terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Novas séries: os trunfos da Globo em 2010

 Tem gente que simplesmente não gosta da Rede Globo. Não importa o que a emissora produza. Nada agrada e tudo é motivo de reclamação, queixa e detonação. Não consigo entender isso, mas como livre-arbítrio é o bem mais precioso que Deus nos deu, cada um sabe de cada um. Fico muito feliz com o crescimento da Record, aplaudo a iniciativa do SBT de não interromper o departamento de dramaturgia e por voltar a exibir tramas latinas. A CNT também está importando tramas feitas por nossos hermanos, o que é ótimo, já que o mercado para elas é muito grande aqui. E é uma pena que a Band e a RedeTV! realmente não queiram investir em novelas. Mas, quer saber: tudo bem. A Band é mesmo a emissora dos esportes e a RedeTV! abriu o mercado para programas variados, o que é bom também. Mas 2010 foi mesmo o ano da Globo. É verdade que sua mais importante produção, a poderosa trama das 9, naufragou. Nem tanto em audiência – nas últimas semanas não ficou abaixo dos 40 pontos – mas no que se refere à qualidade. Apesar do elenco fenomenal, Passione nunca teve pé nem cabeça. Mas, felizmente, a emissora levou ao ar delícias de se assistir como Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor, Escrito nas Estrelas, Ti-Ti-Ti, Araguaia, Força-Tarefa, Junto e Misturado, Separação?! e A Grande Família. Além dos quatro melhores programas do ano: A Cura, As Cariocas, Afinal, O Que Querem as Mulheres? e Clandestinos – O Sonho Começou. E é sobre eles que vou falar.

A Cura


Não me lembro da última vez em que uma emissora levou ao ar quatro atrações de tanta qualidade. Eu adorei o episódio final de A Cura, mas ele realmente provocou polêmica e será inadmissível que a Globo não exiba uma segunda temporada. Mas fora esse detalhe, a série só confirmou o talento de João Emanuel Carneiro – desta vez em parceria com Marcos Bernstein – para surpreender o público. Mais uma vez ele conseguiu fazer com que o personagem aparentemente injustiçado fosse, na verdade, o grande vilão da história. E olha que Flora (Patrícia Pillar), de A Favorita (2008), continua muito viva na memória do público. E mesmo assim, ele fez de novo, sem que a gente percebesse nada. Brilhante! O texto impecável foi amparado pelas atuações magistrais de Juca de Oliveira e Selton Mello, que nos confundiram o tempo todo. Destaque ainda para a apurada fotografia, a trilha sonora que envolvia o público e o elenco formidável: Andréia Horta, Carmo Dalla Vecchia, Ary Fontoura, Nívea Maria, Ana Rosa, Jackson Antunes e as revelações Eunice Bráulio e Inês Peixoto. Quero mais! Quero mais! Quero mais!

As Cariocas


Daniel Filho e sua equipe bancaram o Woody Allen. Explico: mesmo quando o filme do cineasta americano não é bom, é melhor do que 90% de tudo o que estiver em cartaz na mesma época que ele. Ou seja: mesmo quando não brilha, Allen não decepciona. E foi assim com As Cariocas. Nem todos os episódios tiveram a maestria de A Vingativa do Méier, A Atormentada da Tijuca e A Iludida de Copacabana. Outros, como A Traída da Barra, A Internauta da Mangueira e A Desinibida do Grajaú foram muito bons também. E A Adúltera da Urca e A Invejosa de Ipanema tiveram bons e maus momentos. Apenas A Noiva do Catete foi fraquinho e A Suicida da Lapa não agradou mesmo. Mas um detalhe impecável uniu e foi comum a todos os capítulos: a narrativa de Daniel Filho. Ele estava totalmente à vontade declamando o texto de Sérgio Porto e as adaptações bem fiéis de sua equipe de roteiristas.

O rendimento do elenco segue mais ou menos a ordem citada acima. Adriana Esteves foi a melhor de todas as cariocas, talvez, por ser realmente nascida no Méier e saber representar com maestria a alma da típica moradora da Cidade Maravilhosa. Também carioca, Fernanda Torres foi outra que brilhou muito em A Invejosa de Ipanema, mesmo que sua personagem lembrasse demais a Vani, de Os Normais. Depois delas, as “estrangeiras” Paola Oliveira (A Atormentada da Tijuca), Alessandra Negrini (A Iludida de Copacabana), Grazi Massafera (A Desinibida do Grajaú) e Angélica (A Traída da Barra) foram as melhores. Mas não tenho como não reverenciar também Cíntia Rosa (A Internauta da Mangueira), Sonia Braga (A Adúltera da Urca), Alinne Moraes (A Noiva do Catete) e Deborah Secco (A Suicida da Lapa). Entre os coadjuvantes, destaque absoluto para Eduardo Moscovis, que arrasou em A Internauta da Mangueira, simplesmente perfeito como o sujeito do morro, que só pensa em futebol, cerveja e na fidelidade da mulher. Gabriel Braga Nunes (em A Atormentada da Tijuca), Regina Duarte (A Adúltera da Urca), Ailton Graça e Bárbara Paz (A Vingativa do Méier), Marcelo D2 e Carla Daniel (A Desinibida do Grajaú), Eriberto Leão e Thiago Lacerda (A Iludida de Copacabana), Cássio Gabus Mendes (A Suicida da Lapa) e Luiz Miranda (A Traída da Barra) também arrasaram. Parece que a Globo vai produzir As Paulistas, no ano que vem. Se for verdade, ano que vem poderemos ter A Gostosona do Morumbi, A Distraída da Vila Madalena ou A Exagerada de Itu. E quero dar boas gargalhadas com elas também. Vamos ver…

Afinal, O Que Querem as Mulheres?


Continuo sem saber responder a essa pergunta. Mas a série foi um triunfo de Luiz Fernando Carvalho, que deve melhorar ainda mais se for assistida sem interrupção. A saga do psicólogo André Newman (Michel Melamed) não era para qualquer público. E não há nenhum juízo de valor nisso. Nem envolve questão de inteligência, cultura… nada disso. É apenas gosto mesmo. O programa foi criado para quem gosta de narrativas nada convencionais, montagens ágeis e cheias de pegadinhas e um visual cheio de cor. O seriado teve tantas qualidades que fica até difícil começar a enaltecê-las. Primeiro, a câmera era lindíssima e parecia mergulhar dentro de André e dos outros personagens, como se tentasse desnudá-los. Ao mesmo tempo tinha uma distância delicada, como se não quisesse atrapalhar o que estava sendo desenvolvido. A direção de arte foi outro deslumbramento, assim como a fotografia e a trilha sonora. Amei a abertura e a canção Nome à Pessoa, composta e interpretada pelo próprio Melamed. Quando acabei de assistir ao primeiro episódio, falei mal de Vera Fischer. E ela realmente se tornou uma atriz ruim, mas a canastrice da ex-Deusa foi usada maravilhosamente bem pelo diretor para criar uma personagem que era o exagero em forma de gente. Uma típica mãe dos filmes de Federico Fellini e que foi um dos pilares da vida de André. A maravilhosa Paola Oliveira encarnou a musa do protagonista com inteligência, mesmo que, na maioria das vezes, não dissesse uma só palavra. Sua fortíssima expressão facial e a emoção que jogava nas cenas se encarregavam de passar a mensagem que ela bem desejasse. Aplausos ainda para Osmar Prado, Alexandre Schumacher, Letícia Spiller e Tarcísio Meira, no pequeno, mas fantástico papel de pai de André. E impossível não falar da novata Bruna Linzmeyer (que estará em Insensato Coração), mas parecia uma veterana tamanha presença cênica e segurança com que deu vida à ninfeta russa Tatiana Dovichenko. Quem não gostou de Afinal, O Que Querem as Mulheres? tente mais uma vez e assista a tudo num fôlego só. Ou quase. Depois me conte!

Clandestinos – O Sonho Começou


Na hora de fazer o acerto de contas com 2010 um item me deixará com profunda raiva de mim mesmo: ter perdido a peça Clandestinos. Por isso, oro aos deuses das artes para que o espetáculo de João Falcão fique ainda mais um tempinho em cartaz no Rio de Janeiro, porque de tudo que eu vi em 2010 nada foi melhor do que Clandestinos – O Sonho Começou. Há muito tempo não vejo reunido um grupo de jovens atores tão bons. Todos eram excepcionais. E não tenho como deixar de citá-los: Fábio Enriquez, Elisa Pinheiro, Adelaide de Castro, Deborah Wood, Marcela Coelho, Pedro Gracindo, Júnior Vieira, Eduardo Landim, Renata Guida, Luana Martau, Hugo Leão, Michelle e Giselle Batista, Alejandro Claveaux, Emiliano D´Ávila, Chandelly Braz e Bruno Heitor. Parabéns, galera, vocês são demais!

Aplausos ainda para os veteranos Fábio Assunção e Dennis Carvalho, que se doaram ao projeto; para Daniela Mercury, numa participação divertida, e para Nanda Costa, ainda nem tão famosa, mas já tão premiada, e que fez bonito no final da série. Clandestinos – O Sonho Começou foi uma mistura de Som & Fúria, por mostrar os bastidores do teatro, com algumas pitadas do musical Chorus Line, que contava a história de um grupo de aspirantes a astros da Broadway. João Falcão, Guel Arraes e sua equipe de roteiristas e codiretores realizaram uma pequena obra-prima de nossa telinha. Felizmente a Globo renovou o contrato com todos os “clandestinos” e, mesmo que não role uma segunda temporada, é bom demais saber que esse povo talentoso está dando prosseguimento a seu sonho. E que 2011 seja tão bom nesse sentido, quanto 2010 foi. Feliz Natal!

Fonte: Jorge Brasil, da Contigo

Nenhum comentário:

Postar um comentário