terça-feira, 12 de julho de 2016

‘Dez Mandamentos’ chega ao fim de forma melancólica


Depois de ter esgotado todas as possibilidades de Os Dez Mandamentos, que virou livro, filme e até musical, a Record finalmente encerra a segunda temporada da novela com o trunfo de ter chacoalhado o mercado audiovisual e reaquecido a disputa por pontos de audiência. Mas nem só números fazem de um folhetim um produto de qualidade. A trama bíblica é a prova de que a falta de planejamento pode destruir um projeto que tinha tudo para terminar com êxito máximo, mas que definhou com erros sofríveis de escalação de elenco, maquiagem e cenografia.

A enrolação tomou conta já do final da primeira temporada, em novembro de 2015, e não desapareceu na segunda fase da história, a partir de março deste ano. Surgiram novos reinos hostis a Moisés (Guilherme Winter), num lampejo de inspiração da autora Vivian de Oliveira em Game of Thrones (HBO). O problema é que a mira foi mal apontada, e o resultado no vídeo foi bem aquém (mas bota aquém nisso) da série norte americana _traçar comparações seria até injusto.

Além dos cenários artificiais, que mais pareciam carros alegóricos de escolas de samba do grupo de acesso, a caracterização dos personagens foi sofrível: barbas e perucas evidentemente falsas não ajudaram em nada a passar a imagem envelhecida que marcou os 40 anos em que Moisés conduziu seu povo pelo deserto. Teria sido melhor trocar o elenco _se houvesse elenco. Afinal, a audiência já estava consolidada.

A cena da morte de Arão (Petrônio Gontijo), na segunda feira (27), foi um marco da maquiagem malfeita. A câmera mostrou apenas closes dos pés, dos ombros e das costas do personagem, que se despiu antes de morrer, evitando assim um trabalho mais rigoroso tanto da maquiagem quanto da direção. Sequência preguiçosa que prejudicou a grandiosidade da cena.



Também faltou apuro técnico para disfarçar os efeitos de chroma key utilizados à exaustão nas cenas dos hebreus caminhando pelo deserto. Lembrou os programas da MTV Brasil nos idos dos anos 1990. E o que dizer das batalhas dos hebreus em direção à Terra Prometida em que, a despeito dos inúmeros golpes, nenhuma gota de sangue foi derramada? Esqueceram esse detalhe na pós produção?

Cenas longas, marcadas por uma trilha sonora bastante pontuada, intensificaram o melodrama. Mas nem mesmo a narrativa excessivamente lenta espantou o público. Os Dez Mandamentos serviu, ao menos, para mostrar que não precisa colocar o elenco se esgoelando para conquistar audiência.

Por falar em elenco, salta aos olhos algumas escalações evidentemente erradas, como a de Juliana Didone (Leila), jovem demais para o papel de uma anciã. Outra personagem prejudicada pela idade foi Betânia (Marcela Barrozo). Alguns atores, porém, tiveram destaque nessa segunda temporada. É o caso de Denise Del Vecchio (Joquebede), Petrônio Gontijo e Vitor Hugo (Corá), que defenderam bem seus personagens. Guilherme Winter, visivelmente exausto, parece ter ligado a interpretação no automático e deixou o rendimento de Moisés cair entre uma fase e outra da novela.

Já a ideia de começar a introduzir os personagens de A Terra Prometida foi uma boa maneira de fazer a passagem para a próxima novela da emissora: manteve a unidade entre as tramas e, didaticamente, apresentou os próximos caminhos que a nova narrativa bíblica deve seguir.

Os Dez Mandamentos cumpriu com seu intento e conquistou um rebanho de fiéis, além de ter sido, sem dúvida, uma novela evangelizadora, bem mais do que qualquer outra minissérie bíblica que a Record já produziu. Foi um nicho encontrado e que o histórico da emissora não deixa dúvidas na hora de afirmar: será usado até seu esgotamento.

O desafio de A Terra Prometida é grande: ao mesmo tempo em que tem de manter os índices, precisa ser (bem) melhor do que a antecessora.

Fonte: Notícias da TV

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