Lembra quando a Globo apresentou as três protagonistas de “Babilônia” nas primeiras chamadas da novela? Um mês e meio de história no ar (parece que foi há mais tempo!) e, hoje, uma está na cadeia, outra está de cama, e a terceira corre atrás da verdade dos fatos. E “Babilônia” dá os primeiros sinais de ter começado definitivamente.
Em meu primeiro texto sobre ela, escrito logo após sua estreia, enalteci um primeiro capítulo de tirar o fôlego, fazendo votos de que a novela se mantivesse neste ritmo. Mas, após o terceiro dia, a trama assinada por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, foi se diluindo num marasmo que afugentou o público e gerou uma das maiores crises do horário nobre da Globo que se tem notícia.
Nem chamadas que prometiam “um capítulo bombástico” pareciam despertar a audiência. Pior: chegou-se a anunciar um capítulo eletrizante mas que, ao final das contas, nada aconteceu. Tiro no pé. Também a revelação dos motivos do rancor de Inês (Adriana Esteves) contra Beatriz (Glória Pires) não foram o suficiente. Ou a mudança do perfil de Alice (Sophie Charlotte), que acabou se transformando na mocinha chorosa gata borralheira da história.
E, de repente, nesta última semana, vimos a trama de “Babilônia” acelerar vertiginosamente. E não foi por causa de Alice, do casal de lésbicas idosas ou do romance juvenil entre Rafael e Laís (Chay Suede e Luísa Arraes). A trama está, tão simplesmente, “andando”. Fluindo. E com ótimos ganchos.
Além de ter conseguido colocar Beatriz, seu desafeto, na cadeia, Inês já fez estourar o maior segredo da história, que unia as duas vilãs e envolvia a terceira ponta desse triângulo de protagonistas: Regina (Camila Pitanga) ficou sabendo que Beatriz matou seu pai.
Um amigo até comentou na Internet, durante essa última enxurrada de capítulos nervosos: “Hoje foi ao ar o segundo capítulo de ‘Babilônia’” – numa referência àquele eletrizante capítulo de estreia.
Essa epopeia para fazer acontecer a trama da novela me fez lembrar um comentário do diretor Daniel Filho em seu livro “O Circo Eletrônico” (Jorge Zahar Editor, 2001) sobre a clássica “Vale Tudo” (1988), também de Gilberto Braga (escrita com Leonor Bassères e Aguinaldo Silva):
“Na primeira sinopse, a filha (Fátima/Glória Pires) vendia a casa (da mãe Raquel/Regina Duarte) por volta do capítulo 40 ou 50. Lógico que outras histórias paralelas estariam acontecendo. Mas o tema central não deslanchava. Argumentei: 'Se a filha não vender a casa no primeiro capítulo e a mãe ficar na miséria, a novela não atingirá seu objetivo'. Ou seja, não deixaria claro seu tema.”
Por mais que “Babilônia” tenha espantado o público mais conservador na primeira semana (por conta de personagens maus ou imorais, ou por causa do beijo do casal de lésbicas), o fato é que, nas semanas subsequentes, a história foi se esvaindo em meio a personagens pouco carismáticos. Sem trama ou herói/vilão para torcer e se emocionar, não há audiência que resista. Daniel já ensinava isso na década de 1980 – em que a televisão aberta (principalmente a Globo) seguia onipresente, sem concorrência de todo tipo, diferente de hoje.
É certo que a novela sofreu alterações bruscas no intuito de se ajustar à audiência. Todavia, após quarenta capítulos, muito mais do que desvio de tramas ou personalidades de personagens, “Babilônia” apressa-se para levar ao público uma história verdadeiramente cativante, razão de ser da audiência. E uma trama que prenda deve vir com bons ganchos – só eles despertam no público a curiosidade em continuar seguindo aquela história no dia seguinte. Foi assim que a telenovela se fez no Brasil.
As “cenas dos próximos capítulos” foram abolidas das novelas lá no início dos anos 1990. Entretanto, seria interessante, neste momento, poder antever “as emoções que nos reserva ‘Babilônia’”. Ao menos para despertar a audiência adormecida. Desde que – realmente – tenha emoções por vir nessa história.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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