“Sete Vidas” é mesmo uma novela de sutilezas. Nada é dissonante. Os personagens amam e sofrem na medida do ser humano. Não é à toa que Lícia Manzo – a autora – já foi chamada de “substituta de Manoel Carlos”. O novelista do cotidiano imprimiu sua marca por abordar o dia a dia de forma atraente, quase apaixonante. Todavia, existe um pormenor que distancia Lícia de Maneco.
Manoel Carlos tem fortes raízes na escola latina de dramaturgia. Seu melodrama só não é rasgado por conta de seu texto de altíssimo bom gosto. Mas percebam que estão todos lá os ingredientes que fazem a festa dos apreciadores de dramalhões. E isso, nem um pouco, deprecia o valor de seu trabalho. Falo especificamente das discussões acaloradas, acertos de conta ansiados, bate-bocas no café da manhã familiar, surras de cinto e arremesso de personagens em piscina. Trocando em miúdos: um bom barraco! Ah, como Maneco escrevia bem os seus barracos!
Lícia Manzo é mais comedida. Sua ação não resvala no alto impacto. Mesmo assim, o clímax não deixa de ser bem saboreado. A famosa “torta de climão” que a autora serve é igualmente deliciosa. Sua maior qualidade é manter-se fiel à sua proposta sem precisar apelar para estratagemas fáceis para chamar a atenção do público. Mesmo quando tem em mãos uma personagem como a desbocada e impulsiva Laila (Maria Eduarda Carvalho), um tipo que facilmente rende nessa situação.
Nesta semana, vimos, finalmente, uma sequência há tempo ansiada: o folgado Durval (Cláudio Jaborandy) ser desmascarado ante a mulher, Marlene (Cyria Coentro). Os capítulos criaram todo o suspense necessário para manter o público fisgado no entrecho. O gancho de quarta (22/05) para quinta-feira foi esse. E Marlene finalmente pôs o escroque para fora de sua vida (pelo menos, por enquanto).
Mas nada de “babado, confusão e gritaria”, ou “tiro porrada e bomba”. Marlene – a sempre ótima Cyria Coentro – apenas derramou algumas lágrimas. Tirou Durval de sua casa de forma educada, sem exaltação. Quem esperava um barraco daqueles, se decepcionou? Acho que não. Afinal, não houve o anticlímax: a autora apenas priorizou o sentimento e a dor da personagem.
Boas histórias podem ser contadas de várias formas. Para o público, um barraco pode funcionar como uma válvula de escape da realidade. É bom quando é bem feito, bem escrito, bem dirigido e bem interpretado, sem apelação ou exageros. Maneco e Lícia escrevem cada qual a seu modo, sem perder o contexto de suas histórias. Um texto de qualidade faz toda a diferença. E o público brasileiro é tão tarimbado nas nossas telenovelas que sabe reconhecer um.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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