Os olhos azuis de Bruno Gagliasso brilham
cada vez que ele fala de Timóteo, o vilão que interpreta em "Cordel
Encantado". Nas ruas, escuta bronca das senhoras que assistem a trama
escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid. "As avós me odeiam. Elas dizem:
'Timotinho não vale nada!'", diverte-se. O ator afirma que Timóteo não é
um personagem distante. "Solto meus demônios com o Timóteo", avisa.
Bruno diz que o destino de seu personagem já
está traçado. "Recebi as cenas secretas, mas ainda não gravei. O final
dele é surpreendente", despista o ator. Mas antes do dia 23, quando
"Cordel Encantado" termina, Timóteo ainda vai aprontar muito.
Leia a seguir a entrevista com o ator, em que
ele fala do orgulho de fazer parte de uma novela das seis que tem uma audiência
com média de 30 pontos - considerado um grande feito para o horário.
Como
você vê a evolução de Timóteo na trama?
Eu não esperava que Timóteo fosse um papel
tão envolvente e tão terrível como ele é. Foi uma das maiores experiências
profissionais da minha vida, isso se não for a maior. Quando a [diretora] Amora
Mautner me chamou, ela disse: "Bruno, esse é o tipo de personagem que você
ama fazer. Ela me conhece. Trabalhamos juntos em "Celebridade" e
"Paraíso Tropical". Confio 100% nela e entrei de cabeça na novela. E
Amora, mais uma vez, estava certa.
Como
você avalia o sucesso de "Cordel Encantado", uma novela das seis que
dá 30 pontos de média no Ibope?
Acho que "Cordel" entrou para a
história por ser uma novela completa. Todos os atores estão inteiros nessa
novela. Tudo é muito visceral. É a junção perfeita da arte com a ousadia. A
trama é uma fábula, mas retrata muito do que acontece. Timóteo é o retrato dos
coronéis que ainda existem no interior do Brasil, que colocam suas próprias
regras. Através desse personagem, as autoras [Thelma Guedes e Duca Rachid]
denunciam os poderes paralelos, como as milícias. Acho que "Cordel"
deu muito certo porque retrata a realidade.
Antes
da novela estrear, muito se falou sobre a probabilidade de o público aceitar ou
não uma trama diferente como a de "Cordel Encantado". Você sempre
acreditou no sucesso da novela?
Eu gosto do risco e da arte. Só assim a gente
cria e fica inteiro. Se não for para correr riscos, qual é a graça? Um fator
determinante para aceitar um personagem é justamente se ele for um risco. Isso
me instiga. E eu quis correr esse risco.
Muita
gente associa Timóteo ao Napoleão Bonaparte. Você se inspirou nele para o
papel?
Me inspirei sim em Napoleão Bonaparte. O texto
das autoras induziu isso. Ficou claro quando Napoleão tira a coroa das mãos do
Papa e se intitula rei. Fiz uma cena assim, quando Timóteo tira a coroa das
mãos do Cardeal. E Timóteo estudou os grandes reis da história para se
inspirar.
O que
você ouve nas ruas sobre Timóteo?
As crianças adoram porque elas associam a
novela às histórias das princesas que fazem parte do cotidiano delas. Mas as
avós me odeiam. É engraçado porque eu ouço muita bronca nas ruas. Elas dizem:
"Timotinho não vale nada!". Algumas brigam comigo, mas depois
sorriem. Mas a maioria só briga.
Os
bordões de Timóteo caíram no gosto popular, como o "Timóteo, me
mate!". Eles já vieram no texto?
Foi tudo invenção da minha cabeça. E o bacana
é que as autoras deixam a gente fazer sem se importar com isso. Criei também o
"Caladinho!" e o "Êta". Isso pegou até entre o elenco da
trama. Jayminho [Matarazzo] não para de falar o "Eta". É gostoso ver
isso.
Qual
foi a cena mais difícil de fazer?
As mais difíceis são sempre as mais
prazerosas. Gostei muito de ter feito as cenas da coroação de Timóteo. Quando
ele virou coronel eu gostei... A cenas em que ele leva um tiro do Zóio-Furado
[Tuca Andrada] também foi muito bacana, quando me visto de mendigo... Eleger
uma só é complicado.
Como
você definiria o Timóteo?
Ele é um cara que passa por cima de qualquer
pessoa para conseguir o que quer. Ele é debochado e sarcástico. Ele é sádico,
porque gosta de ver as pessoas sofrendo.
Você
tem alguma coisa de Timóteo?
Claro! [risos] Todo mundo tem anjos e demônios
como o Timóteo. O bacana é poder controlar os dois, mantendo um equilíbrio.
Solto meus demônios com Timóteo. Falar que eu não tenho demônios é desmerecer
esse controle. Claro que tem gente que é 90% anjo. Assim como tem gente que é
90% demônio. [risos]
Na sua
opinião, a loucura de Timóteo pode ser comparada à esquizofrenia de Tarso, seu
personagem em "Caminho das Índias"?
De jeito nenhum! Timóteo é um psicopata,
demoníaco. Se fosse para comparar, acho que ele seria mais parecido com a Yvone
[papel de Letícia Sabatella na trama de Glória Perez]. Timóteo não tem cura. O
Tarso tinha cura e era isso o que a Glória tentou mostrar. Os esquizofrênicos
sofrem com isso porque as pessoas confundem.
Como
você gostaria que fosse o final de Timóteo?
Ah! Ele tinha que sofrer muito. Alguém tinha
que conseguir colocar uma máscara de ferro nele e deixar ele lá, com a máscara,
por um bom tempo. Depois, ele seria enforcado. Quero que ele sofra muito.
"Cordel"
está com poucos capítulos de frente. O elenco vai gravar até o dia 23.
Trabalhar assim é mais complicado?
Toda reta final de novela é dessa forma.
"Cordel" foi assim desde o começo. Foi uma novela em que os atores se
doaram muito. A gente precisou se doar porque a gente grava cenas elaboradas,
com um figurino caprichadíssimo e em muitos cenários distintos. Cada um deles
tem uma luz diferente. Todos esses fatores que te falei fazem com que seja
necessário um tempo muito grande para que a novela possa ir ao ar da maneira
como está indo.
Parece
que o elenco ficou muito amigo. Isso é um facilitador na hora de gravar as
cenas?
O elenco é muito sincronizado. É
impressionante a minha amizade com a Bianca Bin [Açucena], o Domingos Montagner
[Herculano] e o João Miguel [Belarmino]. Fiz grandes amizades que quero levar para
sempre na minha vida. São pessoas maravilhosas e muito importantes.
Timóteo
é seu primeiro papel em uma novela de Thelma Guedes e Duca Rachid e você está
satisfeito com o resultado. O que você gostaria de dizer para elas neste
momento?
Eu sempre digo alguma coisa quando a gente se
encontra. Mas diria o seguinte: "Que venham outros Timóteos, Jesuínos e
Herculanos por aí".
Você
fala de "Cordel Encantado" com um orgulho enorme...
Acho que a Globo arriscou. Foi ousada ao
colocar uma novela como essa no ar e abriu o caminho para próximas produções
deste nível. Todo o elenco tem mesmo um imenso orgulho de ter feito parte de
"Cordel Encantado". Para mim, essa novela revolucionou a história da
TV.
Fonte: UOL TV
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