sMarcelo Dourado sempre conversou com os amigos sobre a hipotética possibilidade de uma segunda chance no BBB. Sem imaginar que isso se tornaria possível um dia, ele acreditava que voltar ao programa seria uma oportunidade única de se redimir da imagem de "bad boy" e mostrar seu lado mais tolerante (ou não, já que o participante é acusado de ser homofóbico...).
A segunda chance acabou chegando no momento mais difícil de sua vida. Desde que saiu da quarta edição do programa, a vida de Dourado passou por momentos conturbados. O auge foi no ano passado, quando depois de voltar sem dinheiro de uma temporada na Nova Zelândia, passou a morar em uma casa bem simples na favela do Terreirão, no Recreio, na Zona Oeste do Rio.
"Dourado diz que não tem fé, mas essa segunda chance dele no BBB teve a mão de Deus. Ele está renascendo das cinzas. Passava por muita dificuldade antes de entrar no BBB. Morava em um quartinho fedorento e mal tinha dinheiro para comer. Almoçava 'podrão' em um trailler e jantava pé-de-moleque", contou o amigo Keké Viana.
Quarto de Dourado: colchão no chão
Assim que saiu do BBB 4, Dourado cumpriu a rotina de toda celebridade instantânea. Por mais de um ano, viveu de “presença vip” em festas e eventos. A luta acabou ficando de lado porque, com as viagens, faltava tempo para treinar.
Quando os convites começaram a ficar escassos, ele resolveu apostar em campeonatos de vale-tudo. Passou a treinar pesado e a participar de competições no interior do Brasil. A fama ajudava a atrair público "O problema", contou o amigo Theodoro, “é que as pessoas iam para as lutas para vê-lo apanhar”.
“Além da imagem de ex-BBB, ele lutava contra pessoas da cidade. Era sempre vaiado. Isso acabou mexendo com psicológico dele e Dourado foi ficando deprimido. As pessoas gritavam durante as lutas ‘âo, ão, ão, Dourado vai para o paredão’”, contou a empresária Aline Antonoff.
Em crise, Dourado começou a perder várias lutas e estava cada vez mais desanimado. Em dezembro de 2005, o lutador foi detido em uma festa de música eletrônica, junto com mais 30 pessoas, por posse de drogas. Segundo o relato de Aline, ele teria sido flagrado com um cigarro de maconha e levado à delegacia. A polícia encontrou apenas guimbas no chão e não houve flagrante. Depois prestar esclarescimentos na delegacia, Dourado foi liberado e encaminhado ao juizado. Pagou sua pena participando de palestras de um grupo de ajuda para usuários de drogas.
Outro amigo, Leonardo Brittes, contou que o lutador ia para raves quase toda semana. “Ele adorava a música, o clima. Bebia cerveja, ice, pode até ser que tomasse um comprimido de ectasy, mas Dourado não era drogrado”.
Um homem sem fé
Foi nessa época conturbada que o brother fez a polêmica tatuagem, “Sem Fé”. No programa, ele justificou a mensagem no braço. “Não é só em relação a Deus. É uma falta de fé geral, não só minha, mas dos outros em relação a mim. O que tenho escrito no braço é uma marca do que passei”, contou dentro do 'BBB'.
Desestimulado com as lutas, Dourado começou a se dar conta de que precisa voltar à rotina normal e procurar um trabalho para se manter. “Ele teve que voltar ao mundo real, arrumar trabalho. Ele sempre foi determinado e levou isso bem. Conseguiu se estabilizar e dar aula em cinco academias”, contou a empresária. Mas o lutador não estava feliz.
Durante esse tempo em que foi acumulando frustrações, Dourado juntou dinheiro para realizar um sonho antigo: morar na Nova Zelândia. No início de 2008, ele vendeu tudo – uma moto e um fusquinha – para comprar a passagem.
“Ele chegou lá quase sem dinheiro e passou muito perrengue. Raramente comia mais do que um sanduíche. Trabalhou como segurança e separando fruta podre em uma exportadora. Juntou dinheiro para comprar a passagem de volta e voltou sem nada, no início de 2009. Essa fase difícil fez com que ele amadurecesse muito”, contou Aline.
Dourado se muda para favela
Mas foi no ano que antecedeu o BBB10, que Dourado passou pela fase mais cinzenta da sua vida. Sem dinheiro para nada, foi morar na casa de amigos até conseguir o primeiro emprego em uma academia para terceira idade na Gávea, que fechou. Depois disso, deu aulas em outra academia no Recreio, que também faliu.
"Ele começou a achar que levava azar para os lugares que frequentava", contou Silvia Barcelos, gerente de uma das academias que Dourado trabalhava antes de entrar no BBB.
Marcelo Nigue, outro amigo de Dourado, contou que ele passava por um período de depressão. “Ele estava muito deprimido, sem vontade de fazer nada. Trabalhava para sobreviver. O dinheiro mal dava para pagar o aluguel".
Rua de terra e microcozinha
Pouco antes de entrar no BBB, Dourado havia conseguido o mínimo de estabiliade para pagar o aluguel de uma casa na Favela do Terreirão, que fica ao lado do Recreio dos Bandeirantes, na zona Oeste do Rio, que o EGO foi visitar. O apartamento, localizado em uma rua de terra, tem apenas um ambiente e uma cozinha pequena com um fogareiro e um frigobar. Em uma televisão velha, doada por amigos, Dourado passava o tempo jogando videogame.
“O maior medo de Dourado é a rejeição. As dificuldade que ele enfrentou fez com que ele ficasse mais tolerante e consciente das diferenças. Ele passou a reconheceu seu jeito 'gaúcho' e a tentar prestar mais atenção na forma de falar com as pessoas. Por isso, no BBB, ele está sempre voltando atrás e pedindo desculpas. Ele não quer perder essa segunda chance”, concluiu Aline.
Fonte: Site EGO