sábado, 30 de abril de 2011

As novas exigências do mercado da TV


Desde seus primórdios, nas décadas de 50, 60, a TV brasileira tem suas épocas. Existiu a época dos grandes festivais, existiu a época dos telebarracos, dos noticiários policiais, das novelas mexicanas... Tudo mudando de acordo com a vontade do telespectador, que fora o trio novela, futebol e jornal, busca alternativas para se entreter. À mesma medida que o tempo avançou, a tendência de produções mais caprichadas, cuidadosas e que se reinventassem também foi desenvolvida.

Hoje em dia um profissional que faz a TV, que trabalha nos bastidores, seja ele um autor ou um diretor, não se pode dar ao luxo de simplesmente atender o que lhe foi solicitado e parar por aí. A necessidade da TV é de profissionais mais completos, que inovem, que façam com que o telespectador se surpreenda. É preciso que haja profissionais que façam com que quem assista a determinado produto não se desaponte.

Um dos exemplos positivos e negativos dessa flexibilidade se encontra na dramaturgia. Atualmente um dos profissionais mais competentes dos bastidores da TV brasileira é Rogério Gomes, conhecido como Papinha e responsável pela direção geral de "Morde & Assopra". Papinha já dirigiu inúmeras novelas e vem mostrando talento, junto à sua equipe, na direção de cenas que envolvem acidentes. Tanto na fotografia, no posicionamento de câmeras, ou em qualquer um dos trabalhos que são necessários para que o telespectador se convença, ele mostra que entende do assunto e que o resultado, que vai para as telinhas, não é apenas sorte.

A primeira das boas surpresas de Papinha foi ao ar em 2009, com "Paraíso". Mesmo em apenas trinta segundos, ele e sua equipe produziram um acidente de carro cinematográfico no qual a personagem de Bia Seidl (Aurora) morria. Para ratificar, no ano seguinte, em "Escrito nas Estrelas", Rogério Gomes produziu de forma ainda melhor o acidente que vitimou o protagonista Daniel, vivido por Jayme Matarazzo, no primeiro capítulo. E ainda nessa mesma novela, qualidade similar se repetiu em um desastre no qual a personagem de Carolina Kasting, a Judite, se envolveu na tentativa frustrada de atropelar Mariana, interpretada por Carol Castro. E ainda para completar, em 2011, o terremoto dos capítulos iniciais de "Morde & Assopra" também merece elogios de todos, ainda mais pela produção e transmissão em alta definição.

Ao mesmo tempo, é necessário salientar que nem todos os profissionais de TV vêm acompanhando esse processo de inovação. Nesta quarta-feira (27), foi ao ar o acidente que matou Clarice, papel de Ana Beatriz Nogueira, em "Insensato Coração".

Infelizmente este não foi um dos melhores trabalhos de Dennis Carvalho ou do diretor designado para a cena em questão. A começar pela placa do carro, que enquanto estava em pleno funcionamento era KYB-5570, mas no momento do capotamento, "misteriosamente", havia se transformado em KWU-2330. Em segundo lugar, nota-se a trilha sonora, muito mal escolhida, apesar da música ser muito boa. Em terceiro lugar, pela fraca produção. Foi apenas mais um acidente. Não surpreendeu, não cativou, até mesmo pelo conjunto da obra não ter ajudado. Uma trilha bem escolhida teria vendido melhor o material para o telespectador.

No caso de "Insensato Coração", a concorrente da novela foi a própria Globo, que produziu material do mesmo gênero de forma bem melhor em outras oportunidades. Até mesmo a Record, com suas limitações - afinal são seis anos de dramaturgia no Rio contra pelo menos o quádruplo da Globo -, já produziu com nível superior e até mesmo em novelas que não eram as principais, como "Bela, a Feia", que ia ao ar às 21h15, e "Os Mutantes", exibida no mesmo horário.

A tendência é que com o passar dos anos não haja espaço para meros trabalhos. Isso não se limitará apenas às novelas ou à TV, mas ao mercado de trabalho de modo geral. O profissional que simplesmente cumprir uma tarefa ficará de fora havendo um outro que cumpra o que foi solicitado mas com algo a mais, com algum incremento, com algo que ainda não tenha sido mostrado ou que surpreenda.

A fraca cena de "Insensato Coração" não tira o mérito - e nem teria como - de Dennis Carvalho, que tem de televisão o dobro do que tenho de vida, e nem de sua equipe, afinal, caso não tivessem competência, não estariam no lugar em que 10 de cada 10 profissionais de TV gostariam de estar. Entretanto, foi perceptível que já vimos coisa melhor e na própria Globo. Sinal de que há para onde melhorar.

Fonte: Na Telinha

2 comentários:

  1. Achei a cena do acidente de Insensato Coração excelente. A trilha sonora foi colocada de forma muito interessante. Quanto à placa......um erro..........mas eu não tinha notado.

    Será quantos notaram?
    Quantas vezes esses viram a mesma cena?

    ResponderExcluir
  2. Realmente, olhando a cena do ponto de vista do telespectador comum, ela foi muito bacana. Aliás, a Globo tem feito cada cena de acidente mais espetacular que a outra. Não fica nada a dever à Hollywood...

    Agora, quem conhece a técnica que é usada na gravação, pode ter ficado atento e percebido. Normalmente essas cenas são gravadas com dois veículos: um em perfeito estado de conservação, para antes do acidente, e uma carcaça para a parte final da cena, quando normalmente acontece uma explosão. Então, sabendo disso, os observadores mais curiosos podem ter se concentrado no detalhe das placas e esquecido o acidente como um todo.

    ResponderExcluir