Estava em casa um domingo desses. Chovia e a preguiça tomava conta de todo o meu ser. Como já tinha colocado em dia todos os episódios de minhas séries favoritas, decidi navegar pela programação da TV aberta. Para uma atualização básica, sabe? Faz parte da profissão e havia séculos que eu não fazia isso.
A lembrança que eu guardava dessa experiência era muito ruim, só que o impossível aconteceu: a situação piorou muito. Muito mesmo! Antigamente a gente só tinha que engolir Silvio Santos, Fausto Silva e Gugu Liberato. Mas eles proliferaram. E suas crias são ainda piores. Só para você ter uma ideia, me deparei logo de cara com Eliana se sacudindo toda ao som daquela infame Rebolation, numa alegria tão falsa quanto uma nota de R$ 3.
Mas eu a entendo. É preciso ser uma Meryl Streep para conseguir convencer alguém de que está feliz pelo fato de a grande atração de seu programa ser um grupo de quinta categoria, cantando uma música velha e horrorosa. Aliás, vou morrer sem entender o sucesso do Rebolation, em que nem mesmo a (inexistente) coreografia funciona. Mas… De volta ao Eliana, do SBT, as brincadeiras também me aterrorizaram. Todas jurássicas e totalmente sem graça. O único consolo da Eliana deve ser mesmo aproveitar os intervalos para checar sua conta corrente na internet, ver a enormidade de dinheiro que está lá e repetir como um mantra: “vale a pena, vale a pena, vale a pena…” E voltar ao palco, sorridente, para continuar a fingir que está se divertindo com o Parangolé.
E gente! O cenário não é diferente nos outros canais. Na Record, Ana Hickmann dá um show de beleza e elegância, mas me recuso a ver de novo as gincanas do Tudo É Possível, tamanha imbecilidade que é imposta ao público. Mas nada é pior do que o Programa do Gugu com seu assistencialismo barato e as tentativas de explorar a miséria e o sofrimento alheio.
Pelo menos a emissora fecha na noite com o Domingo Espetacular, que é bem correto. Na Rede Globo, o que salva o Domingão do Faustão é a Cachorrada Vip e as Videocassetadas, que eu adoro. Mas o ideal é você gravar os quadros para assistir tudo acelerado quando Fausto Silva aparecer, porque aturar o gordo falando mais do que a Lurdinha (Simone Gutierrez), de Passione, é dose para elefante. Sem querer fazer trocadilhos infames, é claro. Já o Fantástico, outrora tão interessante, só me dá sono. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas quanta saudade da Glória Maria…
Conheço muita gente que não perde o Pânico na TV, na RedeTV!, mas eu sequer lembro que o programa existe. Talvez se assistisse, até desse algumas boas risadas como antes. Mas tenho horror ao tal Freddy Mercury Prateado e a mínima lembrança de que posso me deparar com ele na telinha revira meu estômago. Ao retornar ao SBT, concluo mesmo que Silvio Santos faz milagre para segurar o público. Só acho que ele deveria ter se atualizado um pouco. Tudo o que faz me soa tão anos 1980… E assistir a um programa de entrevista à meia-noite de domingo realmente não faz parte do meu show e, com isso, raramente confiro o De Frente com Gabi.
Com tanta chatice à disposição, sabe o que me dá alguns momentos de alegria? O Samba de Primeira, com Jorge Perlingeiro, exibido na CNT. Não sei se passa no país todo, mas me divirto demais com a naturalidade do apresentador e como adoro samba, o programa é um prato cheio. Sem falar que toda aquela produção kitch é de morrer de rir. Quando minha “navegação” se transforma num naufrágio, sinto uma vontade louca de ver novela.
Como já disse aqui várias vezes, gosto tanto do estilo de dramaturgia que curto assistir até tramas ruins. Prefiro mil vezes rever Tempos Modernos a ter que passar de novo uma tarde com o Parangolé, Eliana e cia. E morro de ódio porque domingo não tem novela. Aliás, por que não passa novela no domingo? Não seria uma boa solução se as emissoras não fizessem ao menos um resumo da semana no domingão? Lanço aqui, então, um manifesto pelo direito de a gente ver novela no domingo. Quem me acompanha?
Fonte: Jorge Brasil, da Contigo
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