A máxima “fale mal, mas fale de mim” poderia
ser aplicada à novela Fina Estampa – cujo último capítulo foi exibido nessa
sexta-feira, 23/03. Desde sua estreia, a trama de Aguinaldo Silva foi alvo das
críticas mais ferrenhas, vindas de todos os lados, por causa de sua história,
personagens, direção ou proposta “nova classe C”. Mas o fato é que a novela
alavancou a audiência do horário. Isso é o que interessa para a emissora e para
seu autor.
No ibope da Grande São Paulo (o que conta
para o mercado publicitário), Fina Estampa teve na média geral menos audiência
(39) que a última trama de Aguinaldo, Duas Caras (41), e a novela seguinte, A
Favorita (40), e empatou com Caminho das Índias. Mas ultrapassou as três
novelas subsequentes: Viver a Vida (36), Passione (35) e Insensato Coração
(36). Já na média nacional (PNT – Painel Nacional de Televisão, que Aguinaldo
divulga em seu blog), Fina Estampa se saiu melhor: 41 pontos, empatando com
Duas Caras e ultrapassando as demais novelas.
Ainda que as críticas recebidas pudessem
funcionar como um chamariz para a trama, está claro que o sucesso da novela não
veio delas. Ver para falar mal pode até ser um passatempo divertido, mas não é
o suficiente para justificar sua repercussão. O fato é que a novela cativou o
público, independente das críticas.
Aguinaldo Silva uniu tramas surreais –
entende-se sem compromisso algum com a realidade – com elementos populares em
voga no momento – como UFC e o funk -, personagens caricatos – como a vilã
Tereza Cristina (Christiane Torloni) e o gay Crodoaldo Valério (Marcelo
Serrado) -, e uma heroína maniqueísta – Griselda (Lília Cabral), mulher
batalhadora, de personalidade forte, mãe sofrida, boa e justa, concebida
especialmente para criar empatia com o público que se identifica com essa
figura idealizada: a chamada “nova classe C”, que, acredita-se, é a principal responsável
pela audiência do horário nobre na TV aberta brasileira no momento.
Aguinaldo sempre foi um autor popular,
escreveu algumas das melhores novelas de nossa TV, é um mestre na arte de
despertar audiências com tramas e personagens marcantes. Fina Estampa está
longe de ser seu melhor trabalho. Não teve uma história consistente, marcante,
inovadora ou original. O autor se perdeu do mote inicial: Griselda, que, ao
ficar rica, se questionaria se o que vale mais é a aparência ou o caráter –
como bem sugere a abertura e o título da novela.
Isso acabou não acontecendo e a vilã
tresloucada Tereza Cristina passou a ganhar mais espaço dentro da história,
despertando a atenção do público acerca de seu “segredo”. Mas esse segredo –
cuja revelação foi ápice em dois momentos – acabou por frustrar o
telespectador, à la “segredo de Gerson” (personagem de Marcelo Antony na novela
Passione). O autor também frustrou o público com a não revelação da identidade
do amante de Crô. Uma brincadeirinha de Aguinaldo.
Apesar do espaço que Tereza Cristina ganhou
na trama, pela primeira vez não foi a vilã da novela que despertou paixões no
telespectador – como Nazaré Tedesco de Senhora do Destino, Odete Roitman de
Vale Tudo, Altiva de A Indomada, Laura de Celebridade, Flora de A Favorita, e
tantas outras. O personagem de Fina Estampa que entra para galeria de tipos
queridos da TV é o Crô de Marcelo Serrado, o grande destaque da novela,
impagável nas cenas com Tereza Cristina, o chofer Baltazar (Alexandre Nero) e a
empregada Marilda (Kátia Moraes) – que juntos formavam o melhor núcleo da
novela.
Também Pereirinha (José Mayer), Teodora
(Carolina Dieckamnn) e Tia Íris (Eva Wilma) tiveram ótimos momentos com seus
personagens, valorizados pelo texto afiado do autor e pela interpretação dos
atores. O núcleo de Ester-Paulo-Danielle (Júlia Lemmertz, Dan Stulbach e Renata
Sorrah), em banho-maria por mais da metade da novela, despertou nesta reta
final e chegou a movimentar a trama.
Apesar de vários núcleos e personagens com
histórias desinteressantes, e por mais surreal que a novela tenha sido – com
direito a citações a várias outras tramas do autor -, a aposta no tom farsesco
e na comédia popular funcionou. O que talvez não teria acontecido se o autor
tivesse se restringido à chata família de Griselda e seu discurso politicamente
correto. Ou ao núcleo da praia e seus aplausos ao sol.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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