Os jornalistas brasileiros estão passando maus pedaços para cobrir o terremoto do Haiti. O cenário é o de um bombardeio. As condições de trabalho são precárias, já que há dificuldades para transmitir as imagens, para se comunicar com as emissoras e para se locomover na cidade destruída.
Lília Teles, da Globo, uma das primeiras a chegar ao país, diz que “Tudo é difícil nessa cobertura. Os corpos estão jogados pelas ruas, as pessoas pedem comida e água o tempo todo.”
Rodrigo Alvarez, também da Globo, relata que o trânsito caótico é um grande obstáculo. Os semáforos não funcionam e como não têm casas, as pessoas se aglomeram no meio das ruas, pois é o único espaço livre. Ele conta ainda que a moto-táxi tem sido de grande valia para percorrer a cidade, quando há alguma disponível. Além do mais há muito poeira e o cheiro dos corpos em decomposição é insuportável. “Jamais vou esquecer o que estou vivendo aqui. É uma marca impossível de apagar. É como ir a uma guerra”, garante o repórter global.
Outra que passou maus momentos para chegar à capital haitiana foi Heloísa Vilela, correspondente da Record. Ela foi para Santiago, na República Dominicana, e de lá seguiu de carro por estradas esburacadas e sem asfalto. Teve o pneu furado no caminho. “Dentro da cidade, a realidade é de embrulhar o estômago e cortar o coração. Gente andando pra lá e pra cá, com malas, cestas, tinas cheias de coisas. Aparentemente, levando o que sobrou, quem sabe para onde”, resume.
Fábio Pannunzio, correspondente da Band, que já cobriu o terremoto do Peru, em 2007, traz um dos relatos mais tocantes: “A morte e o sofrimento são uma constante, isso aqui é um inferno. O cenário é de uma pobreza gritante, uma miséria aviltante e uma população cordata diante disso tudo. Eles mal se emocionam com a tragédia deles mesmos.”
Ele destaca também a participação do Exército Brasileiro naquele lugar: “é muito querido e está fazendo tudo que os outros não querem fazer, como recolher corpos e distribuir comida”, finaliza.
Sergio Utsch, do SBT, destaca a dificuldade de se transmitir com racionalidade um drama que por si só é irracional e desumano. “Temos trabalhado de 15 a 20 horas por dia. Dormimos pouco e mal, mas sabemos que para os haitianos a situação é muito pior. Isso torna a nossa responsabilidade ainda maior”.
Os jornalistas estão abrigados numa enorme tenda, na base do Exército, dormem no chão, tomam banho e comem no bandejão, junto com os soldados. Já as mulheres estão em um alojamento, com um pouco mais de conforto.
Um aspecto positivo, ressaltado por estes profissionais, é o apoio operacional fornecido pelo Exército. A internet da base foi transformada numa enorme lan house, gratuita, e com excelente velocidade para a transmissão de dados, o que tem facilitado, sobremaneira, o trabalho destas equipes.