Por: André Luís Cia
Em 2010, ele conseguiu alcançar o sonho de
muitos que desejam entrar para o restrito e disputado mercado da dramaturgia: cursar
a Oficina de Autores da TV Globo- sonho de 10 entre 10 aspirantes a roteirista.
Hoje, aos 34 anos e já com uma novela de sucesso no currículo, a releitura do
“O Astro”, o carioca Vitor de Oliveira é uma das novas promessas e apostas
nesta renovação de autores que têm acontecido nos últimos anos na
teledramaturgia brasileira. Mas, antes de alcançar esse posto, Vitor batalhou
em outras profissões: foi funcionário público e deu aulas numa faculdade de
Letras. “Na verdade, sempre tive essa vontade, mas não imaginava que isso fosse
acontecer, pois venho de família classe média baixa e fui criado no interior na
cidade de Petrópolis. A Rede Globo de Televisão sempre foi um sonho muito
distante”, confessa.
Ele conta que o caminho para chegar até lá
foi de muito trabalho, estudo, persistência e dedicação e que as coisas só
aconteceram depois dele ter participado de um curso de roteiro de seriados,
ministrado pelo roteirista da Grande Família, Max Mallmann, que foi o
responsável pela sua indicação à oficina, na qual ele venceu mais de 500
candidatos durante a seleção. Nesta entrevista exclusiva ao grupo
Teledramaturgia com Alcides Nogueira, Vitor fala dentre outras coisas, sobre os
seus ídolos na profissão, sonhos e, principalmente sobre a importância do
trabalho de um colaborador. “Cada um cria seu próprio caminho na profissão”.
Como e
quando você descobriu sua vocação para escrever?
Não teve um momento específico. Sempre fui
noveleiro. Como sou filho único, a televisão era minha babá eletrônica e, desde
que me entendo por gente, escrevia novelinhas em meus cadernos baseadas nas
novelas a que assistia e colocava minha família e meus amigos como os
personagens.
Você se
inspira(ou) no trabalho de alguém no início da sua carreira? Quem são seus
ídolos?
Claro! O próprio Tide (Alcides Nogueira) é e
sempre será uma grande inspiração pra mim. Além dele, sou totalmente
aficcionado pelas novelas e pelo estilo de Gilberto Braga. Quando crescer quero
ser igual a esses dois.
O
colaborador, muitas vezes, não tem o mesmo reconhecimento dado ao titular. Até
que ponto o colaborador tem importância numa obra?
O bom colaborador precisa ter em mente que,
como o próprio nome sugere, está colaborando, está ajudando a contar uma
história criada por outra pessoa. Claro que temos nosso estilo pessoal e muitas
vezes somos escolhidos pra trabalhar com determinado autor graças à afinidade
de estilos, mas a ideia é tentar se manter o mais fiel possível ao estilo do
autor titular, que foi quem concebeu a obra. O objetivo principal é "ATENDER
A ENCOMENDA" dada pelo autor e isso implica em cumprir religiosamente o
prazo de entrega das cenas e seguir o que manda a escaleta, ou seja, somar na
equipe, facilitando o trabalho do autor e não o contrário.
Quanto à questão da importância, claro que o
maior reconhecimento TEM que ser dado para o autor titular, afinal a história é
dele e isso faz parte da hierarquia natural da profissão. Mas devo dizer que
Tide e Geraldo foram generosíssimos comigo e com Tarcísio em "O
astro", sempre valorizando e dando crédito ao nosso trabalho. Enfim, o bom
colaborador não deve perder de vista a expressão "ATENDER A
ENCOMENDA". Isso é praticamente um mantra pra nós...rs!
Como
você tornou-se um colaborador e quais as dicas que você dá para quem deseja
seguir o mesmo caminho? Como é a rotina de um colaborador?
Me tornei colaborador quando fui um dos
selecionados para fazer parte da Oficina de Autores da Globo em 2010 e fui um
dos contratados. Falando assim, parece fácil, mas foi um longo caminho até
chegar lá. É preciso ler muito, tanto textos teóricos, quanto roteiros de toda
a natureza, fazer o máximo de cursos que puder fazer, conhecer pessoas
(contatos são importantíssimos) e já ir construindo um nome para ter
visibilidade, o que implica em, antes de se aventurar na TV, escrever peças ou
curtas ou até mesmo vídeos para internet, livros, etc., ou seja, dizer para o
mundo: EU EXISTO! (risos). No meu caso, o blog me deu muita visibilidade, mas
cada um cria o seu caminho.
Fale um
pouco sobre o surgimento do blog e, agora, do livro?
O blog surgiu de maneira super
despretensiosa. Como mantinha um blog de cinema, sentia falta de também falar
sobre minha outra paixão: a teledramaturgia. Criei o blog pensando que só seria
acessado por pessoas conhecidas e noveleiros de carteirinha, mas aos poucos foi
ganhando cada vez mais público e mais prestígio. Uma loucura! O Tide não gosta
que eu fale, mas tb devo muito isso a ele, que foi meu primeiro entrevistado, o
que deu o selo de qualidade ao blog. O convite do livro surgiu do meu amigo Rodrigo,
com quem me formei na faculdade e que estava criando sua própria editora. Ele
achou bacana a ideia de selecionar os melhores textos do blog e eternizá-los em
um livro. Em suma, o melão só me deu alegrias, tanto o blog quanto o livro.
O Astro
foi sua primeira experiência na TV numa obra que fez sucesso no passado. Como
foi para você trabalhar nesta releitura da trama?
Não poderia desejar estreia melhor! Imagina,
em meu primeiro trabalho, revisitar a obra de ninguém menos que Janete Clair,
ser o colaborador desse pessoa fantástica que é o Tide. Geraldo tb é um
gentleman e Tarcisio um companheiro de trabalho incrível. Foi só alegria desde
o início. Além disso, você pode imaginar minha emoção ao assistir na TV falas
criadas por mim sendo ditas por pessoas como Regina Duarte, Rosamaria Murtinho
e tantas outras pessoas que sempre povoavam meu imaginário. Enfim, poderia
desejar mais?
É claro
que todo dramaturgo que trabalha como colaborador sonha um dia em escrever suas
próprias obras. Você tem projetos nesta área? Como você vê a renovação no
mercado, já que cada vez mais tem surgido novas apostas na TV.
Sim, tenho projetos e espero um dia também
escrever minhas próprias obras, mas não quero queimar etapas. Sei que minha
carreira está no início e preciso pegar o máximo de experiência que puder como
colaborador, aprendendo cada vez mais com os grandes mestres, para quando
chegar a hora de meu voo solo, que ele não seja turbulento. Vejo a renovação
como algo muito positivo, pois tudo é muito pensado e sempre quando algum autor
novo estreia, tem a supervisão de um autor experiente. Acho muito bom, pois
revitaliza a dá fôlego ao gênero. É sempre muito boa a troca entre gerações.
Aprendemos muito com os mestres, mas também temos muito a oferecer.
TV,
Cinema e Teatro são mídias completamente diferentes, mas que lidam com a
ficção. Qual a diferença ou marca que você acha que deve ser imprimida à cada
uma delas?
Acho que cinema é mais imagem. O espectador é
muito mais atento e a história quase sempre depende da concepção do diretor.
Teatro e televisão são muito mais verbais, sendo que, no teatro, depende muito
mais do ator. Tanto em cinema quanto em teatro, o espectador sai de sua casa e
paga pra ver aquilo que ele deseja. Já em televisão, o autor precisa ter em mente
que está entrando na casa das pessoas e a história precisa agradar tanto ao
adolescente de São Paulo quanto à dona de casa de Roraima. As pessoas tendem a
dizer que é muito mais fácil escrever pra televisão, mas é um baita desafio,
pois ao contrário de cinema e teatro, a TV compete com tudo à sua volta: o
jantar que precisa ser feito, o computador que está ligado, alguém que chega,
alguém que sai... O autor tem que ser muito fera pra driblar todos esses ruídos
e prender a atenção do telespectador.