sexta-feira, 22 de abril de 2011

"Amor e Revolução" tem mais acertos que erros


Com grandes investimentos e alta expectativa de sua alta cúpula, o SBT estreou neste mês "Amor e Revolução", segunda novela de Tiago Santiago na emissora. A princípio com tudo no lugar e com regalias que nenhum outro autor de folhetim - inclusive Íris Abravanel - já teve, a trama ainda não emplacou na audiência, apesar de acumular mais acertos que erros.

Os primeiros índices de audiência de "Amor e Revolução" são desanimadores sob qualquer parâmetro. A novela foi privilegiada e não se pode culpar horário ou concorrência, afinal está em uma faixa em que a Globo se encontra debilitada, em que a Record segue com uma produção que está há onze meses no ar mas que nunca cativou de fato o telespectador, em que o "Programa do Ratinho" entrega em alta e em um texto que contém um conteúdo forte e competitivo para o horário. Mas afinal, onde estão os acertos e os erros?

Ainda é cedo para taxar a novela de Tiago Santiago com termos negativos no que diz respeito à audiência pois é fato de que a mesma vai subir. Existem várias histórias que podem ser sustentadas e desenroladas no decorrer de sete ou oito meses. Os núcleos são bem definidos e o principal, que inclusive falta a algumas novelas da própria Globo: todos os ingredientes de uma história de sucesso estão em "Amor e Revolução", além da direção do experiente Reynaldo Boury.

Existem vilões facilmente identificáveis, existe um casal de protagonistas que tem química, existem núcleos paralelos que permitem a criação e a discussão de mais dramas. A montagem da história foi muito bem feita por Tiago Santiago e por seus colaboradores Renata Dias Gomes e Miguel Paiva.

Quanto à produção, existe um exagero em dizer que está do nível da Globo, assim como também existiria se alguém comparasse ao trabalho que a Record vem fazendo. "Amor e Revolução" ainda tem uma técnica inferior às suas rivais mas tem a melhor produção do SBT dos últimos quinze anos. O trabalho supera e muito aos de "Uma Rosa com Amor", assim como os de qualquer outra novela feita em parceria com a Televisa ou as de Íris Abravanel.

Entretanto, a equipe do SBT ainda não evoluiu ao ponto de se tornar equivalente à Record ou à Globo. O que se pode notar é uma certa semelhança com "Cidadão Brasileiro", exibida pela Record em 2006 e que tratava, de forma paralela à história principal, o mesmo tema da trama de Tiago Santiago. Há uma certa equivalência nos cenários e no produto final, além de uma coincidência de profissionais que trabalharam na novela da Record e que hoje estão no SBT. Essa semelhança não é surpreendente, afinal ambas enfrentaram as mesmas dificuldades, como a escalação de um bom elenco que pudesse trabalhar em São Paulo, enquanto a dramaturgia seguia consolidada no Rio, e até mesmo nas gravações externas, que pedem atenção e cuidado para levar ao telespectador uma São Paulo da época da ditadura em meio ao ar cosmopolita da metrópole na atualidade.

Os maiores erros de "Amor e Revolução" não devem exigir preocupação da alta cúpula do SBT pois são de solução simples. É claro que novela alguma, independente de qual fosse, chegaria ao horário dando 15 pontos, porém "Amor e Revolução" tem como chegar a pelo menos 8.

É perceptível que Tiago Santiago erra tentando acertar. O autor quer contar uma história de um período que todos sabem que existiu mas que poucos sabem detalhar ou ao menos elencar nomes ou objetivos de cada um dos lados.

Entretanto, o didatismo aplicado nas falas dos personagens ultrapassa a barreira do bom senso. Até mesmo nas cenas de tortura há uma aula de história, numa clara intenção de entregar tudo mastigado para o telespectador. Outro ponto que desanima é a falta de personagens os quais o público possa se identificar. Por mais que os telespectadores sejam atraídos por vilões, apenas uma mocinha, a protagonista, não é suficiente para prender por uma hora diária ao longo de alguns meses.

"Amor e Revolução" tem uma história forte, alinhada, um bom elenco, uma boa trilha sonora e que tem potencial de ter mais audiência. Porém, cabe à emissora identificar até que ponto o telespectador aceita ou rejeita o tema e moldar os capítulos de acordo com a audiência sem que a obra original seja afetada ou que a história seja deturpada.

Fonte: André Luiz Batista, do Na Telinha

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