Ele é truculento, machista, estourado e bate
tanto na mulher que nessa semana foi para a cadeia na novela das 21h "Fina
Estampa". No entanto, o intérprete do motorista Baltazar, Alexandre Nero,
diz que, no fundo, seu personagem é extremamente dependente da mulher. Também
diz que a rejeição das pessoas o deixa carente e que adoraria fazer o papel de
um gay. Leia, abaixo, a entrevista exclusiva com o ator para o UOL:
Embora
seja violento, o Baltazar foi aprovado pelas 45 mulheres que foram ouvidas em
São Paulo no 1º grupo de discussão que avaliou “Fina Estampa”. Ele perdeu na
preferência das telespectadoras apenas para René (Dalton Vigh) e Crô (Marcelo
Serrado). A que você atribui esse sucesso do personagem junto ao público
feminino?
Eu não li nada ainda sobre esse grupo de
discussão, então não posso afirmar nada. Mas acho que pode ser porque a
população brasileira ainda é muito machista e acha que a educação que ele dá
para a filha Solange [Carol Macedo] é certa. Essa coisa de não poder dançar
funk, não poder usar roupas mais justas, muita gente concorda com aquilo. E
acho também que as pessoas confundem um pouco o ator com o personagem. Eles
sabem que esse homem, o Baltazar, sou eu, o Alexandre, e transferem o carisma
do ator.
O
Baltazar bate na mulher e é quase um monstro com a filha adolescente. Como foi
o processo de criação desse personagem?
Eu fui atrás para saber o que esses homens
pensam. Eu não defendo o personagem, eu fui tentar compreender o que se passa
pela cabeça dessas pessoas. Se eu for fazer um assassino, eu preciso entender o
que se passa na cabeça de um assassino, por que essas pessoas matam. No caso do
Baltazar, eu precisava saber por que ele agride e, às vezes, tentar até matar
como foi o caso em algumas cenas. Esses homens perdem a cabeça, não têm
controle de si, acham que têm o direito de controle sobre as mulheres. Quando
elas casam, eles não são assim, são amorosos e felizes. Mas as coisas vão
acontecendo e perdem o foco. E viram íntimos ao ponto de achar que um pode
controlar a vida do outro.
É
verdade que o Baltazar é extremamente carinhoso com a Celeste entre quatro
paredes? Você acha que o personagem terá o mesmo fim de outros agressores na
novela ou, por conta dessa doçura, ele poderá mudar e até passar a ter uma
relação sadia com a mulher?
Essa é uma pergunta para o Aguinaldo [Silva,
autor]. Eu acho que seria muito bacana se ele se regenerasse. Como ator,
gostaria de fazer um personagem que vai se regenerar, mas confio plenamente no
Aguinaldo e, com certeza, o que ele escolher para o Baltazar vai ser o justo.
Estou preparado para ser punido. Mas essas pessoas têm problemas psicológicos.
Eles estão doentes, o homem e a mulher precisam de ajudam. Afinal eles se
gostam, mas levaram para o lugar errado.
Em “A
Favorita”, você interpretava o verdureiro Vanderlei, que se relacionava com
Catarina (Lilia Cabral), que vivia apanhando do marido. Agora seu personagem
bate na mulher. De uma forma ou de outra, a violência à mulher te persegue.
Como ator, é melhor ser o que bate ou o que consola quem apanha?
O que consola quem apanha. Bater é terrível.
Cansa emocionalmente, cansa fisicamente. As pessoas olham torto na rua, a gente
se sente mal. Espero que demore bastante para acontecer de novo. Quando a gente
faz um personagem bonzinho, as pessoas amam a gente gratuitamente, acham a
gente lindo, uma gracinha. E agora não, eu sou um malvado. E isso é ruim.
Por que
você acha que o Baltazar é assim com a filha e a mulher? Machismo, insegurança,
ciúme?
Eu acho que é um misto de tudo. Pelos estudos
que tive desses homens e, ao contrário do que tudo mundo pensa, são os homens
que dependem dessas mulheres e não as mulheres que são dependentes desses
homens. Eles têm pavor de perder as mulheres, têm muito ciúmes delas e chegam a
morrer com a ausência delas. Por isso o desespero, por isso ele a ameaça de
morte se ela resolver deixar ele. Porque eles são extremamente dependentes
delas. São extremamente inseguros.
No
“Domingão do Faustão” do último dia 16 de outubro, você disse que gostaria de
ser abraçado nas ruas. O que você tem escutado do público? Você acha que as
pessoas hoje em dia sabem separar o ator do personagem?
A maioria sabe separar. E isso talvez seja o
porquê de estar no terceiro lugar. O clima é de brincadeira, mas existem
pessoas que realmente falam: “Olha lá, vai apanhar” ou “Tenho vontade de bater
em você”. Escuto o dia inteiro. Aonde eu vou, escuto: “Olha o cara da novela, o
cara agressivo, o cara que bate em mulher. Ai, quero bater nele. Violento,
malvado. Ai, que raiva tenho dele”. Eu sei que não sou eu, mas é para mim que
eles estão falando. Então é por isso que eu falo: “Gente, para de falar isso e
me abraça porque eu tô carente” [risos].
Depois
de um dia intenso de gravação na pele do Baltazar, você se sente pesado quando
vai embora para casa? O que faz para relaxar?
Não faço nada. Converso com amigos, vou ao
cinema, esqueço um pouco disso. Faço outras coisas, mas saio muito pesado
mesmo. É claro que divido as coisas. Eu gostaria de deixar nos estúdios, mas as
pessoas me param na rua, falam e não me deixam esquecer.
Alguma
mulher já te parou na rua para dizer que tinha um marido como o Baltazar? O que
você escuta do público feminino?
Sim. Uma pessoa me parou na rua e falou. Eu
curiosamente perguntei mais sobre o assunto e perguntei por que ela ficava com
o marido; ela disse que era porque gostava muito dele, que se divertiam e que a
relação, no início, era feliz e saudável. Mas ele era muito ciumento e perdia a
cabeça, ameaçando-a de morte quando ela pensava em deixá-lo. Ela disse que
demorou muito para se desvencilhar dele. Outra vez, um homem me disse que se
identificava muito com o Baltazar.
O
Baltazar apresenta traços de homofobia. Você acha que ele pode ser um bissexual
enrustido? Principalmente porque existe um mistério sobre quem mantém um
romance com o gay Crô (Marcelo Serrado). Será que é ele?
Acho que por ser uma novela, sim, ele pode
ser homofóbico ou ter traços de bissexualidade enrustida, assim como a maioria
diz. Mas eu discordo totalmente que a agressividade dele seja por conta disso;
eu acho que assim como a homofobia, a intolerância religiosa ou racismo vêm da
ignorância, da falta de instrução, da falta de ciência das coisas. O que falta
é convivência. Quem convive com o diferente, passa a achar parecido ou
respeitar as diferenças. Tudo é questão de cultura e educação.
O que
você acha dos homens que usam a força física para controlar suas mulheres?
É repugnante usar a força física para
qualquer coisa. Agressividade verbal ou física é repugnante. E não só do homem
contra a mulher, mas o contrário também. Homens e mulheres com esse perfil
precisam de ajuda.
Fora a
novela, você estreou o longa “Novela das Oito”, é músico e está em cartaz com o
espetáculo “Você Precisa Saber de Mim”. Como faz para conciliar as gravações da
novela com a música e o teatro?
É enlouquecedor. Não tenho tempo para nada. O
filme já foi feito. O CD estou lançando em novembro. Não farei show porque
estarei gravando. Mas assim que acabar a novela, vou tentar fazer shows de
lançamento.
Qual é
a melhor parte de ser ator? E a pior?
A melhor é poder viver outras experiências,
extravasar de uma maneira enlouquecedora sem ser um criminoso. O ator tem o
álibi de ser o que quiser. A pior é que você nunca sabe se é um ator. Nunca
sabe se é verdade ou se está atuando. É uma profissão subjetiva e a mais
difícil do mundo. Um traço muito perto da loucura.
O que
mudou na sua vida depois que ficou famoso?
Fama é diferente de sucesso. Sucesso é uma
coisa que te dá alicerce e respeitabilidade pelo que faz. Fama é uma coisa
extremamente vazia. As pessoas te conhecem não sabem de onde, te confundem com
alguém, com um sobrinho. A fama não me trouxe absolutamente nada de bom. O
sucesso sim. É por isso que continuo trabalhando. A fama só incomoda, as
pessoas querem saber sobre a sua vida particular a qualquer custo. Na fama, as
pessoas te amam ou te odeiam gratuitamente.
Você
tem vontade de fazer algum personagem diferente dos que já viveu na TV? Qual?
Agora estou louco para fazer um bonzinho.
Também gostaria de fazer um gay ou comédia caricata. Coisas distantes da minha
realidade.
Fonte: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário