Embora se fale que a novela "Cheias de
Charme" inovou ao colocar três empregadas domésticas como protagonistas,
não é de hoje que atrizes do teatro ganham projeção na TV interpretando as tais
"secretárias do lar". No ar no canal "Viva" com a reprise
de "Roque Santeiro" está a subserviente e sábia Mina, interpretada
por Ilva Niño, uma das primeiras do ramo a se destacar. Viver o braço direito
da Viúva Porcina (Regina Duarte) fez com que a atriz seja até hoje chamada pelo
nome da personagem, especialmente porque Porcina enchia os pulmões para gritar
seu nome. “A Mina nunca foi esquecida, até hoje as pessoas acham que meu nome é
Mina”, contou Ilva em entrevista. Para ela, Mina era mais do que uma empregada.
“Eu não encaixo a Mina numa classe social,
para mim era a relação de duas mulheres sozinhas. A Mina não tinha família, a
Porcina também não. Elas tinham uma relação quase maternal. Mesmo com os
atritos, elas tinham um equilíbrio”, opinou Ilva que já interpretou empregadas
em outras novelas, a primeira foi em “Sem Lenço, Sem Documento”, em 1977.
Para Walderez de Barros, a Judite de “O Rei
do Gado”, não importa se a personagem é a doméstica ou a patroa. “Boa
personagem é boa personagem sempre, pode ser patroa, empregada ou jardineiro. O
importante não é o papel social, é o drama que ela tem, é a função da
personagem na trama”, comentou. Ilva faz coro: “Nas comédias Dell’Arte, do
Molière, as protagonistas eram as empregadas. Já estava na hora das novelas
reconhecerem a importância delas”.
Recentemente, outras atrizes ganharam
destaque e roubaram a cena interpretando empregadas domésticas. Em “Morde e
Assopra”, Vera Mancini deu vida à divertida Cleonice e ganhou o apoio do
público. “Foi a primeira vez que fiz uma empregada doméstica na TV, a
personagem tinha uma inocência, uma humanidade que cativou o público”, contou
Vera que acredita que “Cheias de Charme”
está sendo um “marco na televisão”.
“As empregadas estão sendo olhadas com
carinho, antes eles só abriam e fechavam a porta, hoje são personagens que
possuem drama, têm uma boa historia. É muito bom os autores estarem dando essa
abertura. Foi muito importante na minha carreira ter feito a Cleonice. De
alguma forma as empregadas são a voz do povo dentro da trama, são personagens
com grande identificação com o público”, elogiou.
Kátia Moraes, a Marilda de “Fina Estampa”,
até hoje colhe o sucesso da parceria com Baltazar (Alexandre Nero) e Crô
(Marcelo Serrado). “Um grupo de estudantes passou por mim um dia desses e
gritou: 'Dá-lhe Marilda'”, contou dando risada. As caixas do supermercado
também são as que mais interpelam Kátia, que revelou ainda se surpreender com o
sucesso da personagem.
“Com um texto bom tudo pode acontecer, mas
ainda acho surpreendente pelo fato de ser uma empregada. Geralmente essas
personagens não têm esse destaque. Eu percebo que existe um preconceito no
sentido de ser ‘a empregada’, acho que a realidade passa para a ficção”, opinou
Kátia que no início de “Fina Estampa” fazia parte do elenco de apoio e só na
terceira semana da novela no ar que teve o nome nos créditos iniciais.
Atualmente é Cláudia Missura quem tem feito sucesso na pele de Janaína, a
empregada desastrada e medrosa da vilã Carminha (Adriana Esteves), em “Avenida
Brasil”. A atriz "tem uma relação afetiva com o tema”. Missura fez a peça
“Domésticas” e em seguida a versão cinematográfica do espetáculo, dirigida por
Fernando Meirelles.
“Essas pessoas [empregadas] estão nas nossas
vidas e às vezes a gente não nota. As empregadas ainda são um ranço da
escravidão, é nosso último elo com a escravidão. Mas hoje está mudando, é mais
difícil encontrar uma empregada doméstica, elas estão estudando e realizando os
sonhos delas. O nível intelectual está maior. Tenho muito carinho por essas
personagens, foi através do ‘Domésticas’ que tive visibilidade no teatro e
depois o filme me fez chegar até a Globo”, revelou Missura que acredita que o
fascínio da personagem é a “ingenuidade” e “simplicidade”.
Nas próximas semanas de “Avenida Brasil”, a
intimidade de Janaína será mostrada.
Longe da mansão de Tufão (Murilo Benício), Janaína tem um filho que
estuda em uma escola técnica e uma empregada. “A Janaína vai tratar a empregada
como a Carminha trata ela. Na verdade ela não vai ser mázinha, ela vai
reproduzir o padrão que aprendeu de ser patroa. Então ela vai ensinar a
empregada a servir o café, como colocar o café na xícara, estou achando tudo
muito interessante”, finalizou.
Fonte: UOL
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