"Tudo o que acontece de ruim na vida da gente é para melhorar."
Essa frase carregada de resignação é o mote da novelinha caipira "Eta Mundo Bom!", que a Globo exibe desde janeiro às 18h.
A máxima proferida frequentemente pelo protagonista Candinho (Sérgio Guizé) e por seu mentor, Pancrácio (Marco Nanini), reverbera muito bem no público.
Se a ideia do autor Walcyr Carrasco era levar uma mensagem de otimismo, com comédia pastelão, em um momento turbulento do país, o objetivo foi alcançado.
A trama, dirigida por Jorge Fernando, é atualmente a maior audiência da Globo, dando mais de 30 pontos de média no Ibope em São Paulo (cada ponto equivale a 197,8 mil espectadores) e batendo a novela das 21h, "Velho Chico".
O folhetim de época, inspirada em "Cândido", de Voltaire, e no filme "Candinho", de Mazzaropi, é a mais vista no horário desde 2011.
Este é o segundo sucesso de Carrasco no período de um ano. Em 2015, o autor fez "Verdades Secretas", às 23h, em que abordou prostituição e consumo de drogas.
Carrasco afirma não se importar com os números. "Minha conexão com a novela é emocional. Essas análises são do departamento de marketing. Se o autor ficar preocupado com quanto vai dar [no ibope], não vai dar." Ele falou à Folha por telefone:
É difícil manter esse distanciamento em relação aos números de ibope?
Fico feliz com o sucesso, mas não me prendo a ele. Na literatura falam "tal livro é ótimo". Quando vai ver, é ruim, mas dizem que é ótimo porque vende bem. E um ótimo livro pode vender pouco. Essa visão mercadológica pode afetar o autor. Tem que escrever não pensando em vender. Eu não esperava ter um sucesso desses, minha ideia era contar a história que desejava.
O contexto do país ajudou a novela por ela ser otimista?
Claro que queremos mensagem otimista, que toque as pessoas, quando se tem 1 milhão de desempregados, porque nesse momento o público corre o risco de ligar a TV e só ver notícias ruins.
Quando escrevi a novela, queria que a pessoa pudesse sentar e falar: agora vou sorrir. É um momento de sentar, sorrir. O melodrama da novela é assumido, uma forma de pensar a vida com leveza. As pessoas saem mais leves do sofá depois da minha novela.
Há vergonha em se fazer melodrama na TV?
É uma questão da cultura brasileira, latino-americana, muito fruto da intelectualidade. A universidade é muito crítica à estética que busque mais a forma do que o conteúdo, isso faz com que tenhamos preconceito com alguns gêneros, o melodrama, a comédia. As maiores bilheterias do cinema hoje são de comédias. Como se o cineasta fosse obrigado a fazer filme cabeça.
Qual o produto de exportação mais forte do Brasil?
A telenovela, porque ela assume o melodrama. Quando falo: vou fazer um drama assumido, estou investindo no conteúdo. As pessoas sentem até culpa por ter sucesso. Já vi atriz que fez fortuna com peça comercial dizendo: "Agora quero fazer peça séria". Como se aquilo de que o povo gosta fosse uma coisa feia. Já fiz coisas bem fortes, tenho Prêmio Shell de teatro, mas isso não me faz escrever sem olhar aquilo que o povo quer.
E como saber o que ele quer?
É intuição do autor. O público sempre nos surpreende. Uma coisa sei: desde a antiga Babilônia, o público quer uma história bem contada. Tento fazer com que em cada capítulo a pessoa saiba tudo que esteja acontecendo. A pessoa liga pela primeira vez em qualquer capítulo de 'Eta Mundo Bom!' e se situa na história.
Sua novela "Amor à Vida" mostrou o primeiro beijo gay em novelas, em 2014. Houve evolução de lá para cá em relação a esse tema?
Não. Acho que hoje o Brasil tem uma grande bancada evangélica [no Legislativo], que atua fortemente na repressão a essa situação. Não acho que evoluiu como deveria, falta muito.
Fonte: Folha
houve uma certa evolução sim: a transa gay de Liberdade liberdade
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