À parte as discussões sobre o cabelo ou a cor do colete do coronel Afrânio em "Velho Chico", qualquer pessoa que tenha assistido a algum capítulo da nova novela das nove da Globo deve ter notado que a trilha sonora é um dos pontos altos da produção, misturando canções clássicas da MPB dos anos 60 e 70 com uma trilha incidental que remete aos trabalhos no cinema de Nino Rota e Ennio Morricone.
Uma das músicas mais escutadas até agora, além, claro, do tema de abertura "Tropicália", na voz de Caetano Veloso, é "Senhor, Cidadão", canção original de 1972 na gravação de seu compositor Tom Zé, um nome, aliás, muito pouco presente em trilhas de novelas.
"Minha cunhada me escreveu longamente se referindo com entusiasmo a respeito da canção na novela. Chegou a afirmar que a TV Globo voltou a habitar o top da eficiência e qualidade dramatúrgica com a novela e que a música foi colocada em momentos dramaticamente intensos, nos quais a letra se encaixa com precisão", comemora o artista que também tem "Dor e Dor" e "Um Oh! E um Ah!", na segunda fase da novela.
Se Tom Zé não é nada frequente em trilhas de novelas, o mesmo acontece com Zé Miguel Wisnik e Ná Ozetti, com "A Olhos Nus", e Geraldo Vandré, que aparece com "Réquiem para Matraga", tema de Belmiro, interpretado por Chico Díaz na primeira fase.
Mas os baianos --como Xangai e Elomar, com "Incelença do Amor Retirante", música original de 1989-- não são os únicos ícones nordestinos presentes na trama com músicas originais das décadas de 1960, 70 e 80. Há também Ednardo (aquele que fez grande sucesso com "Pavão Mysteriozo", música da primeira versão de "Saramandaia"), com "Enquanto Engoma a Calça"; Fagner, com "Corda de Aço"; e Amelinha, que tem "Gemedeira".
O casamento perfeito entre música e imagem se deve ao trabalho conjunto do produtor musical Tim Rescala e do diretor Luiz Fernando Carvalho.
"A opção por uma trilha mais temática foi uma opção do [diretor] Luiz Fernando, com meu total apoio. O resultado nos parece muito bom, pois a novela dá oportunidade ao público de conhecer novos compositores ou rever outros já consagrados, mas pouco ouvidos atualmente", esclarece Tim Rescala, produtor-musical da novela.
Nem só de músicas tão antigas se faz a trilha de "Velho Chico". Entre as novidades, estão "Da Aurora até o Luar", com Marisa Monte e Dadi, tema de Maria Tereza, interpretada na segunda fase por Camila Pitanga; "L'Étranger (Forasteiro)", com Thiago Pethit e Tiê; e de "Vitta, Ian, Cassales", com o grupo Apanhador Só. Há também regravações, como a feita por Marcelo Jeneci de "Veja (Margarida)", composta por Vital Farias em 1980; e versões como a interpretada por Chico César da "Serenata (Standchen)", de Franz Schubert.
O compositor com mais canções na trilha, entretanto, é Alceu Valença, autor de "Talismã" e "Caravana", ambas em parceria com Geraldo Azevedo. Valença também canta o clássico "La Belle de Jour" e a menos conhecida "Flor de Tangerina", a respeito da qual comenta: "Essa música não fez o menor sucesso, inclusive porque as rádios não tocam música brasileira. Mas é linda. Eu sou apaixonado por ela. E quando você recebe um convite como o de Luiz Fernando Carvalho, que é inventivo, criativo e muito bom, você o faz com muito prazer".
Alceu Valença também gravou, especialmente para a novela, "Moça Bonita", sucesso de Capinan e Geraldo Azevedo. "Foi um convite de Tim Rescala, que cuidou do arranjo. O resultado foi excelente, pois ele é um grande músico e amigo da arte. Então há diferenças com relação ao original no que se refere aos timbres", conta. E aproveita para elogiar a novela: "'Velho Chico' é um olhar sobre nós mesmos, nossa cultura, ou seja, o Brasil como um todo, contemplando todas as regiões. Fazia tempo que não havia nada sobre o Nordeste".
Fonte: UOL