sábado, 10 de março de 2012

Crítica: Falta Brasil em "As Brasileiras"


Não tem jeito: qualquer série no formato "antologia" será sempre irregular. Cada episódio conta uma história fechada, com autores e atores diferentes, e a qualidade costuma flutuar de um para o outro. Tem sido assim com "As Brasileiras".

O de ontem, "A Desastrada de Salvador", foi o melhor até agora. Muito por causa da participação de Ivete Sangalo, que se revelou uma boa atriz de comédia e é originária da cidade retratada. A trama levinha --um quiproquó por causa de uma bolsa de grife - também estava melhor amarrada do que de outras vezes.

Apesar disto, mesmo com locações na capital baiana e lindas imagens de arquivo, ficou a sensação de que a história poderia se passar em qualquer lugar. Não estou reclamando da ausência de clichês folclóricos: não era o caso de vestir Ivete de vendedora de acarajé. Mas faltou um certo sabor local.

Em outros episódios tem sido ainda pior. "A Viúva do Maranhão" não mostrou quase nada de São Luís, e Patrícia Pillar não convenceu como nativa daquele estado. Em "A Sexóloga de Floripa", alguns atores até tentaram falar com o sotaque típico da cidade. Mas outros nem se importaram: afinal, nada no roteiro exigia a capital de Santa Catarina como cenário.

Aliás, este foi o programa mais frouxo até o momento. Dá para acreditar numa sexóloga virgem, com quase 30 anos de idade? Este descompromisso com a realidade tem sido uma constante na série.

Nada contra a chanchada e o humor descomplicado. Mas tolices como "A Inocente de Brasília" --que desperdiçou todo o potencial da cidade como sede do poder político --poderiam, sem muitas alterações, ser adaptadas para "A Turma do Didi".

A Globo está decidida a conquistar a nova classe C, e anda nivelando por baixo toda sua programação. Projetos ambiciosos como "Hoje É Dia de Maria" dificilmente teriam espaço na grade atual. Parece que a ordem é produzir programas que não exijam muito do espectador, ainda mais às 11 horas da noite.

Mas se existe alguém no Brasil que sabe combinar qualidade com apelo popular é justamente Daniel Filho, o criador de "As Brasileiras". Ontem a mistura funcionou, apesar do tempero baiano estar meio tênue para o meu paladar.

Ainda faltam 16 episódios, estrelados por atrizes que vão de novatas como Bruna Linzmeyer até a semideusa que é Fernanda Montenegro (e também por não-atrizes, como Sandy e Xuxa). Dos pampas à Amazônia, quase todas as paisagens brasileira foram contempladas.

Mas serão justificadas? Não estou cobrando uma dramaturgia mais densa, mas uma maior pertinência entre as tramas e seus cenários. Uma série que se chama "As Brasileiras" precisava aproveitar melhor um país tão variado como o nosso.

Fonte: UOL

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