Funcionárias da TV Globo no Rio de Janeiro estão trabalhando nesta terça-feira com uma camiseta que traz estampada a frase "Mexeu com uma, mexeu com todas". Trata-se de um protesto contra o ator José Mayer, acusado de assediar sexualmente a figurinista Susllem Meneguzzi Tonani. Ela o acusa de chamá-la de "vaca" e de passar a mão em sua genitália.
O protesto tem o apoio da cúpula da emissora, que ontem (3) decidiu cancelar a escalação de Mayer para a novela que Aguinaldo Silva escreve para a faixa das 21h. Mayer interpretaria o personagem Sampaio e faria par com Lilia Cabral, repetindo parceria de Fina Estampa (2011). A direção trata o movimento dos funcionários como "uma manifesfação contra um comportamento social", não como um protesto.
A camiseta está sendo usada por funcionárias de todos os escalões, de todas as áreas. Ontem, foi vendida nos estúdios por R$ 22 cada uma. Atrizes como Drica Moraes, Tainá Muller, Luisa Arraes, Alice Wegmann e Mariana Xavier estão vestindo a peça, que traz também a hashtag #ChegadeAssedio.
A denúncia contra José Mayer mobilizou funcionários e executivos da Globo no final de semana. Ontem, o diretor-geral da emissora, Carlos Henrique Schroder, se reuniu com os principais diretores da área artística e manifestou apoio ao movimento contra o assédio. Ele pediu para os chefes, gerentes e diretores tentarem ser mais próximos dos subordinados, para ouvirem mais os funcionários e, assim, evitarem que casos de abuso cheguem a extremos como o de Susllem.
No começo da noite de ontem, Schroder enviou um e-mail aos funcionários da casa reafirmando o apoio ao protesto e respondendo a quatro perguntas que funcionam como uma cartilha de ação em casos de desrespeito entre profissionais.
A denúncia contra José Mayer ocorreu há mais de um mês, mas só ganhou visibilidade na última sexta-feira (31), quando o blog #AgoraÉQueSãoElas, da Folha de S.Paulo, publicou um corajoso depoimento de Sussllem, a vítima do ator.
No texto, escrito em primeira pessoa, a assistente de figurinista diz que o assédio começou há oito meses, com frases do tipo "Como você é bonita" e "Como você se veste bem", que logo evoluíram para "Fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho".
Em fevereiro último, dentro de um camarim dos Estúdios Globo e na frente de duas camareiras, Mayer teria colocado a mão esquerda na genitália de Susllem, que decidiu denunciar a agressão à emissora. Com o fim de seu contrato para trabalhar na produção da novela A Lei do Amor, Sussllem levou seu drama à imprensa.
Em sua defesa, Mayer afirmou que respeita "muito as mulheres, meus companheiros e o meu ambiente de trabalho e peço a todos que não misturem ficção com realidade". Ele deu a entender que houve uma confusão entre sua personalidade e a do personagem que interpretava em A Lei do Amor.
"As palavras e atitudes que me atribuíram são próprias do machismo e da misoginia do personagem Tião Bezerra, não são minhas!", afirmou em nota.
Leia o e-mail enviado por Carlos Henrique Schroder aos funcionários da Globo:
Hoje, tivemos uma reunião que considero muito importante. Ouvi com muita atenção cada uma das colocações de vocês, principalmente no que diz respeito a sempre nos comunicarmos melhor. Por isso resolvi mandar este e-mail, para que vocês estejam alinhados com o que pensamos, o que respondemos e o que fazemos. Temos sido questionados por várias pessoas da imprensa sobre nossa posição como Globo. Estas quatro perguntas e quatro respostas sintetizam nossa posição. E resolvemos compartilhar com cada um de vocês. Mesmo porque, você é nosso maior disseminador. Como acreditamos que você também está sendo cobrado e perguntado, compartilhar nossa visão e nossas respostas seguramente pode ajudar nas suas. Estamos juntos e seguros de que estamos agindo conforme nossa consciência, dentro dos mais profundos compromissos com todos os nossos colaboradores e com o Respeito. Qualquer dúvida, pode perguntar. Abraço, Schroder.
José Mayer teve sua escalação suspensa da novela de Aguinaldo Silva como punição pela acusação de assédio?
A Globo decidiu não escalar José Mayer para a próxima novela das nove de Aguinaldo Silva, prevista para ir ao ar em 2018. Essa é uma atitude isenta e responsável da Globo de não dar visibilidade a uma das partes envolvidas numa questão que é visceralmente contra tudo que a Globo acredita. E não é uma atitude isolada. A atitude da Globo será sempre essa. A de defender que casos como esse devem ser apurados, ouvindo e oferecendo todo apoio às duas partes, dando possibilidade para que a verdade aflore e criando condições para que não se repitam. Foi isso que fizemos. E é isso que sempre faremos.
Soubemos que diferentes profissionais da emissora estão se reunindo entre si e com a direção desde o fim de semana para tratar desse assunto. Procede?
Neste final de semana, houve uma reunião organizada por profissionais da empresa para a qual a Globo foi convidada e esteve presente. E hoje houve uma reunião extraordinária nos Estúdios Globo com os principais líderes do entretenimento para conversarmos franca e abertamente sobre este caso. Mas é importante que se diga que reuniões de trabalho acontecem e acontecerão sempre que forem necessárias, principalmente quando disserem respeito a fatos contrários aos nossos valores. Isso está em total alinhamento com a nossa gestão de transparência e diálogo permanente.
Além disso, o fato de termos um processo de compliance estruturado, dentro do Grupo Globo, reflete a nossa crença de que nenhum assunto deve ficar sem análise, sem apuração e sem atitude tomada. É assim hoje e assim será sempre. Não compactuamos com atitudes que contrariam o Respeito que defendemos. Essa acabou sendo mais uma oportunidade para que a Globo reforce crenças de respeito à diversidade, ao ser humano, que existem na emissora há tempos. Tudo que tem sido discutido internamente, todas as dúvidas que têm sido tiradas, têm como base o Código de Ética e de Conduta do Grupo que prega esses valores desde sempre.
Como serão tratadas as funcionárias que forem trabalhar com a camiseta ‘Mexeu com uma, mexeu com todas’? A Globo sabe dessa mobilização?
Não só sabemos como apoiamos. Temos conhecimento dessa iniciativa e ela será bem recebida, pois está absolutamente alinhada com as crenças e os valores da empresa. Nós, assim como nossos funcionários, defendemos a transparência, a liberdade de expressão e a mobilização para as causas nas quais acreditamos. Nossos funcionários e funcionárias que vierem vestidos com a camiseta amanhã terão como companhia nossos executivos e diretores, com ou sem camiseta o Respeito é uma causa comum a todos. Não tem como ser diferente.
É verdade que a Globo está produzindo uma campanha interna pelo Respeito?
A campanha já existe, se chama ‘Tudo Começa Pelo Respeito’ e está no ar desde agosto do ano passado. Com desdobramentos na dramaturgia, no futebol, na Fórmula 1, no discurso de nossos autores, diretores e executivos. Está é a verdade da Globo, o que ela prega e no que ela acredita. O que a Globo fala, ela faz. O que ela faz, ela fala.
Fonte: Notícias da TV