Embora a Igreja Universal do Reino de Deus
ande pautando o departamento de jornalismo da Record, no campo da
teledramaturgia a emissora continua mais ousada que a Rede Globo ao tratar de
temas sexuais amplamente repudiados pela igreja. Na novela “Vidas em Jogo”,
além de haver três personagens com HIV, no capítulo dessa quinta-feira (17),
revelou-se que a personagem Augusta, interpretada por Denise Del Vecchio, era,
na verdade, Augusto. A cena deu recorde de audiência para a novela: 15 pontos no
Ibope de média com picos de 18. Cada ponto equivale a 58 mil domicílios na
Grande São Paulo.
Agora, a trama da doceira vai discutir a
questão do preconceito. Seu filho Raimundo (Rômulo Arantes Neto) tentará
interditar a mãe, que na verdade é seu pai biológico, e ficar com sua fortuna,
já que Augusta é uma das integrantes da turma do bolão, que ficou rica ganhando
na loteria no início da trama. A atriz Denise Del Vecchio falou sobre o desafio
de interpretar uma transexual e de como foi difícil fazer a cena da revelação.
Você
sabia desde o começo que faria uma transexual?
Eu não sabia. Na sinopse não estava previsto.
Só dizia que ela tinha um amor incondicional pelo filho, que ela era avarenta e
que tinha um segredo. Achei que era algo relacionado ao filho, mas não pensei
que fosse isso. Aí dois meses após o início da novela, a Cristianne Fridman
[autora] convocou uma reunião comigo e me contou. Disse inclusive que eu tinha
total liberdade para me recusar a fazer. Se eu não quisesse, ela iria para
outro rumo.
Por que
ela achou que você não aceitaria?
Ah, ela achou que eu ficaria constrangida...
E você
obviamente adorou...
Claro! Achei um ótimo desafio. Perguntei se
deveria mudar algo na interpretação. Disse que eu era muito feminina, que tinha
curvas e tal... Ela falou que era exatamente por isso que tinha me escolhido,
porque o comportamento da Augusta é feminino e que alguns transexuais que ela
conhece têm esse comportamento. Que o objetivo dela na trama é mostrar como o
comportamento das pessoas ao redor muda por puro preconceito.
E você
ficou chocada ao saber?
Fiquei. Bastante. Porque nunca achei que esse
assunto seria tratado na TV aberta.
Principalmente
na Record, que é de propriedade do bispo Edir Macedo, não?
Olha, eu trabalho há cinco anos na Record e
nunca tive interferência em nenhum trabalho meu. Também nunca soube que a
igreja tenha interferido nas tramas das novelas...
A cena
da revelação foi bem forte. Foi difícil de fazer?
Foi muito difícil tanto para mim quanto para
o Rômulo. É uma cena de carga emocional forte, em que o Raimundo vai ao
extremo, primeiro ele apalpa a mãe e quando sente que ela é homem dá um tapa na
cara dela. Quando ele puxou o lenço do meu pescoço, a seda até queimou minha
nuca. Foi uma cena boa.
Nunca
houve na novela, até o capítulo de ontem, qualquer indicação de que esse seria
o segredo de Augusta?
Nunca. Foi uma surpresa total para o público.
Inclusive outra indicação que recebi foi sobre esse lenço. Achava que era pra
esconder alguma cicatriz. Era pra esconder o gogó. Mas eu achei legal. Fui na
manicure hoje e ela comentou comigo que tinha um sobrinho “que era daquele
jeito desde os quatro anos”. Um assunto desses ir para novela, faz com que as
pessoas possam conversar sobre seus dramas pessoais ou familiares sem se
acharem uma aberração. Ver que isso é comum. A gente tem uma visão muito
deturpada dos transexuais. Espero que a ajude a mudar um pouco.
E o que
acontece agora? Ela será discriminada por todos?
Por todos não. Mas o filho agora tenta
interditá-la como doente mental para ficar com todo o dinheiro que ela ganhou.
Em
“Força de um Desejo”, você foi uma das assassinas da galeria do Gilberto Braga.
Como foi interpretar a baronesa Bárbara?
Aquela novela era ótima, mas foi ao ar no
horário errado. Era para ser às 21h, porque a personagem da Malu Mader era uma
prostituta. Não foi muito bem aceito àquela hora. Mas eu gostei de ser a
assassina. Aliás, eu sempre tenho alguma coisa muito cabeluda escondida...
(risos)
Fonte: UOL
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