sábado, 24 de março de 2012

“Fina Estampa” apostou na comédia e acertou na audiência


A máxima “fale mal, mas fale de mim” poderia ser aplicada à novela Fina Estampa – cujo último capítulo foi exibido nessa sexta-feira, 23/03. Desde sua estreia, a trama de Aguinaldo Silva foi alvo das críticas mais ferrenhas, vindas de todos os lados, por causa de sua história, personagens, direção ou proposta “nova classe C”. Mas o fato é que a novela alavancou a audiência do horário. Isso é o que interessa para a emissora e para seu autor.

No ibope da Grande São Paulo (o que conta para o mercado publicitário), Fina Estampa teve na média geral menos audiência (39) que a última trama de Aguinaldo, Duas Caras (41), e a novela seguinte, A Favorita (40), e empatou com Caminho das Índias. Mas ultrapassou as três novelas subsequentes: Viver a Vida (36), Passione (35) e Insensato Coração (36). Já na média nacional (PNT – Painel Nacional de Televisão, que Aguinaldo divulga em seu blog), Fina Estampa se saiu melhor: 41 pontos, empatando com Duas Caras e ultrapassando as demais novelas.

Ainda que as críticas recebidas pudessem funcionar como um chamariz para a trama, está claro que o sucesso da novela não veio delas. Ver para falar mal pode até ser um passatempo divertido, mas não é o suficiente para justificar sua repercussão. O fato é que a novela cativou o público, independente das críticas.

Aguinaldo Silva uniu tramas surreais – entende-se sem compromisso algum com a realidade – com elementos populares em voga no momento – como UFC e o funk -, personagens caricatos – como a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) e o gay Crodoaldo Valério (Marcelo Serrado) -, e uma heroína maniqueísta – Griselda (Lília Cabral), mulher batalhadora, de personalidade forte, mãe sofrida, boa e justa, concebida especialmente para criar empatia com o público que se identifica com essa figura idealizada: a chamada “nova classe C”, que, acredita-se, é a principal responsável pela audiência do horário nobre na TV aberta brasileira no momento.

Aguinaldo sempre foi um autor popular, escreveu algumas das melhores novelas de nossa TV, é um mestre na arte de despertar audiências com tramas e personagens marcantes. Fina Estampa está longe de ser seu melhor trabalho. Não teve uma história consistente, marcante, inovadora ou original. O autor se perdeu do mote inicial: Griselda, que, ao ficar rica, se questionaria se o que vale mais é a aparência ou o caráter – como bem sugere a abertura e o título da novela.

Isso acabou não acontecendo e a vilã tresloucada Tereza Cristina passou a ganhar mais espaço dentro da história, despertando a atenção do público acerca de seu “segredo”. Mas esse segredo – cuja revelação foi ápice em dois momentos – acabou por frustrar o telespectador, à la “segredo de Gerson” (personagem de Marcelo Antony na novela Passione). O autor também frustrou o público com a não revelação da identidade do amante de Crô. Uma brincadeirinha de Aguinaldo.

Apesar do espaço que Tereza Cristina ganhou na trama, pela primeira vez não foi a vilã da novela que despertou paixões no telespectador – como Nazaré Tedesco de Senhora do Destino, Odete Roitman de Vale Tudo, Altiva de A Indomada, Laura de Celebridade, Flora de A Favorita, e tantas outras. O personagem de Fina Estampa que entra para galeria de tipos queridos da TV é o Crô de Marcelo Serrado, o grande destaque da novela, impagável nas cenas com Tereza Cristina, o chofer Baltazar (Alexandre Nero) e a empregada Marilda (Kátia Moraes) – que juntos formavam o melhor núcleo da novela.

Também Pereirinha (José Mayer), Teodora (Carolina Dieckamnn) e Tia Íris (Eva Wilma) tiveram ótimos momentos com seus personagens, valorizados pelo texto afiado do autor e pela interpretação dos atores. O núcleo de Ester-Paulo-Danielle (Júlia Lemmertz, Dan Stulbach e Renata Sorrah), em banho-maria por mais da metade da novela, despertou nesta reta final e chegou a movimentar a trama.

Apesar de vários núcleos e personagens com histórias desinteressantes, e por mais surreal que a novela tenha sido – com direito a citações a várias outras tramas do autor -, a aposta no tom farsesco e na comédia popular funcionou. O que talvez não teria acontecido se o autor tivesse se restringido à chata família de Griselda e seu discurso politicamente correto. Ou ao núcleo da praia e seus aplausos ao sol.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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