Um homem estava se afogando no mar.
A maré estava alta. As ondas o engoliam.
Rapidamente, um salva-vidas se aproximou para
resgatá-lo, mas o homem (cuspindo água) repeliu-o, dizendo:
- Saia daqui! Posso me salvar sozinho!
Confuso, o salva-vidas replicou:
- Mas o senhor está se afogando!
O homem empertigou-se o máximo que pôde, fez
uma careta zangada, e respondeu:
- Sei disso, seu idiota! Por isso vá chamar
um professor de natação! E um dos bons, pois precisarei aprender depressa!
***
Autossuficiência.
No mar, ela mata.
Na TV, ela derruba.
A Record tem cuspido alguns litros d’água
enquanto aprende esta lição.
Assim como o homem afogado, a emissora tem
pagado o preço de confiar excessivamente em si mesma.
Em seu caminho da liderança, sobrou preparo,
mas faltou técnica.
Houve qualidade. Mas esta foi vencida pela
instabilidade.
A Record nadou...
Mas se esqueceu das ondas.
E hoje, afogando-se, insiste em não pedir
ajuda.
Debater-se parece ser mais eficaz.
Precipitação e imediatismo são usados como
bóias.
E, mesmo percebendo que estas estão furadas,
a Record insiste em sorrir e acenar.
Há um salva-vidas chamado público.
Poucos percebem que ele é tão dependente da
TV quanto esta é dele.
Telespectador e emissora possuem um
relacionamento.
E quando uma das metades ameaça ir embora, a
outra faz de tudo para convencê-la a ficar.
A Record tem o público nas mãos.
Tem competência para mantê-lo.
Dinheiro para comprá-lo.
Mas... Onde achar carisma para cativá-lo?
Em meio à crise, o relacionamento se esfria.
O público estende as mãos, mas a emissora,
inexplicavelmente, não aceita a ajuda.
Abandona regras, à procura de fórmulas.
Perde o mês, preocupando-se com o dia
Despreza pessoas, preocupando-se com números.
A Record exibe seu diploma de bom nadador,
embora há muito tenha se esquecido do que aprendeu nas aulas...
***
Não pense, porém, que afogamentos são
exclusividade da Barra Funda.
As ondas também atingem a Anhanguera.
Se no SBT sobra humildade, falta estratégia.
Muito zombam do caminho da liderança
idealizado pela Record, mas ela merece aplausos por ter tido coragem de
traçá-lo
"Pior do que quem tropeçou é quem
assistiu à queda alheia sem sequer se levantar".
No SBT, o professor de natação atende pelo
nome de Silvio Santos.
Ele ama seus salva-vidas, mas se recusa a
dar-lhes um aumento.
Se Silvio fosse dono de uma funerária, ele, e
não a família enlutada, é que marcaria o horário dos enterros.
Centralizar decisões está no DNA desse homem
vencedor, acostumado desde jovem a só confiar em si mesmo.
A autossuficiência da Record é orgulhosa. A
do SBT, comodista.
A primeira finge que está tudo bem. A segunda
pensa que está tudo bem.
Ambas possuem tesouros em sua grade, mas não
aprendem a lidar com eles.
A Record os penhora.
O SBT os tranca num cofre.
Muitas diferenças, que se unem numa triste
coincidência:
Ambas se afogam no final...
***
Eis a disputa pela Vice-Liderança no Ibope.
Ambas a tem na mão, mas permitem que ela
escorra pelos dedos.
De um lado, uma diretoria orgulhosa. Do
outro, uma submissa.
Não se engane achando que há um vencedor.
Os últimos dias de triunfo do SBT são tão
estáveis (sic) quanto o foram os últimos anos de triunfo da Record.
A maré está alta. Salve-se quem puder...
***
Ser salva-vidas não é nada fácil, não é?
Que seu controle remoto seja seu colete.
Mas que você seja corajoso o bastante para
lançar-se na água e apoiar sua netade favorita...
***
Ela está lá.
A Líder.
Sorrindo tranquilamente e bebendo água de
côco.
O mar é dela. Ela o comprou.
Sua posse, porém, é ilegal e ela pode
perdê-lo a qualquer momento.
Mas quem disse que alguém se levanta para
derrubá-la?
Uma a imita. A outra a ignora.
E no final, vence quem comeu a carne e deixou
que os cães brigassem pelos ossos.
Simples assim.
Plim Plim.
Autor: Arthur Vivaqua
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