sexta-feira, 1 de julho de 2016

Elenco bem escalado é o trunfo de “Haja Coração”


“Haja Coração” é uma novela de bons trunfos. Segue à risca a receita do tradicional horário das sete da Globo: a comédia romântica sem medo do pastelão, colorida, com farto elenco jovem e bonito. É uma trama folhetinesca e despretensiosa, com reviravoltas, ação e bons ganchos, sempre dosando comédia e romantismo. A serviço da trama, um elenco, na grande maioria, bem escalado.

Os personagens são bons, com ótimas possibilidades de exploração, dramática ou cômica. As tramas paralelas costuram-se às principais. Existe uma unidade narrativa que conversa com a estética. A história, apesar de requentada, não destoa da atualidade – ainda que seja difícil de reconhecer pelas ruas um tipo como Tancinha, a bela de pouca instrução, com sotaque italianado, vivida por uma esfuziante Mariana Ximenes. É uma personagem que não emula a realidade e nem tem essa pretensão.

Realmente, não existem Tancinhas por aí, no mundo real. Mas, convenhamos, não existia nem em 1987, quando foi ao ar a novela que a originou, “Sassaricando” – Cláudia Raia foi muito criticada pelo sotaque e os exageros de sua interpretação, até o público se render a ela. Tancinha é um tipo que cai como uma luva para a comédia de situação. É para este fim que ela trabalha. A bela irreal dos sonhos de Beto (João Baldasserini) é a única capaz de tirá-lo de seu mundano universo de conquistas descartáveis.

Tancinha é uma personagem idealizada unicamente para servir a comédia romântica a que se propõe a novela. As cenas de Ximenes com Baldasserini são ótimas. Os dois têm química e seus personagens se completam. Malvino Salvador ficou com a parte menos cativante, Apolo, o bruto-romântico, que serve de contraponto a Beto, o atrapalhado-romântico. É mesmo pra fazer qualquer uma fica divididinha!

“Haja Coração” não funcionaria não fosse seu elenco bem escalado. O clã Abdala é divertidíssimo. Grace Gianoukas está fazendo um enorme sucesso com sua megera Teodora. E a dobradinha com Tatá Werneck é ótima. Fedora é, em minha opinião, o melhor dos três momentos da atriz-comediante-apresentadora em novelas (os anteriores foram Valdirene em “Amor à Vida” e Danda em “I Love Paraisópolis”). As falas de Tatá, declaradas sílaba a sílaba, parecem uma resposta debochada aos que criticavam sua dicção incompreensível nas novelas anteriores (este colunista inclusive).

Ainda que Aparício Varela seja feito de gato e sapato nas mãos da mulher Teodora, Alexandre Borges conseguiu escapar da mesmice dos tipos bobões de trabalhos anteriores (como em “Ti-ti-ti”, “Avenida Brasil” e “I Love Paraisópolis”). E se é para elogiar o elenco, tem que citar Cláudia Jimenez, Marcelo Médici, Marisa Orth, Chandelly Braz, Gabriel Godoy e o trio Malu Mader, Carolina Ferraz e Ellen Roche – esta última, uma grata surpresa.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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