A Globo vai produzir no ano que vem uma nova edição do programa infantojuvenil Sítio do Picapau Amarelo. Será a sétima versão desse clássico da televisão brasileira, a terceira na emissora. A produção deverá ser exibida logo após os remakes de Os Trapalhões e do Cassino do Chacrinha. A ideia da Globo é criar uma faixa de "revivals" nas tardes de domingo, realizando versões as mais fiéis possíveis de atrações que fizeram grande sucesso nas últimas cinco décadas.
A faixa foi encomendada pela cúpula da rede após a boa audiência do remake da Escolinha do Professor Raimundo, no final do ano passado. O humorístico aumentou o ibope da emissora em 50% e ganhou uma segunda temporada, com o dobro de episódios (15), no ar a partir de 16 de outubro. A Escolinha será substituída em janeiro por The Voice Kids. Em abril, o horário será ocupado por Os Trapalhões ou Chacrinha e depois pelo novo Sítio do Picapau Amarelo.
Os três projetos estão sendo tocados por Ricardo Waddington, diretor de gênero da Globo, responsável por programas como o Domingão do Faustão e Altas Horas. Serão produzidos em parceira com o Viva, canal pago do Grupo Globo. A nova edição de Os Trapalhões, programa originalmente exibido pela emissora entre 1977 e 1995, já está sendo roteirizada. O novo Chacrinha já tem um intérprete, o ator Stepan Nercessian, que viveu Abelardo Barbosa (1917-1988) em musical nos teatros.
A Globo ainda não definiu detalhes da nova versão do Sítio do Picapau Amarelo, mas a tendência é que seja próxima da obra original de Monteiro Lobato (1888-1948), ambientada em um sítio frequentado por personagens fantásticos (como uma boneca de pano e um sabugo de milho que ganham vida), folclóricos (Cuca, Saci-Pererê, Curupira) e mitológicos (Minotauro, Hércules).
Confira a seguir como foram as cinco versões já realizadas do Sítio do Picapau Amarelo:
TV Tupi, 1952
O Sítio do Picapau Amarelo foi um dos primeiros programas infantis da história da TV brasileira. A primeira versão estreou na TV Tupi em junho de 1952, apenas dois anos depois da inauguração da primeira emissora brasileira. Após escrever uma tese sobre a importância do teatro infantil, o psiquiatra Julio Gouveia foi convidado a adaptar a obra de Monteiro Lobato para a televisão. O programa era semanal, ao vivo e tinha apenas um cenário, a varanda do sítio de Dona Benta. Mesmo assim, teve 360 episódios até 1962 _no ano seguinte, muitos foram reencenados. Ao longo dos anos, vários atores fizeram os papéis principais: Pedrinho foi interpretado por quatro pessoas diferentes, assim como Dona Benta e Visconde de Sabugosa. Foi a primeira atração da TV a ter merchandising, inserido nos diálogos entre os personagens.
TV Cultura, 1964
Julio Gouveia se afastou da produção do Sítio em 1962, mas dois anos depois as histórias foram reaproveitadas pela TV Cultura em uma nova produção. Dessa vez, o programa foi comandado por Lúcia Lambertini, que também interpretava a personagem Emília. Mas, após seis meses no ar, a versão não conquistou o público e fracassou na Cultura.
TV Bandeirantes, 1967
Três anos depois, a Band trouxe o Sítio do Picapau Amarelo de volta para a TV com Julio Gouveia, a mulher dele, Tatiana Belinky, e o mesmo elenco da Tupi. Pela primeira vez, as cenas foram gravadas em um sítio real, mas o criador não estava satisfeito. Gouveia não gostava de gravar vários takes de um mesmo episódio (que demorava até oito horas para ser realizado) e de ter a história interrompida por intervalos comerciais. O desgosto chegou ao ponto de todo o elenco ser trocado após três meses de gravações. Depois do início conturbado, o Sítio do Picapau Amarelo se estabilizou na Band e ficou no ar até 1969 _foi cancelado por baixa audiência.
Globo, 1977
Com o sucesso dos programas infantis Pluft, O Fantasminha (1975) e Vila Sésamo (1972), a Globo decidiu investir no Sítio do Picapau Amarelo em 1977. A ideia era fazer uma adaptação educativa da obra de Monteiro Lobato, com professores convocados para ajudarem a estruturar o programa e uma equipe de consultores especializados em linguística, ciência, educação, psicologia, pesquisa e sociologia. O programa foi exibido de segunda a sexta, de 1977 a 1986, com mais de 1.500 episódios e direção de Geraldo Casé. Em 1979, foi considerado pela Unesco como um dos melhores programas infantis do mundo.
O Sítio do Picapau Amarelo era gravado em um sítio de verdade na Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro. No elenco, Zilka Salaberry interpretou Dona Benta do início ao fim da série. A atriz ganhou a vaca Mocha, que participava das gravações, quando o programa chegou ao fim. Dorinha Durval e Reny de Oliveira, que interpretavam, respectivamente, Cuca e Emília, foram substituídas ao longo dos anos. Dorinha foi acusada de matar o marido e ficou presa durante seis anos. Já Reny saiu por se sentir saturada da personagem e desejar outros trabalhos como atriz.
Os atores que interpretavam Pedrinho e Narizinho também mudaram ao longo dos anos, por estarem "muito velhos" para os papéis. Tonico Pereira, José Mayer e Maitê Proença também fizeram parte dessa versão.
Globo, 2001
No Dia das Crianças de 2001, a Globo ressuscitou o Sítio do Picapau Amarelo em nova versão, que ia ao ar de segunda a sexta, nas manhãs da emissora. Esse foi o primeiro trabalho de Isabelle Drummond na TV, no papel da boneca Emília. O elenco também contava com os veteranos Nicette Bruno (Dona Benta), Dhu Moraes (Tia Nastácia) e Ary Fontoura (Coronel Teodorico, um personagem recorrente). Como aconteceu nas versões passadas, Pedrinho e Narizinho foram interpretados por quatro atores diferentes.
Nos dois primeiros anos, os episódios contavam histórias dos livros de Monteiro Lobato ao longo de uma semana. A partir de 2003, o programa passou a ter trama independente da literatura original, com duração de meses. Em 2005, o Sítio assumiu o formato de telenovela, com temas como O Preço do Verdadeiro Amor e Entre o Amor e a Promessa. A audiência da atração já estava em decadência quando, em 2007, todo o elenco foi trocado. O público não aceitou bem a mudança, e o Sítio do Picapau Amarelo saiu do ar no mesmo ano.
Fonte: Notícias da TV