprises do “Viva”?
Quem vê “Vale Tudo” e revê é como fazer um flashback da sua própria vida. Isso é muito bonito. É como usar um perfume com 16 anos e voltar a usar aos 40. Quando você puser, vai se sentir de novo com 16 [risos].
“O Astro” trata de astrologia, vidência, telepatia e mágica. Você acredita nessas coisas?
Acredito em tudo [risos]. Acho o ser humano infinito em suas capacidades.
Já foi a astrólogos, tarólogos ou cartomantes?
Nunca fui. Para não dizer que não, uma amiga me levou em Miami, numa cubana. Mas foi um programa de lazer. Ela até acertou, mas em frases que cabiam para todo mundo. Ela me disse: “Você precisa parar de se preocupar com os outros e se preocupar mais com você” [risos].
Foi veiculado na imprensa que você fez tratamentos para rejuvenescer. O que você fez?
Eu ganhei um tratamento de sessões de laser que nem sei o nome. Cheguei a fazer dois. É isso. E fiquei muito bem. Estou melhor? Alguém nota? Eu me sinto muito bem! [risos].
Mas você já colocou botox, fez preenchimento ou outros tratamentos?
Nunca fiz botox. Preciso de toda a minha musculatura livre! Preciso de expressões.
Você lida bem com o envelhecimento?
Envelhecer não é fácil, mas a gente tem de enfrentar. Estou ficando velhinha e vou ficar cada vez mais. Vocês vão ter de me aguentar assim [risos]. E eu também vou ter de me aguentar assim.
Você teve de fazer alguma mudança de visual para interpretar a Clô?
Perdi três quilos e meio em três meses. Mas porque quis. A Clô é uma mulher elegante e o rosto mais fino fotografa melhor no vídeo.
O que fez para perder peso em tão pouco tempo?
Só diminuí as porções, passei a beber muita água e a comer de três em três horas, mesmo sem fome. Com duas colheres de arroz, uma colher de caldo de feijão e um pedaço de bife fico plena. Açúcar é difícil, não consigo cortar. Pelo menos no café. Mas tirei bolo e doces. E como pão só uma vez por dia, até três da tarde. Depois, não mais.
Você faz exercícios?
Faço, mas não tenho feito. Deveria fazer mais, pelo menos caminhar uns 40 minutos umas quatro vezes por semana. É muito importante. Quanto mais exercício você faz, mais energia tem. Se eu passar uma semana sem fazer uma caminhada, deprimo. Não consigo levantar de manhã, fico naquela onda “viver dá muito trabalho”.
Fonte: UOL
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