Morreu na noite desta terça-feira, aos 69
anos, o dramaturgo, compositor e escritor Luiz Carlos Góes, vítima de
complicações provocadas por um câncer. Figura presente nos palcos, na televisão
e na música, foi um dos pioneiros do teatro besteirol e era um dos principais
escritores de humor e teatro da Rede Globo, com longa parceria com Miguel
Falabella. Trabalhou também com Eduardo Dussek nos anos 1980, compondo
clássicos como "Barrados no baile", "Brega-chique" e
"Folia no matagal". Ele estava internado no hospital Quinta D'Or.
Nascido no Rio, Góes morou ilegalmente nos
Estados Unidos no fim da década de 1960, trabalhando em funções como garçom,
limpador de pratos e faxineiro. Após passar temporada em Londres, decidiu
tornar-se dramaturgo. Desde 1972 no teatro, estreou na autoria em 1976 com a
peça "Síndica, qual é a tua?", que contava com Marília Pêra. A partir
daí, teve peças dirigidas por figuras como José Lavigne ("Esse é o ano que
é"), Bibi Ferreira ("Noites de cabrita") e Marcus Alvisi
("Boom!", que lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Shell e 12 anos de
encenações com Jorge Fernando). Com a parceria junto a Maitê Proença em
"As meninas" (Amir Haddad), de 2009, venceu o Prêmio da Associação
dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR).
Ainda na década de 70, Góes começou a
colaborar com Eduardo Dussek em composições bem-humoradas que viriam a marcar a
carreira do cantor carioca. No início dos anos 80, Dussek fez sucesso com
letras compostas em parceria com o colega, como "Barrados no baile",
"Brega-chique", "Folia no matagal" e "Seu tipo",
famosas na voz de Ney Matogrosso. Foi cantado também por Zizi Possi e Maria
Alcina, entre outros.
Na TV Globo, esteve envolvido em diversos
esquetes, novelas e programas de humor. Com Jorge Fernando, voltou a colaborar
em "Sete pecados", de 2007. Com Miguel Falabella, com quem já
mantinha uma relação próxima desde o fim da década de 70, escreveu roteiros
para obras como "Toma lá dá cá", "Aquele beijo", "Pé
na cova" e "Sexo e as negas". O amigo ressaltou a coragem de
Góes ao se expôr com seu humor ácido e realista:
— Luiz Carlos era uma das pessoas mais
inteligentes, criativas e engraçadas com quem tive o privilégio de trabalhar.
Era profundamente anárquico, nunca deixava que nada fosse careta. Ele foi
sempre uma figura essencial na minha equipe. Na história das "negas"
("Sexo e as negas", alvo de acusações de racismo), em que todo mundo
foi muito patrulhado, ele botou a cara, dizendo "não existe nada de
racismo ali, vamos em frente!". Ele era muito corajoso, transgressor. Ele
manteve até o fim uma alegria impressionante, foi uma grande lição. Falei com
ele na semana passada. Não tinha medo de morrer, e sim compreensão da finitude.
É uma enorme saudade, pensando que ele se junta aos grandes nomes do nosso
humor e do besteirol que já estão lá em cima, como o Vicente (Pereira) e o
Mauro (Rasi).
Em 2013, Góes lançou o livro "Teatro
nervoso", com 22 peças curtas ao longo de sua carreira. Continuou
produzindo mesmo após sua saúde se tornar cada vez mais debilitada, ao longo do
ano, por conta de um câncer que chegou a acometer sua visão. O jornalista e
colunista do GLOBO Artur Xexéo, que colaborou com Góes em "Pé na
cova", seriado de Falabella, ressaltou a capacidade dele de inserir humor
nas mais diversas artes e momentos:
— Profissionalmente, eu conheço o Luiz Carlos
há muito tempo. Ele é coautor de alguns dos maiores sucessos de Eduardo Dussek,
como "A índia e o traficante", "Barrados no baile",
"Doméstica" e o megahit "Brega chique". Ele levou para a
música popular a loucura com que impregnava os esquetes do teatro besteirol.
Mas só tive a sorte de conhecê-lo pessoalmente quando começamos a trabalhar
juntos na equipe de roteiristas de "Pé na cova". Ele já estava
debilitado, mas ainda tinha suficiente bom humor para tornar nossas reuniões
imperdíveis. Era um sujeito totalmente do bem. Tão do bem que chegava a ser
ingênuo. Vai fazer falta.
Fonte: O Globo
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